quarta-feira, 24 de setembro de 2014

A política atrasada do eucalipto em Urbano Santos e Baixo Parnaíba



Plantações de eucaliptos em Urbano Santos-MA
É muito fácil entender que as plantações de eucaliptos no município de Urbano Santos e em todo Baixo Parnaíba Maranhense encabeçada pela empresa multinacional “Suzano Papel e Celulose” é uma política atrasada em comparação com a nossa tradicional agricultura familiar praticada desde tempos bem remotos. A Suzano representa em seus mares de eucaliptos o capitalismo selvagem que abusa das comunidades tradicionais em nossa região; já agricultura familiar prega em seu bojo o desenvolvimento rural sustentável, decerto não nos alimentamos de eucaliptos, de fato, comemos arroz, feijão, melancia, abóbora, quiabo; bebemos suco de bacuri e gostamos de pequi. O desenvolvimento sustentável na segurança alimentar é o caminho para uma sociedade mais justa e consciente sempre na proteção do meio ambiente e dos recursos naturais. O sistema neoliberal que utiliza de sua força capital para oprimir os trabalhadores rurais, estes são liderados pelos setores conservadores de latifundiários e grupos empresariais onde na verdade nunca fizeram nada pelas comunidades que lutam há séculos por uma Reforma Agrária de verdade.
O município de Urbano Santos é pólo da Suzano desde a década de 80, a maioria das terras pertence a ela e são utilizadas para a plantação desses monstros verdes onde até os passarinhos recusam adentrar nessas áreas sem respiração. Muitos são os conflitos registrados na zona rural de Urbano Santos envolvendo associações e a Suzano. Lembro que a parir do ano de 2001 até 2008, as comunidades estavam no fogo da luta contra o agronegócio; foram várias reuniões com o apoio das entidades em defesa dos direitos humanos realizando encontros e seminários incluindo até marchas e tomadas de estradas para chamar a atenção dos órgãos competentes e da mídia com o intuito de mostrar a realidade do avanço do eucalipto e da soja não apenas em Urbano Santos mas em muitos outros municípios da Região do Baixo Parnaíba. Essa luta em defesa da vida e das questões ambientais tendo como precursor o movimento social do município de Urbano Santos ganhou popularidade com poucos dias depois que a antiga Florestal LTDA chegou e se instalou por aqui, como podemos citar por exemplo a “Ação popular das CEBs nas derrubadas dos fornos da Empresa Maflora instalada no Povoado Juçaral no início dos anos 90”. Em 1992, a Paróquia Nossa Senhora da Natividade de Urbano Santos com a orientação da Diocese de Brejo em nome da CPT organizaram as CEBs (Comunidades Eclesiais de Bases) e outros associações de moradores do município e lugares vizinhos para a realização do histórico e importante “I Congresso de Trabalhadores em Defesa do Baixo Parnaíba” com o lema “Terra, vida, trabalho e Reforma Agrária”. Temas esses que nos faz refletir hoje em dia sobre o calor e otimismo das lideranças daquela época em se preocupar com o progresso das comunidades e combater os sistemas que assolam os camponeses, esse evento ficou para a história. Hoje as comunidades e os movimentos sociais na Região do Baixo Parnaíba talvez não tenha mais o mesmo pique daquelas atividades realizadas na época, mas mesmo assim devemos alimentar a ideia de que os trabalhadores são os verdadeiros donos da terra. A terra é para plantar alimentos: mandioca, milho, maxixe... em fim... a terra é nossa mãe, sem ela não conseguiremos viver; o eucalipto não é daqui, a Suzano não sabe e nem sente as dores e muito menos nunca supriu as necessidades de nossa população, uma vez que seu imenso patrimônio lucrativo fica apenas nas mãos de seus funcionários  e gerentes de negócios.
As terras de Urbano Santos é para fins de Reforma Agrária de nossas comunidades que estão esperando por arrecadações e titulações há décadas, quase cansadas, queremos a distribuição da terra! Essa política atrasado da plantação de eucaliptos nunca fez nada pelo nosso povo, pelo contrário causou conflitos, secou rios, riachos e mananciais, expulsou os animais de seus habitats naturais, desacatou os direitos humanos cercando até cemitérios. Isso basta! Sonhamos ainda com o reflorestamento de nossas chapadas, com a produção de alimentos da agricultura familiar que assegura mais de 65% do alimento que vai para nossas mesas, precisamos lutar em favor da vida, precisamos sonhar com um mundo melhor para os menos favorecidos representados por aqueles que sempre tiveram seus direitos negados: homens e mulheres trabalhadores e trabalhadoras do campo, com todo esse romantismo concreto recordo conscientemente do lema do “9º Fórum Social Mundial” que aconteceu em Belém-PA, do qual estive presente, servindo como luva para esta causa, o mesmo dizia: “UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL”.
 
José Antonio Basto
23/09/2014
 - Militante dos Direitos Humanos
(98) 8890-4162

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Encontros e desencontros da comunidade Porto Velho, município de Urbano Santos-MA


local onde foi encontrado vestigios
Há muitos anos atrás quando eu era menino, ainda não muito interessado por pesquisas, lembro que conversei com o velho saudoso e já falecido, o Sr. Chico Quilarindo, uma figura extremamente misteriosa e cheia de sabedorias, usava um relho de couro de boi e dizia que era para surrar lobisomem. Ele parecia com aqueles magos dos contos de fadas medievais, usava barba e cabelos compridos, Chico era morador da comunidade Porto Velho, em uma de suas narrações, lembro que contara que seu avô tinha participado de uma certa guerra naquelas imediações, conhecida como “Guerra do Bem-te-vi”. Então eu ficava curioso e como sempre gostei disso perguntava pra ele que guerra era essa. Foi daí que recordei e acabei descobrindo que a tal guerra foi realmente a Guerra da Balaiada ou talvez os cacoetes que restaram desse movimento conhecido também como insurreição dos balaios (1838-1842).
buritizeiros dos cercados das antigas moradias
Uma coisa interessante que achei em minhas pesquisas foi a citação no livro álbum “Quilombo – Tradições e cultura da resistência” na parte que explica sobre as comunidades remanescentes de quilombos demarcadas no território nacional, onde encontrei o nome da comunidade “Porto Velho” -, município de Urbano Santos-MA, na Região Nordeste, na tabela de numeração nº 701, página 193, onde também  Belágua, antes está citada na numeração 700 e que poderia ter sido um quilombo do município de Urbano Santos quando a cidade ainda era uma vila: Mocambinho ou Ponte Nova, Belágua foi emancipada em 1997, sendo que a mesma foi povoado de Urbano Santos por muito tempo. Mas tratando-se de Porto Velho, Chico contava a história de um pai e um filho que moravam lá onde hoje em dia é um bar de propriedade do Sr. Dondim, no local percebe-se ainda um ar de lugar antigo com valas e taperas. Eles dois pai e filho moravam sozinhos, o velho pai sabia de mandingas e mágicas, era o período da guerra, o velho era todo marcado de balas, seu corpo segundo as afirmações do Chico, era marcado por golpes de facas e furos de balas -, mas ele não sentia nada. Contara que o velho desaparecia nos meios dos caminhos e fazia sair água das bocas das espingardas e revolveres que eram apontadas para ele, em fim... coisas místicas que dava até medo em ouvi-las. Muitos pés de mangas, babaçu e azeitona existem por lá, o lugar das antigas moradias parece mesmo centenário. Um fato interessante que aconteceu nesse lugar foi a história do Zé Loló -, um senhor filho da antiga proprietária do lugar, a Dona Loló; Zé um dia foi arrancar minhocas para pescar e ao cavar ele descobriu uma caixa de cobre próximo às margens do Rio Mocambo, dentro da caixa tinha cascas de balas, uma arma muito antiga e já enferrujada, petecas de chumbo e um canivete... tudo coisas de séculos passados. Esses objetos foram vendidos muito baratos para certa pessoa que por lá apareceu e com certeza viu o valor histórico e cultural que as peças tinham. A outra questão que coincide o fato de Porto Velho ter tido a presença de escravos no período da Balaiada é porque o povoado é vizinho da outra comunidade conhecida como “Escuta”, mas por que esse nome? Chico contara que o nome escuta devia-se o fato dos insurretos escutarem o barulho das embarcações sobre o Rio Mocambo que estavam a procura dos rebeldes, os revoltosos escutavam e avisavam os companheiros do perigo, adentravam-se então nas matas, amocambavam-se, daí o nome do rio “mocambo” e escondiam-se dos guardas legalistas do império, entrincheirando-se. Paralelo com o Povoado Escuta do outro lado do rio está a comunidade Baixa Grande, onde existe um cemitério secular que pode ser uma das provas consistentes da memória de outras gerações em nossa região.
Rio Mocambo: local das trinxeiras
A comunidade tradicional de Porto Velho hoje não é vista como quilombola, mas tem ligações ancestrais no que se diz respeito ao memorial do nosso povo. Os atuais moradores vivem da roça de subsistência, da criação de gado e outros pequenos animais como galinhas, capotes e porcos num sistema de desenvolvimento rural sustentável na agricultura familiar, tem áreas de brejais com muitos buritizeiros, nas margens do rio, podemos encontrar espécies raras de plantas e frutos como o murici da beira do rio, olho de boi, pitomba-de-leite e cajuí. Porto Velho fica situado há poucos quilômetros da sede de Urbano Santos, sendo uma das comunidades mais próximas, mas a estrada que lhe dá acesso ainda é rudimentar. A comunidade tem um valor importante completando-se nos breves encontros e desencontros de nossa tão rica e ainda desconhecida historia de Urbano Santos e Baixo Parnaíba.

(José Antonio Basto)
 Poeta e pesquisador
Urbano Santos-MA, 09/09/2014


terça-feira, 9 de setembro de 2014

Paixão adormecida


I
Quantos beijos no jejum
Quantas lágrimas derramadas
Saudades na solidão...
Saudades de ti amada.

II
Meus versos de agonia,
Em chama de noite escura
Repletos de cantos tristes
                                                           No estágio da loucura.
III
Rainha da natureza
Ó minha adorável flor!
Venha beijar-me outra vez
E curar a minha dor.

IV
Só de ti sinto saudades
Mas o tempo foi barreira
Que atrapalhou nossas vidas
Esta lembrança inteira.

V
Os míseros corações
Abalaram o meu viver
Fazendo com que agora
Alimentasse o sofrer!


VI
Sofri a pena dos sonhos
Entre os laços da amargura
Chorei lágrimas de sangue
Em cenas dessa ternura.

VII
Retornei aos velhos tempos
Em nossa eterna história
Nossos minutos felizes
De fogo, perigo e glória.

VIII
Cante comigo agora
Abrace-me, por favor!
Porque se não vou morrer
Vítima desse  amor!

IX
Fui condenado em papel
Na lira que te ofereço,
Jamais por toda existência
De tua face me esqueço.

X
Boa noite mais uma vez!
Amo-te por toda a vida
Saiba que ainda existe aqui,
Uma paixão adormecida!

José Antonio Basto
Setembro de 2014








terça-feira, 2 de setembro de 2014

Leitãozinho ao molho pardo na Comunidade São Raimundo


da esquerda pra direita: Eu, Dona Raimunda, Selma e Domingos
Estive a convite em São Raimundo, zona rural de Urbano Santo para saborear um leitão ao molho pardo na residência dos amigos: Domingos e Selma. Eu estava no Povoado Boa União a serviço do Colégio Múltiplo da minha querida turma do Magistério à distância, pessoas que além de alunos e alunas são amigos e amigas que compartilhamos conhecimentos juntos. Mas como é quase impossível viajar para a Boa União e não poder ir ao São Raimundo, Selma por mera coincidência me fez um irrecusável convite para almoçar em sua casa um leitão a pururuca, sendo este prato, uma de suas especialidades.
A aula terminou por volta do meio dia, dona Raimunda da Boa União estava consciente que eu iria almoçar em sua casa, mandei um recado pra ela por minha aluna Erenice que não precisava se preocupar comigo. Peguei minha velha moto e enfrentei as avalanches entre os dois povoados, atravessando as encostas dos morros e ultrapassando riachos e ladeiras. Passei por uma plantação de batata-doce já na entrada de São Raimundo, fiquei impressionado, visitei a casa de Dona Maria logo no inicio, uma das moradoras beneficiárias do programa do governo federal “Brasil sem Miséria”, conversei um pouco com ela e tomei um cafezinho enquanto a mesma debulhava feijão. Segui viagem até que cheguei na casa do Domingos. Um tempo de chuva estava se formando para o lado do nascente, mas a fome era maior que o medo da futura chuva que caiu com vontade sem cessar, cheiro de terra molhada, uma benção -, talvez! O certo é que Selma serviu o almoço “leitão a molho pardo com arroz branquinho acompanhado de salada dos legumes de sua horta do quintal” tudo estava suculento, quando começamos a almoçar a chuva ficou mais forte, uma carne saborosa com pimenta malagueta e farofa de farinha de puba, repeti duas vezes, quase passo mal. Quando terminamos de almoçar, Selma trouxe um suco de bacuri bem geladinho -, pois a safra desse fruto das chapadas foi boa e significativa esse ano, tanto no São Raimundo, quanto no Bom Princípio, Bracinho e região. A chuva não parava e a cada momento ficava mais potente, os pingos pareciam pedras no teto da casa. O horário já era mais ou menos umas treze e meia, como eu não voltaria mais para aula na Boa União, baixei uma rede e tirei uma boa soneca para descansar. Percebi que tudo ficou calmo, a carne de porco parece que deu sono em todo mundo, todos adormeceram e sentiram grande preguiça. Mas era ora de voltar para Urbano Santos, deixar o São Raimundo e a  lembrança de uma boa refeição natural de nossa região. Despedi-me de todos e sai no sereno. Passei de volta na casa da Francisca, mas ela não estava lá, tudo fechado – apenas os bichos no terreiro, talvez estivesse em alguma atividade em defesa dos direitos humanos e da vida, ou mesmos para a cidade.  Quando eu voltava as pessoas acenavam da janela com as mãos, muitos curtindo fumaça de casca de babaçú para espantar os mosquitos (maroins) que assentam principalmente em crianças após um sereno. Parei mais uma vez no comércio da casa azul, comprei algumas balinhas e tomei um refrigerante para ajudar na digestão, bati um papo com a mulher dono do estabelecimento, mas pouco tempo, o sol virava-se rápido. Parece que o São Raimundo está mudado e ainda bem que é pra melhor, mudou mesmo, o tempo passa e ninguém percebe. Aquela amada comunidade humilde e hospitaleira, defensora das causas ambientais que espera por um projeto de assentamento. O leitão a molho pardo na casa de Domingos me fez recordar as tantas vezes que fui recebido com carinho por aquela gente, amigos de batalha que não se cansam jamais na luta por Reforma Agrária.
A fartura de animais cresceu no São Raimundo nesses últimos tempos, alguns moradores fizeram projetos do agro-amigo pelo Banco do Nordeste do Brasil para a criação de animais, porcos, galinhas e roças; como foi caso do Domingos que fez um crédito no banco para criação de suíno onde foi bem sucedida sua produção, pois foi de lá que saiu o nosso almoço tratado nesse texto. Voltei para minha casa, com a consciência de dever cumprido por ter participado de mais uma excelente ocasião na casa de amigos. “O leitãozinho a molho pardo na comunidade São Raimundo vai ficar em minha mente por muitos tempos, assim que me lembrar da comunidade e das pessoas que conheço. Pois sempre que recordo dá água na boca e bate uma saudade de voltar novamente.

(José Antonio Basto)
Utbano Santos-MA