terça-feira, 24 de março de 2015

Lamento do cerrado


Estou morrendo com sede,
Meus rios estão secando,
Pássaros já não voam mais
Terra e água é só veneno!
Que desgraça! Essa situação
Em que me colocaram,
Meu povo chora com fome
Porque o agronegócio não nos
Oferece nada... nada!
A miséria é demais!
As grotas e lagoas não tem mais peixes,
Os rios nem se falam!
Cadê o tatu das chapadas?
Cadê o peba e a cotia?
Cadê os bacuris e pequis?
Cadê a mangaba?
Cadê toda fauna e flora?
Tudo desapareceu!
Os correntões levaram, devastaram...
Não vejo mais nada, nada vejo...
Minha natureza em tempos de outrora,
Nessa louca alucinação
E ganancia pelos lucros
De expropriação das terras
Com o eucalipto e a soja aqui no Baixo Parnaíba
Infelizmente parece que
Todo mundo vai morrer a míngua
Na verdade não parece... é pura realidade mesmo,
No mesmo campo haveremos de expirar
Porque está faltando água para todo mundo
Aqui e em lugares distantes
As doenças crescem a cada dia
A biodegradação também
Em seu além-mar...
Não consigo respirar!
Em meio a todo esse processo
De destruição e avassalação da vida;
De desacato aos direitos humanos...
De impacto ambiental
Sem respeito a biodiversidade
E a ecologia...
Precisamos acordar,
Entender e sobretudo sonhar
Nesse grito que ecoa
De que UM OUTRO MUNDO SERÁ POSSÍVEL!

José Antonio Basto
- Nas palavras do cerrado do Baixo Paraíba Maranhense


terça-feira, 17 de março de 2015

A expropriação das terras, conflitos e lutas dos camponeses no Baixo Parnaíba


O livro “CONFLITOS E LUTAS DOS TRABALHADORES RURAIS NO MARANHÃO”, de Alfredo Wagner, publicado em 1982, mesmo ano do meu nascimento – quando na época o saudoso Pe. Xavier Gilles de Maupeou d`Ableiges coordenava a CPT – Maranhão, pois relendo pude perceber que a obra deixa bem claro em sua página 09 (nove) ao se tratar do subtítulo “CONFLITOS DE TERRAS” – onde refletia nessa direção sobre o impacto ambiental causado pelos desmatamentos em nosso estado; o texto diz: “Os correntões tão eficazes nos desmatamentos são conhecidos e semeiam pavor entre os lavradores porque além da destruição total e completa da flora eliminam indiscriminadamente a fauna”.
Esse mesmo livro voltando um pouquinho em sua página 04 (quatro) já profetizava nos levantamentos de abrangência nacional que o Maranhão naquele período era o estado que apresentava um dos maiores, senão o maior número de conflitos fundiários no Brasil; observava-se que nessas pesquisas da CPT – Secretaria Nacional, que cobriu o ano de 1979 e se estendendo até julho de 1981, os dados referentes ao Maranhão assinalavam 207 (duzentos e sete) conflitos de terras, envolvendo 67.184 (sessenta e sete mil cento e oitenta e quatro) famílias de camponeses ameaçadas, mas um dos índices mais assombrosos daqueles estudos foi as 7.706,075 (sete milhões setecentos e seis mil e setenta e cinco) hectares de terras em disputa, segundo a própria CPT. Refletimos então que naquele levantamento há mais de três décadas, o Maranhão já apresenta em Conflitos Agrários e Socioambientais, ou seja 22,5% do total de todo território nacional.
Com isso podemos voltar a entender ou subtender sobre a expropriação das terras e a questão das lutas dos movimentos sociais pela Reforma Agrária na Região do Baixo Parnaiba com suas transformações sociais e econômicas, estas lutas por direitos e acesso à terra deve-se à guerra profética dos trabalhadores rurais que nunca aceitaram e jamais aceitarão a problemática do Agronegócio que tanto maltrata as Comunidades Tradicionais. Entendemos que o sistema de produção na Agricultura Familiar é de verdade oposto ao da monocultura do eucalipto e soja com seus imensos lucros adquiridos pela exploração dos nossos bens naturais. O Agronegócio nada tem a oferecer para as comunidades a não ser seu processo devastador e selvagem das chapadas onde fica as nascentes dos rios e riachos da região, avassalando todo bioma. Infelizmente o Baixo Parnaíba foi modificado desde o final de 70 até os dias de hoje, quem vem sofrendo a míngua na verdade são as famílias camponesas que utilizam de suas práticas tradicionais assim sobrevivendo dos recursos minerais e vegetais com base nos manejos agrícolas e extrativistas, estas são vítimas de tão grande desacato aos Direitos Humanos e da Vida. Os Conflitos Fundiários no Baixo Parnaíba como por exemplos nos municípios de Urbano Santos e Santa Quitéria, merecem destaque em especial nesta página as lutas travadas em São Raimundo onde sua gente despertou que a batalha coletiva contra o agronegócio e em defesa das chapadas pode levar a grandes conquistas. As chapadas do São Raimundo são espaços de onde os moradores tiram parte de suas rendas do bacuri e as roças de subsistências que são localizadas nas redondezas. Pois a consciência de lutar partiu do entendimento das formações em que seus líderes vem participando, como a Francisca – atual Presidente da Associação. Ainda deve-se nesse aspecto o grande apoio em projetos sociais que entidades como o Fórum Carajás passou a desenvolver por lá, os galinheiros, Manejos do bacuri e frutos do cerrado e roças agroecológicas para suprir então as necessidades da comunidade. Em Santa Quitéria acentua-se a Lagoa das Caraíbas que recebeu seu titulo do ITERMA ainda pouco tempo e Baixão da Coceira que também pelejou contra a Suzano. É inaceitável que a Suzano e grupos de latifundiários vem usufruindo com vendas de áreas do Território Livre do Baixo Parnaíba Maranhense. Sabemos que muitos são os entraves e avalanches na região, pois as comunidades muito ainda tem que conquistar, em meio a essa luta: os trabalhadores de um lado e o agronegócio do outro as relações sociais são em nossos povoados bastante preocupantes. Infelizmente a corda sempre quebra do lado mais fraco – isso não querendo dizer, muito menos desanimar os camponeses e movimentos sociais, mas sobretudo alertá-los para uma questão mais do que real para NUNCA DESISTIR DE LUTAR PELOS SEUS DIREITOS SOCIAIS.
O Baixo Parnaíba é livre, nossas chapadas não aguentam mais tanto sofrer... o veneno devastador que mata todas as vidas da terra, das águas e do ar. Nossas reivindicações haverão de dá continuidade em todos os campos, em todos os lugares, na proteção do bioma e nas causas mais eficazes das famílias que moram nos assentamentos; ribeirinhos; quilombolas... todas as populações tradicionais que habitam o Território num grito coletivo... na corrente de mãos dadas reerguendo as lutas pela REFORMA AGRÁRIA, sem utopia, com realidade e realizações de direitos. 

José Antonio Basto
Militante em Defesa dos Direitos Humanos
(98) 98890-4162
 

terça-feira, 10 de março de 2015

PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NAS COMUNIDADES RURAIS DA REGIÃO DO BAIXO PARNAIBA: Agricultura Familiar, uma alternativa real como Desenvolvimento Sustentável e Solidário.


Produção de farinha - Pov. Centro Seco - Urbano Santos
Segundo a FAOOrganização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, órgão ligado a ONU, a mesma refletiu nesses últimos anos que o futuro da humanidade é alimentar-se de produtos vindos da agricultura familiar produzidos pelas comunidades tradicionais –, principalmente frutas, verduras, aves (galinha caipira) e peixe. Por isso as políticas para melhoramento da Agricultura Familiar e Segurança Alimentar devem melhor atenção da sociedade e, sobretudo dos órgãos competentes. Pois preservar a soberania das populações tradicionais como alternativas para a formulação desse projeto, elabora-se propostas e estímulos para esses programas se concretizarem, com certeza todos nós teremos mais êxitos caminhando para essas conquistas de interesse dos povos do campo. As comunidades tradicionais entram nesse cenário como grupos especiais no que se diz respeito a assas questões de um outro mundo possível, pelo menos nos aspectos mais fundamentais. A Lei de Segurança Alimentar e Nutricional – conquistas dos movimentos sociais deixa bem claro em seu texto sobre a “proteção dos biomas, preservação dos setores socioambientais, extrativismo cultural, aquicultura, criação de aves e pesca artesanal” – são atividades rurais que desde séculos não agride a biodiversidade. A lei ainda prioriza os acordos de complementação produtiva, comércio interno e externo justo e solidário.
Peixes de pescaria artesanal - Pov. Pequi - Urbano Santos
A região do Baixo Parnaíba Maranhense é vasta em riquezas e produções de alimentos, as comunidades que trabalham de roça e complementam suas rendas com o extrativismo vegetal... polpa do bacuri, buriti, juçara e outros frutos do cerrado vivem um momento importante de lutas pela posse da terra e garantia dos direitos fundiários. Os conflitos agrários são exemplos dessas disputas e anúncios de políticas prioritárias do Movimento Camponês em ser protagonista das reformas de bases, primordialmente. Para a produção continua de alimentos é preciso a ocupação do Território Livre -, muitas chapadas que foram invadidas pelo programa dos monocultivos como soja e eucalipto pedem socorro agora e clamam por mudanças na volta das cadeias de tradições culturais e equilíbrio ambiental. O campesinato está a cada dia avançando em suas conquistas, mas com muitas avalanches e entraves, as porcentagens crescem a respeito dos gráficos que mostram claro onde os mais de 60% do alimento que vai para nossa mesa provém das roças e espaços de produção dos lavradores e lavradoras. A maneira tradicional de produção na agricultura familiar não devasta, não agride o meio ambiente e se baseia nas formas de solidariedade dos povos que moram nessas áreas vingando portando um respeito ancestral com atenção e educação com a natureza e trabalho em mutirão.
Produção de bananas - Pov. Olho D`Água - Urbano Santos
Já o agronegócio veio para destruir a vida, não se preocupa com a solidariedade, visa cada vez mais lucros e lucros utilizando os recursos minerais como água e terra, desacata os direitos humanos e afeta nossas vidas com agrotóxicos, sobretudo a fauna e flora atrasando a Reforma Agrária e o PADRSS – Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário.  O crescimento de nossas comunidades do Baixo Parnaíba enfrenta a grilagem por parte dos programas da monocultura que utiliza de artes manhas para expropriação da terra.
Um dos desafios vigentes para o progresso das Comunidades do Baixo Parnaíba é a discussão coletiva das estratégias, valorização e fortalecimento de nossa categoria. O 7º Congresso de Trabalhadores Rurais já discutia esses pontos em 2008; a dinâmica do pensar e repensar sobre as situações fundiárias e socioambientais. A escala de produção de alimentos na Região do Baixo Parnaíba Maranhense desenvolvida pelas práticas e manejos dos camponeses deixa uma reflexão positiva do processo econômico e forças do trabalho rural e suor dos homens e mulheres que honestamente trabalham no Sistema de Agricultura Familiar para o sustento de suas famílias.  
 
José Antonio Basto
Militante em Defesa dos Direitos Humanos e da Vida
(98) 98890-4162