quinta-feira, 28 de agosto de 2014

São Raimundo: uma saudade da velha culinária e do seu povo hospitaleiro


Eu e Mayron do Fórum Carajás na casa da Francisca almoçando pato caipira
Hoje, 27/08 -, por mera consciência atendi em meu trabalho como orientador dos camponeses no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Urbano Santos a Senhora Rosilene, moradora no Povoado São Raimundo, prima da Francisca, presidente da associação da comunidade. Aproveitei para mandar lembranças àquelas pessoas amigas, foi daí então que senti saudades da velha culinária e do seu povo hospitaleiro. Pensei nos peixinhos do riacho que Francisca Faz amoquecados, as galinhas caipiras com leite de côco, pato ao molho pardo, leitão a pururuca e sucos naturais.
pato ao leite de coco preparado por Francisca
A querida comunidade de São Raimundo é conhecida por ter uma associação comprometida com a luta em defesa da Reforma Agrária a favor dos direitos humanos e da vida. É uma região de chapadas com muitos bacurizeiros e pequizeiros, as casas dos moradores ficam na encosta da parte elevada do morro, nas proximidades do riacho que vem do Bom Princípio. Antigamente o Povoado São Raimundo não era muito conhecido pelo fato do difícil acesso das pessoas que ultrapassavam caminhos cheios de avalanches até chegarem lá. No inicio da luta pela terra companheiros de militância social como o Wilson Sousa e o Sr. Nonato do STTR na época, batalharam junto à associação numa peleja que até agora tramita nos órgãos fundiários. Respeitosamente falando, tenho um carinho muito grande por aquela população, desde as crianças que brincam alegres nos terreiros aos mais velhos que tem suas mãos calejadas prova do trabalho honesto para o sustento de suas famílias. Por duas vezes levei e organizei dois grupos de alunos para conhecer o projeto do Fórum Carajás que procurou desenvolver o processo do manejo do bacuri e espécies das chapadas. A primeira turma foi em 2011 (16 alunos) da Escola Comunitária Santa Maria Bertilla, pré-adolescentes que tomaram consciências e tiveram uma experiência exemplar a respeito das questões rurais. Caminharam pela chapada e tomaram banho no rio e, para não fugir do assunto, provaram e souberam da grande importância dos pratos tradicionais da zona rural. A última turma foi no ano seguinte em 2012 -, dessa vez o terceiro ano da mesma escola conheceu na íntegra e passaram por aquela aventura numa toyota, lembro que a viagem foi cheia de tropeços, era no inverno e as chuvas estavam fortes, mas deu tudo certo. Acredito que tivemos muitos proveitos, pois quando chegamos à escola preparamos um seminário com as fotos que trouxemos, vídeos e a experiência na comunidade, até hoje os alunos lembram das viagens.
Hoje em dia São Raimundo já conquistou bastante, sabe-se que ainda não foi tudo, mas avançou muito. Tem escolas, projetos de galinha caipira, roças e o manejo do bacuri. É uma comunidade modelo na Região do Baixo Parnaiba Maranhense pela preservação da cultura de seu povo, pelo respeito com as pessoas, humildade e, sobretudo a militância nos direitos humanos e consciência ecológica. No tempo de buriti as mulheres fazem um doce muito saboroso do fruto, a poupa do bacuri também é muito divulgada como forma de desenvolvimento sustentável. Como já dissera antes, São Raimundo é um pedaço do mundo, onde os mais novos aprendem com os mais velhos serem cidadãos e cidadãs de bem que trabalham no dia-a-dia, preservam sua cultura e a mãe natureza e não se calam quando lutam pelos seus direitos sociais.

(José Antonio Basto)
Urbano Santos, 27-08-2014

terça-feira, 26 de agosto de 2014

A lírica infanto-juvenil de Castro Alves


Castro Alves - aos 15 anos
Por que Castro Alves foi um poeta sempre jovem? Porque não envelheceu jamais. Morreu muito novo aos vinte e quatro anos de idade, nascido em 1847, na Fazenda Cabaceiras distrito de Curralinho na caatinga baiana,  foi marcado pelo romantismo e pelos cacoetes do romantismo, dono de uma poesia jovem, quase juvenil -, liricamente juvenil e entusiasticamente jovem, é o que se ver em “Espumas Flutuantes”,  sua única obra publicada em vida.
O adolescente Castro Alves começou sua primeira experiência poética ainda quando estudava no antigo Ginásio Baiano em Salvador, um poema que retrata bem esse entusiasmo juvenil da época é “O laço de fita”-, escrito quando ele tinha apenas quinze anos: “Não sabes, criança? Stou louco de amores.../ Prendi meus afetos, formosa pepita./ Mas onde? No tempo, no espaço, nas névoas? / Não rias, prendi-me num laço de fita”. Os devaneios precoces estão intimamente ligados ao sentimento amoroso e aventureiro, o amor que invade o pensamento é maior do que qualquer coisa, podendo até então usufruir de exageros explícitos, como a simples loucura e a morte. A poesia infanto-juvenil de Castro Alves diferencia-se de outras produções pelo fato de que sua juventude foi grifada por fatos que marcaram sua vida: a morte da mãe vítima de tuberculose, a loucura do irmão, a mudança da família do sertão baiano para a capital Salvador foram fatos que fizeram reviravoltas no álbum do artista. Castro Alves talvez não descendesse de uma linhagem de poetas, mas a vocação falou mais alto quando era ainda pré-adolescente. O jovem trovador se revelava um romântico por vocação, ao mesmo tempo, aquele que seria o futuro poeta dos escravos se dedicou e trabalhou extraordinariamente a favor da raça escravizada, tendo como experiência os tempos que passara na fazenda do pai e do avô materno. Seu primeiro poema publicado na imprensa “Canção do Africano” -, demonstra a capacidade de um adolescente que dedicaria toda sua vida contra a escravidão negra no Brasil. Castro Alves não viu a libertação dos escravos em 13 de Maio de 1888, mas, diga-se de passagem, que foi o abolicionista de maior valor nessa militância que se concretizou na liberdade dos negros e o anúncio da república que veio logo mais em 1889. Castro Alves quando viajou para São Paulo realizou-se com aquilo que queria fazer de verdade: a boemia com os colegas de universidade, Rui Borbosa, Joaquim Nabuco e o professor José Bonifácio; num tempo quando ninguém falava de abolição da escravatura no Brasil, Castro Alves em seus poemas já tratava disso ou pelo menos nesta direção. Uma luta que começou na Bahia e foi para o Rio de Janeiro e também para São Paulo, a lírica de um revolucionário hoje patrono da UJS – União da Juventude Socialista, passou,  a partir daquele momento ser uma arma de luta contra todo tipo de opressão dirigida aos escravos. O Jovem poeta Baiano deixou sua marca incomparável no panteon da história por ter sido um poeta românico que pretendia tratar não apenas da escravidão no Brasil, mas também em algumas partes do mundo, como na própria África. A insatisfação do poeta se refletiu por toda sua existência, sua vida na verdade foi de pura militância, isso ficou retratado quando ele desafiou a classe escravocrata e conservadora recitando seu mais célebre e famoso poema “Navio Negreiro” –, um ato histórico que marcou as paginas da militância abolicionista no século XIX.
Um romântico que cantou as flores, as mulheres e principalmente a liberdade, foi este quem escreveu poemas belíssimos que atravessaram as barreiras do tempo, a lírica amorosa e revolucionária de Castro Alves nos faz voltar a um tempo importante em que as tiragens dos livros eram extremamente resumidas. Ler várias vezes seus versos consagrados não é cansativo. Uma poesia difícil de interpretar, repleta de pontos de acentuações gramaticais, ninguém jamais escreveu com tanta perfeição e com tantos pontos de exclamações, reticencias, interrogações, travessões, ponto e vírgula e assim sucessivamente. Castro Alves talvez não tenha sido um bom aluno no curso de direito, mas agitações e literatura eram com ele mesmo. Atingiu seu apogeu como vate imortal da LITERATURA BRASILEIRA. Hoje é patrono de uma das cadeiras da ABL – Academia Brasileira de Letras, é um vulto fundamental de nossa cultura literária -, o poeta da juventude, do amor, da liberdade, da luta por direitos iguais este é Castro Alves é, sobretudo um cantador das dores da humanidade, por isso sua grande diferenciação dos outros poetas do seu tempo. A poesia infanto-juvenil de Castro Alves é ainda uma voz que clama por justiça social na reflexão do preconceito social que ainda não foi abolido de nosso meio, nessa mesma vertente, diga-se de passagem, que foi o poeta que retratou a mulher amada de carne e osso na sombra de uma musa sensual, verdadeira e original e não apenas ficcionista.

(José Antonio Basto)
*Poeta e crítico
                                                                            

terça-feira, 19 de agosto de 2014

ÉS TU AINDA


És tu ainda meu amor
A luz da eterna flor
Que enfeita meu jardim
És tu ainda minha vida
Minha paixão, minha querida
Foste feita para mim.




És tu ainda a mulher
Aquela de minha fé
Que juntos vivemos em paz
És tu ainda a musa
Meu amor jamais recusa
Tua sombra me satisfaz.

És tu ainda a menina
Que a luz do mundo ensina
O quanto me dediquei
Sonhos de pura ternura
Arrancos da amargura
Lembra dos versos que te dei?

És tu ainda a canção
Que abala o coração
 Do condenado poeta
És a estrela do oriente
A voraz negra serpente!
Que vem atentar-me -, discreta!

És tu ainda a grandeza
Dona de toda beleza
Da vida tem o sabor!
És tu ainda minha canção
Dona de meu coração
És tu ainda meu amor.

José Antonio Basto

terça-feira, 12 de agosto de 2014

 
Arrancos de um amor frustrado!
(soneto)
 


Hoje a lua está bela, gótica, violenta e em paz,
Com o clima de recordar as ternuras de um grande amor,
Frustração, sonho... pranto, alegria e dessabor –,
Momentos e minutos que ficaram para traz.




Foram tempos de coragem, medo e mais...
Entre as glórias do vinho a saborear,
Afagos de um eterno beijo a degustar!
Tome essa taça de sangue escura e sagaz!

 Sei que vou morrer angustiado e inocente
Por ter-te - como musa em minha louca idade –,
O tempo passou como um vento tão rapidamente,

 Tu devoras minha alma em chamas e tempestades!
Esses versos tristes lerás e cairás doente,
Ao saber que não lutamos por tal felicidade.

José Antonio Basto