quarta-feira, 25 de abril de 2018

Santa Rosa Bacabal: a luta em vossas mãos...

Reunião com a Associação

Somos militantes em defesa dos direitos humanos. Ter acesso a terra é um direito humano e um direito social. Como militantes em defesa da luta dos trabalhadores e trabalhadoras rurais, apoiamos uma reforma agrária certa como deve ser feita – ou pelo menos como deveria, com gente e desenvolvimento sustentável, com agroecologia. Por isso apoiamos sempre os menos favorecidos e quase sempre também esquecidos e desprovidos de direitos de nossa sociedade. A luta parte da organização social camponesa em seus meios de produção agrícola cultural, com uma pedagogia simples, eficiente e popular falando a língua das comunidades e mostrando os caminhos para que elas possam seguir em marcha rumo à liberdade.
Casa em Bacabal
Com fundamentação jurídica na “Lei das Comunidades Tradicionais” e na Constituição Federal de 1988 – nossa carta magna, sabe-se que a terra é de quem mora e trabalha nela, pois uma terra improdutiva que não cumpre sua função social, esta deve ser desapropriada para fins de reforma agrária beneficiando as famílias que lá vivem e a utilizam como instrumento de sobrevivência. Mas a concentração, grilagem e expropriação de terras no Brasil ainda é um problema comum que deve ser combatido, esse fenômeno repetitivo vem suprindo as necessidades individuais e financeiras de latifundiários e empresas do agronegócio que olham a terra como instrumento de lucro, capital e poder. O Estado do Maranhão ainda é o segundo na lista nos índices de conflitos no campo, atrás apenas do Pará.
Protocolo do "Embargos de Declaração" -, Associação e STTR
Ultimamente, há pouco mais de três anos de Governo Flávio Dino, o Maranhão tem diminuído o número de despejos e reintegração de posse; pois não se resolve também um problema secular como este nem em quatro ou oito anos de mandato. É importante acentuar e lembrar que nos antigos “Diálogos pelo Maranhão”, nasceu no Governo Flávio Dino a “Secretaria de Direitos Humanos e Participação Popular - Sedihpop” -, entidade que tem tratado e demonstrado interesse nesses casos, um tão pouco polêmicos. Infelizmente nesse sentido de ameaças de despejos de famílias camponesas ainda existe inseguranças da parte dos lavradores – é normal; como é o caso da Comunidade Santa Rosa Bacabal – zona rural do município de Urbano Santos, Região do Baixo Parnaíba.
Zé Sousa e seu neto -, vítimas de despejo no Pov. Prata 
Que ultimamente assistiu e sofreu na pele um pedido de antecipação de tutela movido pelo imóvel “Fazenda Santa Rosa Agropecuária”, onde a Comarca de Urbano Santos determinou que as mais de 30 famílias moradoras do Povoado Santa Rosa Bacabal abram mãos de suas posses e vão embora deixando suas 1.500 hectares de terra que a família proprietária se diz dona. O prazo foi de um mês para os camponeses saírem do lugar onde sempre viveram levando os seus pertences e, para onde vão, não se sabe; pois a justiça brasileira nunca fez questão de apoiar os agricultores familiares, muito menos saber de suas vidas. “Aí estar a injustiça e a insensibilidade” – dizia um amigo jornalista e militante social. O advogado da “Associação dos Pequenos Agricultores Rurais do Projeto de Assentamento Santa Rosa Bacabal”, apresentou o documento “Embargos de Declaração”, que visa suspender e alterar a sentença do processo no primeiro momento.
Jose Antonio Basto e o casal Zé Sousa e D. Maria vitimas de despejo no Pov. Prata
O Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores e Agricultoras Familiares de Urbano Santos esteve dia 20/04/2018, numa calorosa reunião de apoio aos companheiros e companheiras agricultores (as), onde os mesmos se mostraram convictos e orientados a manter a resistência de qualquer formar, pisando firme na terra onde moram e trabalham desde tempos remotos.  

José Antonio Basto
Militante social pela reforma agrária

terça-feira, 10 de abril de 2018

O reconhecimento da obra de Sebastião Salgado e o reencontro de um camponês com seu passado de lutas

"Foices ao alto" - (foto: Sebastião Salgado)

Ele se reconheceria na famosa fotografia “Foices ao alto” do renomado fotógrafo Sebastião Salgado – este artista mineiro que foi internacionalmente reconhecido recebendo praticamente todos os principais prêmios de fotografia do mundo como prova de seu importante trabalho. Salgado que tem marca registrada nas técnicas em “preto e branco”. Quem diria aquele camponês se reconhecer em uma das fotos mais divulgadas e antigas de Salgado! Não se esperava um momento emocionante do velho Sr. Francisco Lopes dos Santos – vulgo Chico Mambira, rever-se novamente naquela fotografia, ele é o segundo da esquerda pra direita de chapéu com punho cerrado / braço erguido. Reconheceu-se e foi buscar sua esposa para lhe ver.
José Antonio Basto e Chico Mambira -, o mesmo da foto de Salgado
A foto foi utilizada como domínio público na capa do meu slide que prenunciava a “História da memória camponesa no Brasil”. Não fora por acaso que planejamos o Seminário de Formação Sindical com os Trabalhadores Rurais Agricultores (as) Familiares do humilde município de Belágua, Região do Baixo Parnaíba Maranhense, realizado em 16 de Março de 2018 – orientado e executado pelo “Grupo de Formadores Sindicais do Baixo Parnaíba”: Lúcia Vieira – Secretária Agrária da FETAEMA; José Antonio Basto – pesquisador e educador popular de Urbano Santos; Maria  Dapaz – Educadora Popular de São Benedito do Rio Preto e Desanildes Valentim – Educadora Popular de Urbano Santos. Levamos um tema um tão pouco polêmico e desafiador – uma provocação: “Terra, luta, Memória e Resistência do MSTTR”.
SLIDE
Durante o evento realizado na sede do Sindicato dos Trabalhadores Rurais Agricultores (as) Familiares de Belágua, tivemos um número suficiente de homens e mulheres do campo, a maioria da zona rural. Avançava-se nas análises de conjuntura com base na memória camponesa; pontos e trocadilhos do pensamento reflexivo que envolvia a situação atual das políticas sociais no Brasil – principalmente questões agrárias e trabalhistas. Acentos importantes foram apresentados em documentos de época no que diz respeito às ações camponesas nas décadas de 40, 50, 60, 70 e 80. Utilizando dados coletados pela CPT-MA, com fundamentação em duas grandes e históricas obras do Professor Alfredo Wagner: “Conflito e lutas dos trabalhadores rurais no Maranhão”, publicado em 1982 e, “Autonomia e Mobilização Politica dos Camponeses no Maranhão”, este com uma edição mais recente,
Livro I - do Prof. Alfredo Wagner
ilustrando um rico acervo de imagens e dados de conflitos agrários daquele tempo – um momento em que a luta começava na base e por terra; hoje se tem a terra, mas estamos perdendo os direitos conquistados lá no passado. O assunto abordado gerava um rico debate por parte de velhos militantes do movimento sindical e da (MEB – Movimento de Educação de Base) da Igreja Católica, levando em conta os acontecidos como os casos de violências e superação dos conflitos no campo nesta região Baixo Parnaíba -, inclusive o chocante assassinato de Zecandoca na década de 80 em Belágua e Bina Ramos do Povoado Surrão em Urbano Santos.
Ele se emocionara. E por pura ironia do destino reconhecer-se-ia na foto. Fez uma busca no passado e falou daquele episódio de 45 anos atrás -, durante a “Romaria da Terra” na Paraíba do Norte. Chico Mambira mora na Comunidade Pirinã – zona rural de Belágua, não detém de meios de comunicação tecnológica, reside num lugar distante de difícil acesso; vive com sua família da lavoura e dos frutos da terra, não sabe ler nem escrever é claro que também não sabia que aquela “fotografia” do qual faz parte, estaria disponível na internet, porém teve a humildade de pedir ao educador José Antonio Basto que a imprimisse para botá-la em um quadro e guardá-la como forma de boas lembranças das verdadeiras lutas de outrora.
Livro II - do Prof. Alfredo Wagner
Chico Mambira não conhece o Sebastião Salgado e nem Salgado lhe conhece, obviamente –, talvez uma ironia esta comparação, apesar de devermos entender do potencial cultural de cada um de nós, independentemente de fama, glória ou classe social. A foto está no “Museu de Maceió - AL e em outro “Museu de Paris”, mostrando a luta dos povos camponeses trabalhadores da terra – “a soberania política da organização social do campesinato na América Latina”. Tudo isso partindo do filme-documentário “O Sal da terra” dirigido por Wim Wenders e Juliano Ribeiro Salgado, o documentário retrata o talento nato do fotógrafo, sua trajetória que mudara para sempre a fotografia no mundo, com um “jeito de olhar as coisas simples, enxergando seu grande valor”. Durante uma de suas importantes fases artísticas, Salgado concentrou-se na documentação do trabalho manual em todo o mundo, inclusive ”Os garimpeiros de Serra Pelada” e os indígenas do Brasil, publicada sob o nome de “TRABALHADORES RURAIS”, prestando serviço em várias agencias do Brasil e da Europa.

Participantes da formação 
Não caberia ali naquele momento entrar em detalhes sobre a vida e obra de Sebastião Salgado, apenas deixá-los a vontade desfrutando uma imagem forte e perseverante que representa, sobretudo a força do “Movimento Camponês” em seus parâmetros de organização social e política – seguido do conteúdo abordado. Um desafio aparecia para ser encaminhado em outras capacitações de camponeses pelo Maranhão. “Foices ao alto”, já tinha sido utilizada em diversos seminários e cursos de formações; possivelmente poucos sabiam do significado da foto. Chico Mambira se reencontrou com seus amigos de batalhas apenas na lembrança – viajava na linha do tempo sobre sua ótica há 45 anos atrás. Pois graças ao reconhecimento imortal da obra de Sebastião Salgado o velho camponês se reencontrou com seu passado de lutas.

José Antonio Basto
Assessor de Formação Agrária – STTR de Urbano Santos-MA
E-mail: bastosandero65@gmail.com