terça-feira, 30 de junho de 2015

A DITADURA DA EXPROPRIAÇÃO DAS TERRAS RURAIS DO BAIXO PARNAÍBA



     
Segundo a Bíblia Sagrada a terra foi criada por Deus, mas ele não deixou nenhum atestado nomeando (A ou B) para ser dono dela... a natureza surgiu junto com sua formula natural. Nasceram os animais silvestres, as águas, os mares... em fim, tudo em 7 dias. Isso gerou dúvidas em um certo monarca do Sião, em dizer que Moisés foi um tolo nas afirmações do Gênesis que a terra foi preparada apenas em uma semana, o determinado rei chamado Mongkut defendeu em sua filosofia que o planeta passou milhares e milhares de anos para ser formado; duas versões existem até hoje: a criação e a evolução, cansamos de estudar essas coisas pelos bancos escolares mas continuamos em dúvida. Mas tudo bem, cada um com suas crenças filosóficas. Podemos talvez acreditar que no início os humanos já viviam sobre essa terra e tiravam dela o necessário para suas sobrevivências como comida e água. Depois de algum tempo o homem sofreu seu processo de modificação psicológica decidindo então que o espaço donde obtinha seu fundamental alimento, seria de sua propriedade... resolvendo-se tomar posse da terra. Foi daí que surgiu o atrasado grau de inconsciência, de intolerância... acreditando que a terra (um pedaço de chão)  a partir de então teria um dono, o próprio homem que a explorou e se explorou.

Na região do Baixo Parnaíba, leste do estado do Maranhão (um pedaço do mundo), área essa em quase toda sua estrutura coberta de Chapadões e Brejais – que concentra uma grande quantidade de nascentes e cabeceiras de rios, esse território livre foi invadido pelo programa agroexportador do eucalipto e soja. Boa parte dessas terras foram griladas favorecendo aos grupos empresariais representantes do capitalismo exacerbado – apoios políticos somaram-se a essas questões na época. Com suas forças capitais e econômicas destruíram o cerrado e quase toda biodiversidade, tanto a fauna quanto a flora. O Baixo Parnaíba foi primeiramente habitado pelos índios Tremembés, depois teve seu importante ciclo das fazendas de cana –de-açúcar, em seguida recebeu os retirantes do Piauí, Ceará e Pernambuco – ajudando a formar a cultura de nosso povo. Na década de 80 por exemplo, o território de intocáveis chapadas foi vítima da plantação destruidora do eucalipto da antiga empresa Florestal LTDA, gerando a partir de então um grande e infinito conflito agrário e sócio ambiental. Os camponeses reivindicavam as soberanias das posses das terras onde os mesmos exerciam suas atividades rurais e os campos de onde colhiam o bacuri. Os trabalhadores (as) rurais, baseando-se nas práticas da agricultura familiar como fonte de sobrevivência, tomaram consciência de que a luta pela terra, mesmo que poderia ser uma batalha cerrada, valeria a pena - após conseguir tão importante projeto seriam donos de seus próprios destinos. Aquelas terras eram das associações, mas por falta de interesse não foi possível realizar o que realmente queriam: uma reforma agrária massiva com gente e desenvolvimento sustentável.

A ditatura da expropriação das terras rurais do Baixo Parnaíba pelos setores do agronegócio é um problema social que maltrata tanto as comunidades rurais quanto as fontes naturais do bioma cerrado. A cada dia aparece caso de aviões pulverizadores que ateiam venenos tóxicos nos campos de eucaliptos, gerando doenças nas pessoas e nos animais que asseguram o equilíbrio do ambiente. As terras baixoparnaibenses são concentradas em uma linha de ponta econômica que não pensa em perder essa guerra de onde os trabalhadores rurais são vítimas desse impacto ecológico e social. Precisa-se de informações que a coisa não é bem assim... os camponeses são posseiros por tradição, os donos conhecedores da região do território que é livre desde séculos bem remotos de nossa história.

 
José Antonio Basto
Militante dos Direitos Humanos
bastosandero65@gmail.com
(98) 98890-4162

segunda-feira, 22 de junho de 2015

A chapada que lia e escrevia com a pena sobre o vento


O vento passava pelos bacurizeiros e pequizeiros, com sua força balançava os galhos das pitombeiras e candeias. A areia espalhava-se com esse forte vento levando as formigas saubeiras que ali trabalhavam incansavelmente em suas tocas; naquele ato formavam-se palavras e frases conduzidas pelos braços das árvores, essas mãos traçavam histórias passadas, contos do presente e do futuro. Quando era dia a chapada falava sobre o grunhido das unhas-de-gato, cachorrinhos e juritis cantavam ao longe e quando era noite ela adormecia com as cantigas do caburés, tudo parado, só se ouvia o roncado das palmeiras e dos buritizeiros nos brejais.

Ela sabia de tantas coisas que jamais esquecera de cada detalhe em suas narrações. Dissertava linhas sobre sua formação natural na geografia donde estava localizada a região e o território, recordou de quando a fauna e a flora era tão diferente na época dos tremembés, sem disputas, sem jogo... sem destruição da biodiversidade... naquele período tinha muita água, lagoas e grotiões falavam das fortes chuvas e de outros fenômenos,  os dias e as noites mudaram velozmente, sendo que muitas coisas também seguiram um outro ciclo.  As páginas perderam suas cores e vulgarizaram-se, a tinta já não mais celebrava a aquarela da vida, em telas de cânticos e recantos. O pensamento parou e se esgotou porque não havia mais conteúdo para seguir avante. Mesmo assim ela não deixou de produzir sobre o chão, aperfeiçoou sua técnica e a arte natural de sua própria arte de criação divina.

Aquela chapada sonhou que certa vez as pessoas morreriam de fome e de sede, pois tudo que os humanos necessitam como fonte de alimentação e respiração seria em verdade fornecido por seu espaço natural: os pomares, as águas... a terra. A inconsciência dos homens é a grande e triste prova da destruição hedionda, hipócritas e sem noção dos fatos que assola o planeta. A chapada despertou deste sonho, ficou cabisbaixa e chorou lágrimas de sangue, um pranto desceu escorregando por sua sensível face que por ventura também alimentou as fontes, os capins e macambiras. Passou-se mil anos e tudo que escrevera foi revelado; os tempos mudaram de curso, a profecia se juntou com os fatos no início, meio e fim. Então os escritos na terra vêm sobrevivendo a passagem do tempo e a chapada continua lá lendo e escrevendo.
 
José Antonio Basto
         (98) 98890-4162
 
 

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Grito pela promoção da Agrobiodiversidade e Biossegurança nas Comunidades Rurais do Baixo Parnaíba Maranhense


Comunidade São Raimundo
        As mudanças sociais e ambientais na Região do Baixo Parnaíba Maranhense são do saber de todos que começou a partir do impacto causado pelo agronegócio do eucalipto e da soja. Nesse sentido as organizações sociais da sociedade civil organizada vêm clamando desde os seus surgimentos, por políticas de apoio às causas das reformas de base em especial a Reforma Agrária. Pensar em um modelo de desenvolvimento para as comunidades rurais de nossa região, temos que primeiro nos preocupar com as alternativas a respeito dos processos agrícolas e as tradições extrativistas das populações tradicionais, uma vez que todo esse leque de valores já vem sendo ameaçado.

desmatamento para o plantio de eucalipto
        Promover a Agrobiodiversidade no Baixo Parnaíba talvez não seja um bicho de sete cabeças, mas com toda certeza será uma questão de pura determinação contínua daqueles e daquelas que gritam pela concretização dos direitos humanos e da vida. Penso que para se criar um programa de conservação de manejos sustentáveis e alternativos não dependem só das lutas e protestos, mas também do interesse dos próprios governantes -, uma vez que as leis possam pelos seus gabinetes. Esse projeto deve em seus determinados objetivos tratar, sobretudo do respeito às áreas territoriais dos povos das chapadas, seus mapas de caça e pesca e práticas na agricultura familiar de subsistência com utilização das sementes crioulas e tradicionais – tratando assim do patrimônio florestal e faunístico da região, assegurando a reprodução dos sistemas de produção segundo as especificidades socioculturais no ecossistema. Para isso é preciso ainda se preocupar com a biossegurança das comunidades – revendo a lei da Biossegurança garantindo assim a produção e comercialização dos produtos da roça, combatendo os cultivos transgênicos e aplicação de venenos tóxicos nos campos das monoculturas de soja e eucalipto, um vez que todos esses desacatos ameaçam a vida e a soberania alimentar das comunidades, causando vários danos irreversíveis ecológicos e sociais.

família camponesa da comunidade Prata do Hilton - U. S
        Todo esse floreado é pra deixar bem claro sobre a problemática sustentada pelo capitalismo selvagem em sua ganancia por lucros e lucros, usando seu poderio econômico para adquirir mais terras deixando para traz um legado hediondo de crimes ecologicamente perigoso não apenas para os povoados, mas também para as populações que vivem nas cidades; sendo estas dependentes dos bens naturais das comunidades como produtos agrícolas e água. As nascentes dos rios baixo-parnaibense estão ameaçadas e muitas delas já desapareceram. O agronegócio toma conta de áreas incalculáveis, os camponeses na defesa dos seus direitos vão para o enfrentamento – é daí então que surge intensos conflitos agrários envolvendo famílias de trabalhadores rurais, proprietários e grupos empresariais. Cabe nessa proposta aos governantes e donos da lei, como os sistemas executivos, legislativos e judiciários e o Ministério Público estabelecer mecanismos para garantir a segurança das famílias atingidas em tais situações de violações dos direitos humanos.

        As chapadas merecem viver como viviam antes. Como é triste ver bacurizeiros e tantas outras espécies sendo derrubadas, virando carvão dando lugar para o plantio de eucaliptos e soja. A violência no campo do Baixo Parnaíba Maranhense é uma página quase esquecida pelos órgãos jurídicos de proteção a pessoa humana. Muitos casos de desrespeitos e impunidades são constatados no dia a dia de nosso povo.
lagoa da comunidade Santa Maria - U. S
A Reforma Agrária é a ponta marcial das reivindicações nas atividades dos movimentos sociais, acredita-se que através dela nas titulações e arrecadações fundiárias das terras doadas aos camponeses, melhorias virão sim, com certeza –, concretizando todo esse conjunto de privilégios; realizando então um sonho adormecido há tempos reivindicado sempre pelo movimento social.

José Antônio Basto
Militante em Defesa dos Direitos Humanos
email: bastosandero65@gmail.com

segunda-feira, 1 de junho de 2015

CARVOARIA DE EMPRESA EMPREITEIRA NAS IMEDIAÇÕES DA COMUNIDADE RURAL DE CENTRO SECO – URBANO SANTOS, BAIXO PARNAÍBA MARANHENSE

carvoaria - Pov. Centro Seco - U.S // imagem: J.A. Basto

As carvoarias são ameaças à vida, ao trabalho social, fauna e flora das comunidades rurais do Baixo Parnaíba Maranhense. O veneno da fumaça adentra mato a fora expulsando os animais silvestres que dependem diretamente das florestas e atingindo sobretudo a saúde das pessoas que moram nos povoados. Soma-se a problemática os vários casos de maltrato aos humildes trabalhadores rurais assalariados que operam o serviço braçal em atividades parecidas com trabalho escravo, os peões entram nos fornos de carvão ainda pisando em brasa sem proteções adequadas no ofício desumano, às vezes sem nenhuma orientação de técnicos de segurança, eles fazem a seu modo para sobreviver - se sobreviver por alguns tempos. As baterias de carvão espalhadas pelo Baixo Parnaíba – em especial no município de Urbano Santos não passam de desacato aos direitos humanos e da vida, nos Povoados de Urbano Santos: Jacú, Joaninha e Araras elas foram instaladas em plena chapada aberta, nessas áreas a natureza foi totalmente destruída pelos correntões que sem dó extraem violentamente as espécies do cerrado para serem transformadas em carvão vegetal: bacurizeiros, pequizeiros, candeias, babatimão, faveiras, guabiraba, janaguba, folha larga, pitomba de leite, mororó e muitos outros tipos raros das chapadas  viraram carvão. Depois disso os campos foram substituídos por mudas de eucaliptos gerando então um outro grande problema para a biodiversidade e para a vida social das comunidades. As chapadas do Baixo Parnaíba merecem mais respeito, mais atenção dos órgãos competentes e dos movimentos sociais que parecem adormecidos; saibam leitores que sem a natureza não podemos viver, sem o cerrado de pé não existe mais chuvas -, pois estamos vivendo essa experiência difícil, efeito natural causado pelo impacto ambiental. Leonardo Boff, teólogo e ecologista, pai da Teologia da Libertação alertou em seus escritos agora muito pouco tempo atrás sobre as relações climáticas dizendo que “A natureza limitada não aguenta um projeto de destruição ilimitado”. Estamos ainda no mês de maio, em pleno inverno mas as chuvas estão escassas e os rios a cada dia secando e expirando completamente como é o caso do Rio Boa Hora. Como vai ser daqui a 30 anos, como será a realidade vivida pelos nossos filhos e netos nesse tempo? Será que nessa época ainda existirá os poucos exemplos de reservas biológicas que restam, será que nesse tempo as pessoas ainda poderão tomar suco de bacuri? O capitalismo selvagem só visa lucros e lucros, não está nem aí com o futuro da humanidade, usufrui do poderio econômico e artes manhas políticas para assim atingir seus objetivos sem a mínima atenção para quem está sofrendo ou não com seu legado de destruição e violência. O território do Baixo Parnaíba, em nome de suas comunidades tradicionais, esperam um outro mundo possível com igualdade e solidariedade,  aguardamos isso com ansiedade que o sonho não possa ser utópico, ilusão... pois vivemos essa realidade na pele... no dia- a- dia e afirmamos que infelizmente as coisas a cada momento que passa vem ficando mais pior do que está. Abaixo o impacto ambiental e social e a violência no campo do Baixo Parnaíba. Essa causa não é uma questão só minha, nem sua, ela é de todos nós!

José Antonio Basto
militante dos direitos humanos
bastosandero65@gmail.com