segunda-feira, 26 de agosto de 2013


Reouvindo a música: “Ninguém pode mais sofrer de Geraldo Vandré”


          “Quem vai escutar, quem vai entender/ Ninguém pode mais sofrer / Amor é pra dar/ Viver pra viver / Ninguém pode mais sofrer. [...]” Estes  são alguns dos primeiros versos dessa magnifica canção do imortal artista da Bossa Nova Geraldo Vandré, exilado na Argentina no período ditatorial de 1964, o mesmo autor de: “Pra não dizer que não falei das flores” – Vandré na música acima citada relembra o Prólogo do livro “Espuma Flutuantes” do Poeta Castro Alves onde este deixa bem claro sua viuvez com o mundo, com os amigos, com as moças que passara pelos seus braços... bate mais forte ali o sopro servil do coração, o pélago da alma mais sofrida.
          A música diz que “amor é pra dar e o mundo inteiro um dia vai cantar que ninguém pode mais sofrer.” Um cenário recheado de esperanças onde o “Eu lírico” implora pra não mais sofrer, talvez por já ter sofrido tanto. As vezes o sofrimento observado pelo avesso da arte faz com que a vontade de vencer supra todos os obstáculos interior da pessoa. O pessimismo exacerbado nem sempre é tão ruim e, transformado em poesia com certeza fica mais bonito e admirável. A tragédia, a desgraça e a solidão enxergada com os olhos da lírica individual, da arte em geral, percebe-se então um tom especial. Muitas obras de grandes artistas nasceram da experiência do próprio sofrer e das decepções amorosas, do extinto, do coração e do exílio. O jovem poeta Alvares de Azevedo, maior expoente da terceira geração do romantismo brasileiro em sua “Lira dos vinte anos” em diversos dos seus poemas pode-se perceber a desgraça e o insucesso de amar... ele não consegue achar o remédio para os condenados criarem e recriarem sua arte, pois a poesia romântica não é somente pra falar de flores, de amor, do belo... do positivo em fim... mas do obscuro e da negatividade da vida que ao mesmo tempo a partir  de então se torna expressivo o interesse de ver e viver. Experiências de amor frustrado como o poeta Gonçalves Dias viveu desabafando em sua tragédia de amor “Ainda uma vez, adeus” ele narra o seu último encontro casual com a jovem Ana Amélia do Vale aquela que os pais o negaram sua mão num jantar entre amigos, a partir desse momento o poeta envergonha-se... e auto se exila por amor, vive, sonha, sofre e morre tragado pelo mar num naufrágio inesperado. Nos versos o poeta declara seu sentimento de culpa por não ter lutado pela mulher amada de seus sonhos, de sua vida, poderia ele e tinha força suficiente para desafiar o pai, a família, a sociedade e preconceito da época para viver eternamente com Ana Amélia do Vale.
          Esses são casos que comparadamente com a música de Vandré prima-se por uma coisa fundamental da produção artística – “mostrar de fato aquilo que o coração pede,” isso sim é a verdadeira arte e nem sempre tudo o que está sendo exposto no momento. Isso aconteceu muito durante a história e foi comum em trabalhos feitos por encomendas: O artista plástico espanhol Francisco de Goya foi um desses grandes exemplos, Goya durante sua vida como artista ganhava seu pão de cada dia pitando caricaturas de pessoas da nobreza, reis e rainhas... ele pintava por encomenda e viveu desse ofício por muito tempo. Com o passar dos anos Goya descobre uma doença que lhe deixa muito triste e isso então se reflete em sua arte, ele começa a dar um outro tema para suas criações já não mais por encomenda; a alegria desapareceu lentamente de suas pinturas, as cores se tornaram mais escuras e seu modo de pintar ficou mais livre e expressivo. Sabendo que não iria mais pintar por muito tempo, o artista deixa falar o coração: telas assombrosas como por exemplo:” El sueño de la razon produce monstruos” – onde ele expressa sua força e forma gótica e vivacidade, corujas e monstros rodeiam um jovem poeta atordoado que dorme lentamente sobre uma escrivaninha. Sua obra a partir de então deixa mais exposto o escuro, o negativo... o seu sofrimento. Foi com esse tema que Goya ganhou popularidade e fama até os dias de hoje. Viver já é a mais importante coisa que a pessoa deve fazer e sobretudo a mais célebres das artes. O ser humano é cheio de paradoxos... contradições; hora para a alegria; hora para o pranto sem controle. Geraldo Vandré foi um artista desse tipo não apenas em “Ninguém pode mais sofrer” mas em muitas outras de suas admiráveis obras. Gandhi estava certo quando afirmou que a vida só tem sentido se não temos medo dela, pois o coração nem sempre consegue separar as pressões do dia-a-dia, da carne, da alma e do destino.
       
                                                       Autor: JOSÉ ANTONIO BASTO
                                                                  Poeta

terça-feira, 13 de agosto de 2013


HOJE ACORDEI TRISTE, MAS OTIMISTA

I
O sol custou aparecer...
A vida pode me entender
Nos braços dessa incerteza,
Sonhos, luzes desventuras,
Açoites da amargura!
Apressem essa correnteza!

II
Sobre uma brecha do telhado
Olhei o céu ensolarado,
E disse: “posso vencer!”
Porque nada é para sempre,
Podemos quebrar a corrente
E a vida entender.

III
O fardo do destino é pesado,
A guerra, a vitória... lado a lado,
O pranto... o troféu e a missão,
Adjetivos  de um sono tão real,
Nem tudo pode ser igual
Nos versos do coração.

                       JOSÉ ANTONIO BASTO
                       12.08.2013





quarta-feira, 7 de agosto de 2013


Camões, o maior vate em língua portuguesa

I
“Sei dizer que Camões
Foi um poeta perfeito
Vazou o olho direito
Numa das rebeliões”
Conquistou multidões
É um vulto da história
Traçou sua trajetória
Por meio de aventuras
Mestre na literatura
Com sua coroa de glória.

II
Viveu no renascimento
Lá no século dezesseis
Muitas coisas ele fez
Porém com merecimento
Com todo o seu talento
Foi mestre no que fazia
Em sua categoria
Dos vates é o maior
Na poética é o melhor
Na rima... na poesia.

III
Em Lisboa provavelmente
Foi onde Camões nasceu
Portanto ali cresceu
Ainda como estudante
Foi muito perseverante
Poeta aos doze anos
Jovem de diversos planos
Para a sua formação
Guiado pelo coração
Exemplo de ser humano.

IV
Pouco se sabe da história
Da vida desse artista
O eterno sonetista
Iluminado de glória
Hoje está sua memória
No “Mosteiro dos Gerônimos”
Plantado seu pseudônimo
Como poeta afamado
É por todos admirado
Quem conhece o seu nome.

V
Foi jovem de confusão
Se meteu em enrascadas
Na biografia confirmada
E por a população
Esteve numa prisão
Em Goa mostra pintura
Ícone da literatura
Vate muito renomado
Foi poeta admirado
Por D. Sebastião.

VI
Foi um jovem estudante
Muito intelectual
Pesquisou história geral
Na vida seguiu avante!
Em suas leituras constantes
Plutarco e Homero faziam
Parte dos Clássicos que lia
Além de Virgilio e Petrarca
Foi onde deixou sua marca
Nas páginas da poesia.

VII
Foi boêmio incorrigível
Em casos tumultuados
Trovador apaixonado
Artista insubstituível
Na rima era incrível
A forma que escrevia
Deixou sua poesia
Para a humanidade
Fixou-se na eternidade
Pelo que tem de valia.

VIII
Com Vasco da Gama viajou
Para a Índia em direção
Rumo àquela região
Por meses então navegou
Na África sempre aportou
Pra passar a tempestade
Em meio às dificuldades
Durantes suas viagens
Deixando sua mensagem
Pra toda sociedade.


IX
Escreveu odes e rimas
Passou por diversos temas
Compôs um grande poema
Que abriu suas cortinas
Gravando sua grande sina
“Lusíadas” foi intitulado
Portugal teve respaldo
A partir daquela obra
Remando com suas manobras
Pelo Rei orientado.

X
Em dez de Junho de oitenta
E mil e quinhentos corria
Foi morar na lájea fria
Onde tudo se concentra
De Camões tudo se inventa
Com base em sua riqueza
De uma coisa tenho certeza
Do título bem merecido
É o vate mais querido
De nossa Língua Portuguesa.
 
            Autor: José Antonio Basto

sexta-feira, 2 de agosto de 2013


OS MONSTROS VERDES DO BAIXO PARNAIBA
  
         Viajando certo dia com a Antropóloga Professora Drª Maristela da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), alguns de seus colegas de profissão e alunos, em direção aos povoados: São Raimundo município de Urbano Santos e Baixão da Coceira município de Santa Quitéria do Maranhão, Saímos da sede de Urbano Santos passando por dentro do Povoado Custódio, ao chegarmos próximo deste humilde povoado nos deparamos com um enorme portão que dava acesso à uma imensa plantação de eucalipto da Empresa Suzano Papel e Celulose, como pode? Uma tradicional comunidade pedir licença a Suzano para entrar em seu próprio território, os visitantes ficaram assombrados com tamanho desacato. Seguimos viagem e mais na frente encontramos um cemitério na beira do caminho, dentro desse mesmo campo de eucalipto, quando a Professora Maristela comentou o fato dos cemitérios desta região serem quase sempre localizados nas chapadas – áreas especiais onde a empresa é atuante, esses  monumentos culturais dos povos camponeses também são vítimas de desacato patrimonial aos direitos humanos. Pois nem mesmo os restos mortais dos ancestrais o projeto de agronegócio da empresa respeita.
          O carro em que eu estava era conduzido pela Professora Maristela, então íamos comentando a realidade das relações sociais das comunidades do Baixo Parnaíba no que se diz respeito a resistência contra o eucalipto e a soja, quando um ex-aluno seu que também viajava conosco, o professor Rafael (Rafa), doutorando no Rio de Janeiro – RJ, comentou que já tinha andado por áreas de soja em outros lugares, mas nunca tinha percorrido um campo de eucalipto e visto essa realidade tão de perto da degradação ambiental e violações dos direitos humanos e da vida. Já quase chegando no Povoado Canzilo um assentamento do INCRA, Rafa comparou os gigantescos eucaliptos como se fossem “MONSTROS VERDES” fato que diferencia essas espécies estrangeiras das árvores naturais de nossas florestas e, ideia do título acima. Os monstros sempre altos e agressivos com seus produtos tóxicos que nem mesmo os passarinhos e insetos andam por dentro dessas matas assombrosas e esquisitas, uma supremacia em meio às pequenas roças de mandioca dos nossos trabalhadores e trabalhadoras rurais. Brincando, eu disse ao Rafa e a Professora Maristela que iria escrever algo sobre esses tais “MONSTROS VERDES” responsáveis pelo grande impacto ambiental e atraso fundiário em nossa região. Os MONSTROS VERDES são os verdadeiros culpados pelas secas de nossos rios, lagoas e riachos, extinção de inúmeras espécies da fauna e flora. Nós sabemos que a plantação de eucalipto em nossa região em especial Urbano Santos sempre foi uma peste para a agricultura familiar e, para o projeto de REFORMA AGRÁRIA de tantas comunidades atingidas diretamente. O sonho utópico progressista e econômico de DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL COM BASE NA AGRICULTURA FAMILIAR, debatido sempre em todos os encontros, congressos e seminários sobre direitos humanos, meio ambiente e Reforma Agrária... infelizmente ainda esperamos por esse tal projeto com muito otimismo e esperanças. O sistema capitalista exacerbado abusa das comunidades tradicionais. Pois não fazem nada além de algumas placas de cor lilás orientando os destinos das estradas que dão acesso aos outros povoados circunvizinhos, enquanto pode-se sentir na pele e nos olhares das crianças desnutridas em volta de um todo sistema. Uma paisagem que seus avós e pais viram no passado... essas crianças não terão mais o privilégio de vê-la: rios perenes, lagos e brejais repletos de peixes e buriti, fartura de legumes, caça a vontade, muito pequi e bacuri nas chapadas, além de mangaba, pitomba de leite... em fim, o manejo secular do extrativismo vegetal. Tudo isso foi antes, tudo isso desapareceu completamente e está a cada dia desaparecendo. A zona rural de Urbano Santos foi modificada, está perdendo suas verdadeiras raízes culturais, o êxodo rural avançando e tomando conta de nossa rica região mudando as maneiras das pessoas pensarem e agirem. Essas terras foram invadidas e usadas por uma empresa multinacional e grupos dos chamados gaúchos, não estou inventando nada disso... foi a ciência que detectou através de pesquisas e confirma com ênfase: um grande exemplo é a questão da chocante cena de DESAPARECIMENTO TOTAL DO RIACHO CHIBEU, no Povoado Todos os Santos – Urbano Santos.
          Os MONSTROS VERDES não trazem nenhum beneficio às comunidades tradicionais, ficamos de olhos abertos para fiscalizar nossa terra, para defender com unhas e dentes o cerrado, defender os animais, a natureza... a vida. Como é bonito apreciar a paisagem dos bacuris, candeias tortas, capinzais, pequis, bacuris, o pasto verde e natural. Nossas chapadas estão em perigo e a cada momento ameaçadas por esses monstros horríveis que são os verdadeiros fantasmas de nossa tão querida e amada REGIÃO DO BAIXO PARNAIBA MARANHENSE – Maranhão – Brasil.


JOSÉ ANTONIO BASTO
Urbano Santos-MA, Julho de 2013
*escritor, poeta e militante das caravanas de direitos humanos na Região do Baixo Parnaíba Maranhense.