terça-feira, 29 de dezembro de 2015

CHAPADAS E COMUNIDADES TRADICIONAIS DA REGIÃO DO BAIXO PARNAÍBA MARANHENSE TRANSCRITAS EM 2015.

Quebradeiras de coco babaçú - Povoado Cajazeiras - U. Santos

Escrever dedicadamente todo início de semana para manter autualizado uma página na web não é uma tarefa muito fácil, mas uma questão de compromisso e determinação. Assim aconteceu este ano de 2015 que se findará depois de amanhã. Partindo de uma auto-determinação pessoal, resolvi narrar fatos do dia-a-dia das comunidades rurais de nossa região agrária; a realidade das chapadas e conflitos fundiários e socioambientais. Creio que esses artigos (crônicas - ensaios), talvez, não sei... contribuíram sobre algum tipo de informações para os resumidos leitores e leitoras visitantes especiais dos blogs: bastopoetaemilitante.blogspot.com, moderado por mim e territorioslivresdobaixoparnaiba.blogspot.com, do Fórum Carajás.  É normal e todos sabem que esse tipo de literatura de militância social não interessa muita gente, mas vale apena ressaltar que aqueles e aquelas que esperavam um novo artigo de minha simples e modesta pena a cada segunda-feira, merece meus aplausos. Porque leriam por puro prazer? Porque necessitavam de pontos para suas pesquisas? Não sei. Leriam... passavam lá. As 4.236 visualizações de 151 postagens com essa agora 152 - no meu blog bastopoetaemilitante.blogspot.com, pode-se avaliar que não é um record como muitos outros veículos que tratam de outros assuntos, mas esse é um número razoável. O desafio de escrever alguma coisa às segundas-feiras foi para não ficar muito tempo distante das informações que variavam desde conflitos de terra, culinária regional, luta pela preservação ambiental, extrativismo, narrações de viagens, passeios, almoços de galinha caipira, visitas e etc, portanto se tinha e se tem motivos diversos de escrever sobre os povos tradicionais do Baixo Parnaíba e outras regiões do Maranhão por onde também estive nessa luta. O ano de 2015 foi bastante produtivo, aprendi a conhecer mais meu povo rural que em suas vivencias diárias nos dá aulas para toda vida. Nossas comunidades rurais, homens, mulheres... crianças e idosos... são estes e estas os verdadeiros donos da terra, que possam serem dignos e dignas de direitos. Aproveito o momento para lhes dedicar mesmo sem saberem, estes textos que um dia chegarão em vossas mãos em forma de livro. Saibam e relembram que um dia me disseram que podemos até não mudar este mundo violento de desrespeito e ganancia, mas podemos fazer algo da forma que sabemos para melhorá-lo. Podemos rever o que perdemos e o que ganhamos em 2015, ganhamos mais do que perdemos. Afiaremos nossas idéias para 2016, os entraves enfrentados... seguiremos em marcha pelas chapadas e estradas, as comunidades unidades na busca por dias melhores em seus territórios. Como já dizia Gandhi: “Nossas lutas e mensagens são as nossas próprias vidas”. VIVA TODAS AS COMUNIDADES TRADICIONAIS DA REGIÃO DO BAIXO PARNAÍBA MARANHENSE! O lema do Fórum Social 2009 em Belém do Pará ainda soa em suas terras: “UM OUTRO MUNDO É POSSÍVEL”.

José Antonio Basto
- Militante pela Reforma Agrária
- moderador do blog: bastopoetaemilitante.blogspot.com
Urbano Santos-MA, 29/12/2015.

Dedicadamente a todas as comunidades rurais da Região do Baixo Parnaíba Maranhense e outras regiões do Maranhão como o território do Auto-Turi “terra dos índios Awá-Guajás” donde tive a oportunidade de conhecer e escrever sobre este povo das florestas. Vai aos Trabalhadores e trabalhadoras rurais que lutam pela posse de suas terras, pela preservação das chapadas, das cabeceiras dos rios, dos brejos... da biodiversidade. Pois vivem dos recursos naturais que a terra e as águas lhe oferecem. Que tenham um 2016 de muitas lutas e vitórias. Vocês sempre foram e são independentes... livres.

Grande abraço aqui do companheiro de batalhas.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Era aquele tempo de rastros e tiros nas chapadas do Baixo Parnaíba


Foi um certo tempo, uma época de guerras pelo sertão – levantes e insurreições dos balaios que no Baixo Paraíba ainda não viam a febre do eucalipto, exceto os tiros dos fuzis legalistas imperiais que disparavam contra os quilombolas e caboclos. Até então eles eram negros irmãos dos Quilombos de Bom Sucesso e Saco das Almas. Naquele tempo os monocultivos não atrapalhavam a vida das comunidades – mas entrelaçavam-se pelo futuro, atrapalhava-se no dia-a-dia  e no medo de morrer furado de balas pelo simples fato de lutar por direitos e pela já então debatida Reforma Agrária. Neste território já existia comunidades tradicionais desde de séculos atrás que adentravam pelas matas de bacuris deixando seus rastros pelos envios caminhos dos barros vermelhos das chapadas do Baixo Parnaíba, território de disputas fundiárias, de outrora aos dias de hoje. Essas disputas que continuam. Ainda ouve-se aos nossos dias os velhos tiros, os caçadores que procuram a cotia, a paca, o veado, o jacú e a nambu indgnam-se porque não encontram mais –, não acham água nas cabeceiras porque o eucalipto e a soja engoliu tudo. Que desgraça essa meu Deus! Esta infâmia do agronegócio... do capitalismo selvagem e violento, aqueles correntões devastaram tudo... não sobrou pedra sobre pedra. Como pode tamanho desacato! Meus avós e tios-avôs contavam-me que ontem tudo era muito diferente: existia muitos animais, água, rios, lagoas, brejos, frutos nas matas... as pessoas viviam em paz sem arrogância e sem ganância. Os campos e chapadas eram livres para o mundo, paras as pessoas morarem e reproduzirem-se. Um tempo romântico que não volta mais no Território do Baixo Parnaíba Maranhense -, um pedaço do mundo que precisa ser reformado sobre a pena de alguém ou por ações governamentais. As comunidades que habitam aqui devem entender que são libertas de tudo... das algemas que os prende na política de compra e venda. Essas comunidades trabalham e vivem desde de tempos bem remotos na resistência praticando seus ofícios extrativistas e trabalhando na lavoura. Os esconderijos do mocambo são quarteis de hoje que clamam por justiça social e concretização de direitos humanos. Precisamos das chapadas para manter a chuva, para assegurar os rios na piracema. Os buritis dos brejos estão lá solitários aguardando visitas nem que seja dos papagaios do “furo dos espinhos” -, um final de tarde cansativo e decisivo para aqueles momentos de dores e desprezos em suas gargalhadas sarcásticas. Ouvia-se um cântico de araras e jandaias que circulavam as beiras das chapadas avisando algo de errado maliciando um novo tempo de fumaças ferozes. A região agrária agora fala mais alto do que nunca, do que os mais velhos na sabedoria da vida em coletividade. A pistolagem, a ameaça... o verbo e a coragem de escrever toma conta dos ouvidos que não querem escutar. Era aquele tempo de rastros e tiros nas chapadas do Baixo Parnaíba.

 José Antonio Basto

 

 

 

 

 

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

"BACURI': A RIQUEZA NATURAL DO SÃO RAIMUNDO, BAIXO PARNAÍBA MARANHENSE



Dona Maria de Paula com seus bacuris - Pov. São Raimundo

Esse fruto importante das chapadas do Baixo Parnaíba Maranhense – riqueza incontestável de comunidades tradicionais como o São Raimundo - há mais de 50 quilômetros de Urbano Santos. A colheita do bacuri que vai de janeiro a abril, muito ajuda na economia familiar dos moradores desses povoados, são práticas e manejos que se perpetuam de pais para filhos. A polpa do bacuri que é tirada através de tesouras pelas mãos das mulheres e homens num circulo coletivo, esse ano a matéria prima atingiu um preço significativo talvez pela falta dos bacurizeiros no cerrado: problema esse causado por motivo da derrubada do fruto verde e em alguns casos o corte ilegal da madeira para cerrarias. O Povoado São Raimundo é uma das comunidades modelo quando se fala de preservação ambiental das chapadas e do território, pois seus moradores trabalhadores e trabalhadoras rurais sabem da grande importância para a vida que essas chapadas lhes oferecem. O bacuri possuir alguns nutrientes em ​​quantidades notáveis de Fósforo, Potássio, Ferro, Cálcio e vitamina C... é sobretudo consumido cru ou misturado com suco. Sua casca também é aproveitada na culinária regional e o óleo extraído de suas sementes é usado como anti-inflamatório e cicatrizante na medicina popular e na indústria de cosméticos. Encontrado em todo território do Baixo Parnaíba - região que infelizmente sofre com a invasão do agronegócio do eucalipto e soja. Muitas áreas de bacuris já foram devastadas para o plantio de monocultivos em mais de 16 municípios - esse impacto social e ecológico gerou muitos conflitos entre a Empresa Suzano e famílias camponeses que defendem e lutam pela concretização de direitos humanos. Pois essas famílias já viviam e reproduziam há séculos nesses espaços culturais. O São Raimundo luta pela terra, luta pela sobrevivência em harmonia com a natureza. Quando chega o período do inverno e da safra os frutos desabam no chão, as mulheres sobe a chapada com seus côfos e jacás para a colheita. Aquela comunidade trabalhadora tem consciência de colher o bacuri no tempo certo porque o bacuri faz parte de suas vidas, sendo que a comunidade precisa diretamente da chapada para sobreviver.
José Antonio Basto
Novembro de 2015

 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

MENSAGEM DO SÃO RAIMUNDO AO MUNDO


Conscientes de uma luta em defesa da vida, somando-se terra, água e toda biodiversidade disponível nas florestas, chapadas, brejais lagoas e rios... a comunidade tradicional de São Raimundo, localizada no meio da Região do Baixo Parnaíba é uma prova de autenticidade do território livre dos povos tradicionais. Devemos entender que nossas comunidades rurais assim como o São Raimundo, precisam de seus espaços naturais para manter suas  sobrevivências, com paz e harmonia, uma vez que estes espaços infelizmente foram invadidos e vendidos outrora para o agronegócio violento e selvagem que tanto destrói o meio ambiente e o modo de vida destas pessoas. A cabeceira do Rio Preguiças que fica para o lado daquelas regiões da Lagoa da Campineira vem sofrendo com vários problemas de devastação de suas matas ciliares, causando assim o desaparecimento total da nascente. As comunidades tradicionais que vivem há séculos naqueles lugares desenvolvendo-se e reproduzindo-se, de forma cultural, não precisam ser subestimadas por ninguém, por nenhuma esfera de poder, as associações são livres para trabalhar e produzir alimentos e renda familiar, suas “tradições e modos de vida” merece respeito. Pois desde séculos as comunidades já plantavam, colhiam, pescavam, caçavam e coletavam em seus manejos e práticas tradicionais repassadas de pais para filhos, de geração para geração. Quando a ganancia do capitalismo chegou aqui no Baixo Parnaíba, adentrando por essas terras de Urbano Santos, principalmente no inicio da década de 80, representado então por empresas multinacionais como a antiga Florestal LTDA – hoje Suzano Papel e Celulose e órgãos terceirizados, foi a partir desse momento que gerou-se uma grande transformação social, resultando no envenenamento das áreas produtivas e tradicionais das comunidades, além do conflito fundiário que se arrasta até os dias de hoje. As terras que eram utilizadas para a agricultura e coletas de frutos foram tomadas a força através de grilagem, as chapadas de onde caçavam e colhiam bacuris e pequis foram substituídas por campos de eucalipto e soja, os rios e brejos onde pescavam, colhiam buritis, lavavam e banhavam... estão desaparecendo de forma rápida e feroz seja pelo impacto ambiental direto do agronegócio ou construção de açudes nos leitos, muitos desses rios já desapareceram completamente,  estes casos são verdadeiros desacatos aos direitos humanos e da vida. São Raimundo é um exemplo de luta por direitos, da organização comum e coletiva na pessoa de seus líderes que incansavelmente batalham por um mundo novo. Trabalhos importantes como o que foi apresentado pelos alunos e toda comunidade no dia 02 de dezembro de 2015, “ENCONTRO DE COMUNIDADES DAS CHAPADAS PARA O MANEJO SUSTENTÁVEL DO BACURI”, foi mais do que positivo, um show de conhecimentos sustentáveis e produção agroecológica, foram pautas das atividades dos alunos que apresentaram o projeto pedagógico “ÁGUA, SEU FUTURO EM NOSSAS MÃOS”. A peça “Encontro do cerrado com o Rio Preguiças” emocionou a todos e todas que prestigiavam aquele importante momento. O cuidado com a natureza sempre foi debatido pelos moradores do São Raimundo, desde quando barraram a extração do linho do buriti que era comercializado em Barreirinhas; proibiram por lei da associação a derrubada do bacuri verde e ajudam na construção de um plano maior que é a proibição da devastação das florestas, principalmente as chapadas para o plantio de monocultivos e fabricação de carvão em todo município –, uma vez que lá já existe uma lei – a proposta agora é ir além-mar. O problema da escassez de água é a maior preocupação não apenas no São Raimundo – mas em todo mundo, por isso as ações construtivas de conscientização. Outras comunidades do Baixo Parnaíba deveriam seguir o exemplo ímpar do São Raimundo, assim portanto tomando conhecimento de sua independência e força com o sentimento e sonhos de um outro mundo possível.

José Antonio Basto
Dezembro de 2015

 

segunda-feira, 30 de novembro de 2015

SÃO RAIMUNDO: a nascente verde do Baixo Parnaíba


É só trilhar pelas veredas da Comunidade São Raimundo, Município de Urbano Santo -, Baixo Parnaíba, no leste do nosso estado. Povoado simples entre a encosta da chapada e o Rio Preguiças, onde residem pessoas honestas e trabalhadoras. Suas chapadas e brejos reflorescem o sentido da vida de que um outro mundo ainda é possível. A consciência ecológica de seu povo faz com que esta comunidade seja especial no que se diz respeito a preservação do meio ambiente e da biodiversidade. Um lugar no meio do Território Livre do Baixo Parnaíba que até a algum tempo atrás era difícil se chegar por lá. Aquele lugar está crescendo conforme os progressos que chegam para atender a população. Os estudantes ganharam uma escola nova que até então não tinham; a associação além da batalha fundiária pela terra, também desenvolve projetos de manejos do bacuri e outros frutos do cerrado, criam animais pequenos e aves. Os trabalhadores e trabalhadoras rurais do São Raimundo pregam em seus ofícios do dia-a-dia a grande importância de se preservar o pouco que ainda resta na natureza como os braços do Rio Preguiças que abastece com água, peixes e frutos como o buriti e juçara, os moradores protegem as chapadas que lhes dão bacuris, pequis, mangabas e madeira, rondam os variantes nas matas onde fazem suas roças de subsistência. A comunidade São Raimundo merece destaque pela sua luta em defesa dos direitos humanos e da vida. Esse pedaço verde que renasce em suas nascentes e afluentes no seio de nossa querida Região do Baixo Parnaíba Maranhense.
 
José Antônio Basto

 


 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

COMUNIDADE SÃO RAIMUNDO: O VERDE NA MENSAGEM DA VIDA!


O mundo tem vários pedaços e vários cantos e recantos, pertos e longínquos... um desses pedaços de encantos está localizado nos plenos confins do leste maranhense, na Região do Baixo Parnaíba –, território antigo e tradicional há séculos que foi habitado por quilombolas, vaqueiros, índios e caboclos valentes na composição dos exércitos dos balaios; lá está a comunidade tradicional de São Raimundo, um cartão verde na mensagem da vida, humilde, mas hospitaleiro e acolhedor. Suas chapadas, lagoas e brejais são verdadeiras fontes de vida, nas chapadas concentra-se os bacurizais e pequizeiros que neste período seus botões e flores enfeitam e escorregam sobre o vento cheiroso do perfume que anuncia a fartura do próximo ano. De janeiro a março é o período da safra do bacuri onde as mulheres, homens e meninos cai o corpo no cerrado com cofos e jacás para a festa da colheita. Sua gente se dedica a preocupar-se com a natureza, com a educação popular, preservando as nascentes e brejos para que seus filhos alcance a beleza do lugar. Infelizmente o fogo ainda destrói as raízes das árvores e o agronegócio devasta e avança devagar nos arredores com a poluição de agrotóxico que brota dos campos de eucalipto e soja. Mas mesmo assim o sentimento de liberdade de seu povo, a força pujante na luta pela terra e por direitos humanos acelera o motor da liberdade em frente. São Raimundo prega com otimismo as mensagens e capítulos num momento de alerta, de secas, de problemas fundiários e ambientais, capítulos que ajudam a construir uma história bonita de ouvir, de se ler e, sobretudo viver.

José Antonio Basto                                                                     
23/11/2015

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

São Raimundo: um pedaço verde do mundo


A reunião da SMDH – Sociedade Maranhense de Direitos Humanos com a Associação Comunitária da Comunidade no dia 09/11/2015, que tinha o objetivo de falar sobre o Projeto de Rebrotamento de bacurizeiros nativos, estava preste acontecer.  Como não bastasse o deslocamento sempre complicado, pois a Roseane e a Drª Dayana já adivinhara as avalanches que aquelas estradas traziam para quem não sabe destrinchá-las, hoje em dia essas estradas foram modificadas pelos eucaliptos da Suzano, os velhos caminhos não são mais os mesmos. O projeto que está dando certo no Pará com as orientações dos técnicos da EMBRAPA-PA, pertente aplicar essas experiências no Baixo Parnaíba Maranhense. Uma das ideias é desenvolver esse trabalho em uma comunidade da região de chapadas bonitas de se ver, que cobre as comunidades vizinhas: Boa união, Santa Felomena, Bom Princípio e Bracinho. O São Raimundo deve puxar essa carruagem pelo espirito de lutas e conquistas que tem, a exemplo do documento que a associação elaborou há algum tempo atrás de proibição da derrubada do bacuri verde; além dos capítulos de resistência pela posse da terra e proteção das chapadas, entraves que até hoje vem sendo superados pelo desejo da Reforma Agrária. Partindo da consciência ecológica dos trabalhadores rurais do povoado que sustentam suas famílias com suas roças e coletas de frutos -, este fruto precioso e sagrado das comunidades chapadeiras, fonte de renda e de vitaminas. A SMDH pensava logo de primeira nessa possibilidade de implantação do projeto naquele “pedaço verde do mundo”. Pois alguns membros da comunidade já participaram de um projeto parecido “Manejos dos bacuris e reflorestamentos das chapadas com valorização dos frutos do cerrado”- orientado pelo saudoso Fórum Carajás, na pessoa do Mayron Regis, um jornalista que entende de criação de galinhas, segundo Rosy! O projeto da SMDH tende complementar os frutos colhidos dos já iniciados por esses órgãos-, tomando como orientação um artigo que o grande Professor e pesquisador Marcelo Carneiro da UFMA mandara para o e-mail da Roseane. O artigo mostra com clareza que na Região Amazônica do Pará deu certo esse trabalho, uma vez que é raro bacurizeiros... e aqui no Baixo Parnaíba que esses frutos nascem e brotam naturalmente em nossas chapadas? Acha-se que o projeto vai dá certo e vai mesmo. Temos muitas chapadas que precisam serem protegidas por lei, os problemas ambientais avançam a cada dia e o que temos de garantia para barrar tamanho empreendimento capitalista? Surge nesse cenário com os levantamentos dos problemas frisados pela Francisca do São Raimundo, a ideia de um “Encontro sobre o manejo sustentável dos bacuris e alimentação de propostas para uma lei municipal de proibição da derrubada dos bacuris verde” – alargando para outras fronteiras no território municipal e não apenas no São Raimundo, pois eles não precisam da lei, lá existe lei. Ficou marcado este encontro para o dia 02 de dezembro de 2015, com participação de autoridades do poder público municipal, poder legislativo, INCRA, SEMA, SMDH, STTR, associações rurais do município e militantes ativistas pelos direitos humanos. A associação juntamente com os alunos da escola local apresentarão trabalhos voltados para a biodiversidade do cerrado, escassez da água, preservação dos recursos e tratarão também sobre a terra e desmatamento. Voltando ainda a falar do projeto, a SMDH tem como proposta o manejo das técnicas desenvolvidas para o rebrotamento do bacuri e suas caracteristicas ímpares a partir de suas raízes; produção em curto prazo para aumento da renda familiar, além do reflorestamento de áreas desmatadas e aquelas não deveriam ser desmatadas.
Finalizando a reunião a Dª Dayana falou da questão da terra, sobre o demoroso processo de desapropriação do São Raimundo para fins de Reforma Agrária que não se entende entre o INCRA e o Loeff, o INCRA lerdo como é e o Loeff querendo vender a terra para o governo a preço de mercado – sendo que nem lá ele mora, não tem casa, nem sítio... quer pegar quase um milhão na terra! É o besta! Pois bem a reunião terminava com um suco de bacuri ou refrigerante? Preferi suco, antes do almoço de galinha caipira. São Raimundo: um pedaço verde do mundo é a historia viva das lutas fundiárias dos nossos tempos no leste maranhense; terra de gente humilde, hospitaleira... trabalhadores... pedaço do mundo que liga a chapada ao Rio Preguiças.

 José Antonio Basto
Novembro de 2015
Urbano Santos-MA



terça-feira, 3 de novembro de 2015

A CHAPADA E O VENTO LESTE


Ela chorava quando o vento batia em seus bacurizeiros, quando o vento se ia e logo vinha a noite calma e densa; ela chorava quando lembrara da fronteira da soja e do eucalipto selvagem que através do veneno perigoso já secara todas as suas poucas nascentes. Ela chorava quando de repente se lembrava que mora agora dentro do agronegócio. O vento leste cortava o pedaço do mundo em direção aos portais do Parque dos Lençóis, desembocando no horizonte do mar tenebroso. Ela estava ali cansada desde tempos bem remotos – algumas décadas de pura solidão aparavam suas lágrimas; as épocas românticas já não se falam mais; os tempos de fartura, tampouco. Ironia do destino ou ignorância da raça humana? O dinheiro que talvez certos dias comprassem tudo, hoje não compra nada... porque o bem mais precioso das chapadas que são as cabeceiras dos rios e riachos elas desapareceram totalmente vítima do grande impacto ecológico e social. Muitas coisas mudaram de curso, as águas mudaram seu curso, o consumismo atingiu seu apogeu e os viventes pensantes não guardam consigo se quer uma gota de consciência. O vento soprava para o Baixo Parnaíba e anunciava uma era futura de sonhos com o revestimento das espécies vegetais e o reaparecimento dos animais das matas. Aquele vento leste trazia sobre as brumas e as nuvens as canções de comunidades que não se mais ouvia... os batuques, os toques, os tiros no sertão e os tambores num gingado de história e resistência armada. São nas chapadas que estão os restos mortais dos vultos líderes que deram inicio a essa guerra em que todos estão envolvidos na atualidade. Os tiros e morteiros que atravessaram séculos e séculos estão adormecidos no mesmo barro amarelo... na mesma terra regada de sangue dos mártires com sede e esperança de justiça.

José Antonio Basto

segunda-feira, 26 de outubro de 2015

AQUECIMENTO GLOBAL, FALTA DE ÁGUA E DEVASTAÇÃO DO CERRADO: o dito pelo não dito a respeito do eucalipto em Urbano Santos, Baixo Parnaíba Maranhense.


       Algumas pessoas em nossos dias atuais principalmente os alunos já estão cansados de ouvir baboseiras e blábláblá a respeito de histórias que aprendemos naquelas aulas de ciências e geografia nos velhos bancos escolares do fundamental: como a formação do planeta terra, as eras Glacial e do Gelo entre outros assuntos. Quando tratamos a respeito de relações climáticas, acho que deveremos ir direto ao ponto, olhar primeiramente para nossa triste realidade ao nosso redor e ter, sobretudo a consciência de quem vem causando isso.

       Em Urbano Santos, Região do Baixo Parnaíba o impacto nos povoados é representado pelos campos de eucaliptos da Empresa Suzano Papel e Celulose; se levarmos ao pé da letra entendemos que existem pessoas realmente nas comunidades que contribui com esses danos nas roçagens das beiras do rios e riachos, lagoas e brejos e encostas de morros, que não pode, áreas intocáveis proibidas por lei. As lavouras dos camponesas e plantios perto dos rios talvez não seja tão prejudicial assim como os engenheiros da Suzano dizem, tirando sua imagem culpada de frente. Mas fiquemos sabedores e temos o pleno entendimento que o grande e maior mal em nosso município no que se refere ao aumento do calor, mudanças climáticas e danos nas cabeceiras dos rios além de outras coisas são os plantios de eucaliptos nas chapadas de nossa região. As cabeceiras dos rios foram dilaceradas por essas plantas, além do veneno jogado que escoa para áreas adjacências. Se falemos em aquecimento global, temos que falar do agronegócio, temos que tocar na destruição das chapadas que estão sendo transformadas em carvão para enriquecer cada vez mais os grupos empresariais. Falar de meio ambiente em nosso município e não falar no finado rio Boa Hora onde sua cabeceira está totalmente limpa, sem nenhuma árvore, sem nenhum olho d`água... infelizmente é inaceitável. É inadmissível não falar do desaparecimento do riacho Chibé da Comunidade Juçaral, no desaparecimento também do rio Guaribas... entre tantos outros fatos de desacato aos direitos humanos e da vida: isso é falta de conhecimento ou é “o dito pelo não dito?”  Muitas dessas fontes estão em pesquisas de alunos universitários sobre a bacia do rio Boa Hora e em trabalhos antropológicos de professores e pesquisadores da UEMA e da UFMA. A ciência mostra através dos depoimentos de trabalhadores rurais – sendo estes as principais vitimas das várias consequências a respeito da destruição e desaparecimento da biodiversidade pelo eucalipto.  Segundo alguns desses trabalhos de pesquisas da universidade a respeito da chegada do eucalipto em nossa região; as plantações dos monstros verdes na década de 80 já marcavam o inicio de um feroz impacto selvagem no futuro... os problemas fundiários na região e a transformação do modo de vida de nossas comunidades tradicionais é uma página que vem sendo escrita desde tempos remotos e que parece não ter fim. As primeiras experiências de eucaliptos implantadas no viveiro da Fazenda Santo Amaro, estratégia essa pela fartura de água no rio Mocambo bem pertinho do viveiro, causou a desconfiança dos membros da CEB local, uma cultura diferenciada das de nossas espécies e dos produtos da agricultura familiar, a preocupação dos trabalhadores rurais daquele tempo foi vencida pela força de expansão da Florestal LTDA que alargou suas fronteiras agrícolas. Hoje infelizmente Urbano Santos tem 174 mil hectares de eucaliptos plantado em terras de propriedade da Suzano, mas vale ressaltar que parte dessas terras ainda se encontram em conflitos fundiários envolvendo várias famílias camponesas -, associações de moradores dos povoados que deram entradas em processos de desapropriação e arrecadação sumária no INCRA e no ITERMA -, processos caducos que estão sem respostas.

      O que fazer com tal história? Afirmamos mais uma vez com todas as letras que a monocultura do eucalipto é a maior desgraça em nossas terras, destrói, maltrata, gera violência e até trabalho escravo... usa dos bens próprios e naturais da terra para o seu enriquecimento e não sobrando nada para os camponeses. Não podemos defender uma espécie que destrói as nossas vidas, o cerrado... ás águas principalmente. As chapadas mudaram sua forma natural mas ainda sonhamos com um mundo possível  com alternativíssimo e solidariedade para todos e todas. Viva o MEIO AMBIENTE!!

José Antonio Basto
Militante dos Direitos Humanos
bastosandero65@gmail.com

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

AS CONTRADIÇÕES DO EUCALIPTO EM URBANO SANTOS


      Tendo em vista grandes problemas ambientais causados pelo plantio de eucalipto em Urbano Santos - infelizmente ainda há quem diga que essa espécie “também tem tudo a ver com sustentabilidade ambiental e econômica para as comunidades”, não passa de uma mentira. Um discurso vulgar que não conquista os agentes dos movimentos sociais pelos direitos humanos que pregam um mundo diferente com solidariedade para todos, longe do agrotóxico... da destruição da biodiversidade, das chapadas. Pois acreditamos na permanência de produção agroecológica e técnicas tradicionais das comunidades rurais de nosso município num convício de bem com a natureza.

      Quando as primeiras experiências de eucaliptos foram implantadas em Urbano Santos, a empresa Florestal LTDA avaliava as condições do plantio e já imaginava o impacto social e ecológico no futuro. Na Comunidade Santo Amaro onde essas primeiras mudas foram postas como experiências ao lado do rio Mocambo –, estratégia essa pela fartura de água do rio na década de 80, naquele tempo os representantes da Florestal LTDA diziam aos militantes em defesa do meio ambiente e pela Reforma Agrária que as plantações dos monocultivos não prejudicariam; que elas seriam implantadas apenas em áreas não propicias para a agricultura familiar, solos esses de baixa fertilidade e que o eucalipto geraria frutos positivos para as comunidades e sociedade em geral. O que na verdade aconteceu totalmente ao contrario, as experimentações foram alargadas além de muitas fronteiras adentrando as chapadas e carrascos, transformando o modo de vida das populações tradicionais nos povoados que vivem do extrativismo e da agricultura. Os problemas fundiários cresceram porque muitas associações pretendendo que o ITERMA regularizasse a terra para fins de Reforma Agrária, estas foram impedidas da realização de seus direitos mais fundamentais. A Florestal LTDA se transformou na Suzano Papel e Celulose; em Urbano Santos ela montou seu escritório, atualmente a empresa domina 174 mil hectares de eucaliptos em nosso município. O agronegócio avança além de suas fronteiras -, as comunidades mais afetadas em Urbano Santos como Ingá, Santana, Baixa do Cocal II, Juçaral e tantas outras... não se ver nada de apoio desta empresa no que se diz respeito ao um amparo social como hospital, biblioteca ou investimentos na educação local e alimentação dos moradores; uma vez que a terra geram tantas riquezas má distribuídas, dinheiro ganho para o bem próprio, usando o que é do povo “AS CHAPADAS”, por excelência. É comum quando se viaja por essas comunidades, onde se olha crianças desnutridas, alto índice de analfabetismo, problemas de saúde causados pela água infectada de produtos químicos entre outros fatores. Muitos rios já secaram vítima do impacto, diversas áreas de chapadas também sumiram do mapa como é o caso da “chapada do meio” próximo à sede da cidade ao lado do Bairro São José, grandes devastações também são detectadas atualmente nos bacurizais dos povoados Jacú e Araras, além de muitas outras comunidades que antes se via fartura desses frutos.

      Pensar que o eucalipto gera riqueza pode-se afirmar que sim, mas somente para a Suzano porque para os camponeses o que fica é um outro legado muito diferente do progresso. As comunidades tradicionais protegem a natureza, pois é dela que eles tiram parte do sustento de suas famílias, seja através da agricultura e/ou da pesca e coletas de frutos naturais e até mesmo em algumas circunstancias da caça não predatória. O capitalismo sustentado pela expropriação e usurpação de terras rurais no Baixo Parnaíba é o maior problema da falta de terra para produzir e a escassez de água para viver. Há algum tempo atrás as pessoas e entidades eram mais envolvidas nas articulações de combate ao agronegócio, na atualidade se percebe uma fraqueza e muitas dificuldades de se organizar um movimento forte e combativo de defesa dos direitos humanos e da vida. As questões fundiárias por mais que tenham sido debatidas, elas apresentam no cenário regional, estadual e nacional uma página ainda atrasada, muito longe de ser concretizada como rege as campanhas no LIVRO DAS REFORMAS. As alterações ambientais tem trazido várias consequências danosas não apenas para quem se preocupa em fazer alguma coisa como militar, escrever e denunciar, mas diretamente atinge todo mundo com a falta de água, de ar, de alimentos saudáveis, queimadas e geração de doenças crônicas. Sonhemos então em mudar essa história, com solidariedade e respeito. Abaixo o eucalipto em Urbano Santos! Viva o meio ambiente! Um outro mundo é possível! Por água, por terra... por vida!

José Antonio Basto
Militante em Defesa dos Direitos Humanos e da Vida
e-mail: bastosandero65@gmail.com
(98) 98607-6807
Urbano Santos, 19 de outubro de 2015

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Chapadas e cabeceiras de rios: o que há de incomum?


        Sai convicto de que aquela palestra para professores, alunos e membros da Comunidade Mangabeirinha seria interessante em passar meu conhecimento e ao mesmo tempo aprender com os mais jovens e também com os mais velhos a respeito de um tema que já venho militando há algum tempo. Em nome do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Urbano Santos aceitei o modesto desafio da professora Lisa quando me convidava para falar de meio ambiente em nosso município. Então pensei que não tinha como explanar essas questões ambientais nesta região sem tocar no grande e maior problema que é a do eucalipto - principalmente quando se tratava daqueles polos comunitários: Mangabeirinha, Lagoa dos Costa e Bom Fim, povoados esses que são atingidos diretamente pelo impacto ecológico da monocultura.

        O Projeto Pedagógico “Água é vida” coordenado pelos professores, alunos e alguns membros da comunidade, tende trabalhar na íntegra a preservação e o salvamento do Riacho Mangabeirinha que infelizmente já está quase no fim de sua vida. Mas para isso precisavam de uma noção básica geral sobre a escassez da água em nossa região, o porquê do desaparecimento desse recurso precioso. Foi daí então que lancei as perguntas iniciais relacionadas à preservação das chapadas, sendo as chapadas mães da cabeceiras dos rios, riachos e lagoas na Região do Baixo Parnaíba. O que chapadas e cabeceiras têm incomum? Explicava-se que todas as nascentes dos rios do Baixo Parnaíba estão localizadas nas chapadas onde parte dessas chapadas foram invadidas pelo eucalipto da Empresa Suzano Papel e Celulose, nesse sentido exemplificava-se portanto o caso do próprio Rio Mangabeirinha - onde nas palavras do Zé Crispinho – aquele militante do movimento social dizia que sua nascente está dilacerada, além do sugamento de água pelos eucaliptos, houve uma época em que os caminhões-pipa do agronegócio extraiam ilegalmente suas águas da cabeceira localizada numa região de buritizais ente o brejal e a chapada. A prática da extração ilegal de água é comum em muitas comunidades como também a extração de areia e piçarras. O Raimundo Preto, também liderança da luta pela terra que ainda se encontra em questão, acentuava que no tempo de seus pais ouvia historias da presença de muitos animais que moravam e reproduziam nas chapadas como ema, anta, seriema e nambu fi-fiu... espécies raras ameaçadas de extinção. Interviam com clareza e responsabilidade de falar que alcançaram esses rios todos cheios no período do inverno... com muita fartura de peixe e buriti pra colher no tempo da safra. Hoje o que restou disso tudo? O legado da destruição ecológica desenfreada e sem controle do grande capital que nada fazem para o meio ambiente, pensando sempre em mais lucros e lucros. Aproveitando as imagens do slide comparando o agronegócio versus PADRSS, observava-se a enorme diferença entre uma cultura e outra: os danos do agronegócio e o bem da biodiversidade com produção agroecológica de forma equilibrada. Dona Luzia colhedora de bacuri nas chapadas da Mangabeirinha desabafava dizendo que um dos graves problemas de quem sabe um possível desaparecimento dos bacurizais é os eucaliptos e a soja, mas que muitas pessoas não têm consciência dos fatos e acabam cometendo infração como é o caso da derrubada do fruto verde. Os olhares atentos dos alunos nas imagens do slide que mostravam a devastação das chapadas e a importância dos recursos hídricos no município de Urbano Santos, me deixaram a falar a vontade e sobretudo desabafar a respeito dos desacatos e violações de direitos humanos. Comparações entre os campos de eucalipto com a produção de farinha no Povoado Baixa Grade; tratares com seus correntões e uma lavadeira de roupa da comunidade Santa Maria... cerrado e agronegócio -, diferença entre o programa capitalista dos monocultivos e o PADRSS... foram assuntos, provocações e desafios para os ouvintes que talvez viram esse debate local pela primeira vez.

         Os trabalhos foram encerrados com os depoimentos de D. Maria -, uma antiga moradora, frisava que na época em que era criança a região da Mangabeirinha era tudo diferente, tinha muita água, terra, bacuris, chapadas, caça, peixe e o respeito uns com os outros imperava entre as pessoas. O eucalipto veio para acabar com as matas, as água, as cabeceiras e a vida; disse ela. Percebi que a palestra teve proveito e que todos saíram com uma consciência formada a partir daquela atividade.

José Antonio Basto
Militante dos Direitos Humanos
email: bastosandero65@gmail.com
(98) 98607-6807

 

 

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Os desacatos em Santa Rosa / Bacabal e a vitória da Associação dos Pequenos Agricultores


A história fundiária da comunidade (Santa Rosa / Bacabal), município de Urbano Santos, Baixo Parnaíba Maranhense tem suas entrelinhas nos pormenores que esclarece as diversas lutas pela posse da terra desde quando a peleja começava em 2012, envolvendo as famílias camponesas da localidade. O Leonilson, vice-presidente da Associação dos Pequenos Agricultores do Povoado Santa Rosa / Bacabal apareceu na sede do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais para anunciar a boa noticia de que a entidade ganhara mais uma batalha na justiça, desta vez no Tribunal de Justiça em São Luís. A questão se deu quando o latifundiário na época ameaçou alguns trabalhadores rurais, conta-se que ele estava por traz do mandato das queimas de casas de alguns camponeses, ameaças e recados... além de outras violações de direitos praticadas contra as famílias. A associação convicta da futura vitória, sabendo dos seus direitos sociais, entrou com um pedido de desapropriação de 2.500 hectares de terras para fins de Reforma Agrária, aguardando as determinadas decisões do INCRA. Um outro caso que surgiu com base no conflito foi que pegaram duas pessoas de uma comunidade vizinha que detinham dinamites e bombas caseiras e que estavam rondando as casas das lideranças, os dois jovens foram denunciados e presos na Delegacia de Polícia Civil de Urbano Santos -, acredita-se que os meliantes cumpriam ordens de alguém ligado ao latifúndio relacionado a questão da terra. Os trabalhadores rurais protocolaram um processo e registraram boletins de ocorrência a respeito do caso. A Secretária Agrária da FETAEMA - Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Maranhão viajou várias vezes para orientar os trabalhadores: como deveriam se comportar diante da questão. O advogado da causa entrou com o processo no Tribunal de Justiça contra os desmandos e ameaças para com os camponeses; portanto o resultado saiu essa semana, segundo o Leonilson, favorecendo a associação de moradores. O INCRA já fez a pré-qualificação da área – mas as famílias que moram lá esperam a vistoria para o titulo final e construção das habitações e demarcação das reservas legais de proteção ambiental. São mais de 30 famílias que vivem e trabalham de roça para as suas subsistências, plantam várias culturas variando de arroz, feijão, milho, mas a maior produção socioeconômica é a fabricação de farinha de puba, o povoado fica bem próximo do Rio Preto, onde facilita a pesca artesanal que ajuda na alimentação da população. Uma região de chapadas repletas de bacuris, que já estão visadas pelo agronegócio que vivem nas redondezas como é o caso da comunidade vizinha, Calabar. Durante a realização do III Seminário Agrário que aconteceu este mês no STTR nós debatíamos os conflitos das áreas; a participação da Santa Rosa / Bacabal foi muito especial, os moradores trouxeram arroz e farinha para ajudar nas despesas de alimentação dos outros companheiros de outras comunidades, deram seus depoimentos, mostrando com clareza seus otimismos com relação a situação fundiária. Todo mundo é sabedor que o INCRA e o ITERMA são lentos de mais, talvez pela grande demanda que o Maranhão apresenta, apesar de muitas gente não concordar com isso. Pois as coisas só funcionam na pressão, muitos processos que estão engavetados e caducos precisam da cobrança das associações, como é o caso do São Raimundo da Francisca, também município de Urbano Santos, São Raimundo espera pela titulação há muito tempo, além do enfrentamento direto com o latifúndio local a comunidade guerreia contra o agronegócio que destrói as chapadas. O STTR ajudou no pedido de desapropriação fundiária por intermédio de declarações emitidas pelo cartório municipal -, o Izaias – Secretário Agrário da casa, preparou o documento juntamente com o Zequinha – atual Presidente da associação, requerendo junto ao INCRA a área das mais de 2.500 hectares, além da parte das terras devolutas do estado, estas que o proprietário já estava vendendo para o seu beneficio próprio. Se os camponeses trabalham e vivem desde tempos remotos lá, é mais do que justo eles terem o direito de posse. Muitos são os desacatos em nossa Região do Baixo Parnaíba, problemas que se perpetuam desde muitas décadas atrás. Santa Rosa / Bacabal é apenas um caso de tantos outros envolvendo famílias de lavradores que aguardam por justiça e paz. Façamos de nossas ideias as revoluções e com elas o grito que segue nas palavras de ordem pela promoção e valorização das práticas tradicionais, produção agroecológica, preservação ambiental, mais créditos para a agricultura familiar! Abaixo as desordens, pistolagem e ameaças! E que sobretudo faça valer a REFORMA AGRÁRIA DE VERDADE. Política essa que vem sendo feita rudimentarmente, mas não a desejada como deveria ser. Avante Comunidade Santa Rosa / Bacabal pela conquista da terra!

 A luta pela Reforma Agrária é uma luta por vida”.
(Leonardo Boff)

José Antonio Basto
Urbano Santos-MA - 2015
Militante pela Reforma Agrária
bastosandero65@gmail.com
(98) 98607-6807

 

 

 

 

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

As ações fraudulentas e as mudanças de nomenclaturas para usurpação de terras


         Comparando as várias lutas dos trabalhadores e trabalhadoras rurais pela conquista da terra em nosso país, em especial o Maranhão, percebemos que os entreves enfrentados pelo Movimento Camponês nas décadas de 60, 70 e 80 –, onde naquela naquele tempo a principal arma era o enfrentamento braçal – essas coragens de muitos lavradores resultaram em derramamentos de sangue e óbitos, mas esses heróis ficaram na história e na memória dos cânticos e do povo sofrido e oprimido... desprovidos de políticas públicas e direitos.  Hoje em dia os tempos são outros, uma nova geração surge onde poucos se interessam para essa causa; camuflaram então a nomenclatura mudando a frase de “Tomada de terras através da violência contra os lavradores e lavradoras” para “Ação proibitória legal”. O que mudou nisso tudo? Quando se trata dessa questão no cenário nacional, principalmente no Congresso e nos Ministérios do Governo Federal? Apenas as frases. Pois as ações hediondas continuam as mesmas... práticas do grande latifúndio e de grupos empresariais são na verdade agora muito mais selvagens, predatórias e perigosas.

         O MATOPIBA, por exemplo -, expressão que resulta de um acrônimo criado com ideias dos grupos  latifundiários e empresas multinacionais, são as iniciais representativas dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, estados esses que receberão um grande fluxo de ações devastadoras e desenfreadas plantações de monocultivos daqui há algum tempo. Essa expressão designa uma realidade geográfica desses estados onde se encontra o Maranhão, recobrindo parcialmente os quatro estados; caracterizada pela expansão de uma fronteira agrícola pesada principalmente baseada no agronegócio com suas tecnologias modernas e de ponta. Será que as populações tradicionais foram consultadas desse projeto? Como ele será implantado? Que se diz ter a parceria do MDA, INCRA, EMBRAPA, MAPA entre outras entidades? A Região do Baixo Parnaíba Maranhense será palco desse projeto, em nossas chapadas o agronegócio continua avançando e com muito mais força. Parte dessas respostas podemos dizer que saíram hoje 29/09/2015 em um debate no III SEMINÁRIO AGRÁRIO DO SINDICATO DOS TRABALHADORES E TRABALHADORAS RURAIS DE URBANO SANTOS, que durante a programação trabalhamos com representantes de 41 associações rurais do município o seguinte tema chave: “Terra, Água e Sustentabilidade”. Dona Lúcia Vieira – Secretária Agrária da FETAEMA, em sua fala sobre “Avaliação Fundiária no Baixo Parnaíba”, se preocupou com tal desenvolvimento do MATOPIBA – esse desenvolvimento que na verdade é só para os grandes; analisando ainda as políticas nacionais e contemporâneas para a Reforma Agrária, em meio a um processo de crise econômica e social, que se encaixa nas disputas de poderes políticos como é o caso da problemática no Ministério da Agricultura.  Nos perguntávamos como serão desenvolvidas essas caracterizações territoriais do quadro natural, agrário, agrícola, rural e socioeconômico das 31 microrregiões e 337 municípios dos quatro estados que compõem a região. Eu apresentava na parte da manhã baseado no título acima, uma explanação prévia para o entendimento da Situação Fundiária no Brasil, em especial no Estado do Maranhão com fundamentações de pesquisas nos livros: “Conflitos e Lutas dos Trabalhadores Rurais no Maranhão, de Alfredo Wagner – 1982”; “Retrato da Repressão Política no Campo – Brasil, 1962 – 1985, publicação da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos”; “Terra, trabalho e poder: Conflitos e lutas sociais no Maranhão Contemporâneo”, do Professor Marcelo Carneiro e “O Eldorado dos Gaúchos”, do Professor Rafael Gaspar. Essas obras serviram para o entendimento e direcionamento dos parâmetros a respeito da luta no campo pela posse da terra; os desafios a serem enfrentados na atualidade que não são diferentes das épocas passadas: assassinatos e ameaças de trabalhadores rurais... índios... quilombolas e lideranças sindicais. O Maranhão já ultrapassou o Pará em conflitos fundiários e problemas de pistolagem, subindo para o primeiro lugar, onde a impunidade prevalece porque quem ataca é sempre o mais forte -, o latifúndio que é ligado a algum grupo político; quem desacata cercando, devastando as cabeiras de rios é sempre um grupo empresarial que detesta camponeses reunidos lutando pela garantia de seus direitos.

         E daí entra em jogo um todo conjunto de ações fraudulentas que apenas mudaram as nomenclaturas para usurpação de terras rurais das populações tradicionais. O que fazer agora? Falando de nossa casa, Território Livre do Baixo Parnaíba, pensamos como se encontra as organizações sociais que outrora conquistaram a ferro e fogo, derrubando fornos, cortando cercas, interditando estradas e gritando para a mídia, governos e órgãos competentes de defesa dos direitos dos cidadão e cidadãs de bem que ajuda a constrói esse país num sonho de paz, harmonia e liberdade. Fica as incógnitas.

José Antonio Basto
Urbano Santos-MA, 29 de setembro de 2015
Militante em defesa da Reforma Agrária
email: bastosandero65@gmail.com

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Os frutos da terra nos confins da Primavera!


O “P.A Primavera” localizado no município de Urbano Santos, Baixo Parnaíba Maranhense há 40km da sede da cidade é um ASSENTAMENTO DO INCRA com 1.742  hectares de terra, esta comunidade tradicional que vive da agricultura familiar como forma de desenvolvimento sustentável e solidário é uma região de matas virgens, cabeceiras de rios e riachos onde mora uma grande diversidade de pássaros e outros animais silvestres; madeiras  como mirim, maçaranduba, ipê roxo e amarelo, Camaçari, pindaíba, aroeira, sapucaia são espécies da vegetação quase não encontrada mais em outras regiões, mas lá tem com abundância. A Primavera tem uma história de resistência pela posse da terra – há algum tempo atrás os trabalhadores rurais foram para o embate formando uma associação de moradores para adquirir o bem comum. O latifundiário ainda tentou resistir às exigências dos camponeses, mas por fim a fazenda foi desapropriada e a área titulada para fins de Reforma Agrária. A produção de mandioca para a fabricação de farinha de puba é a mais importante renda familiar daquela comunidade, além da criação de pequenos e médios animais como pato, capote, galinha caipira, suínos e cabras. O Sr. Antonio Rodrigues da Costa – Presidente da Associação dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Assentamento Gleba Primavera, solicitou em parceria com o STTR de Urbano Santos a presença da ouvidoria agrária do INCRA afim de ajudar a resolver alguns problemas que vem acontecendo dentro do assentamento, como por exemplo a questão do desmatamento ilegal das encostas de morros, roçagem da beira do riacho, extração de madeira e caça predatória. Quando a fazenda pertencia seu antigo proprietário, este fez questão de preservar parte do terreno... matas e chapadas - quando foi desapropriado pelo governo federal, foi tirado as reservas ecológicas mantendo seu estado normal com fauna e flora. Infelizmente muitos camponeses por mais que moram nas áreas de assentamento acabam cometendo delitos, desobedecendo os estatutos das associações e prejudicando o meio ambiente, roçando as beiras dos riachos e não se preocupando com a biodiversidade e o ecossistema. No caso da Primavera quem vem cometendo tais erros são os assentados vizinhos que já não acham mais recursos naturais em seus assentamentos (como madeira e caça) e adentram então em áreas alheias, conforme depoimento do Antonio (presidente). As famílias assentadas estão aguardando do governo a construção das habitações e o programa do fomento. No Região do Baixo Parnaíba são muitos os exemplos de comunidades como a Primavera -, mas que resistem aos obstáculos e desafios em meio as dificuldades enfrentadas quando de fala em questão agrária. Hoje em dia, nesse momento difícil de crise econômica e política, os trabalhadores rurais são os mais atingidos, apesar de suprir as necessidades econômicas no que se diz respeito a alimentação da população. Atualmente a maior parte dos alimentos que abastecem a mesa dos brasileiros vem das pequenas propriedades. A agricultura familiar favorece emprego de práticas produtivas ecologicamente mais equilibradas, como a diversificação de cultivo, o menor uso de insumos industriais e a preservação do patrimônio genético. Segundo dados do Censo Agropecuário de 2006, 84,4% do total de propriedades rurais do país pertencem a grupos familiares. São aproximadamente 4,4 milhões unidades produtivas, sendo que a metade delas estão na Região Nordeste. Esses estabelecimentos representavam 84,4% do total, mas ocupavam apenas 24,3% (ou 80,25 milhões de hectares) da área dos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Com base no o último Censo Agropecuário 2010, a agricultura familiar responde por 37,8% do valor bruto da produção agropecuária. De acordo com o MDA, aproximadamente 13,8 milhões de pessoas trabalham em estabelecimentos familiares, o que corresponde a 77% da população que se ocupa da agricultura. Isso é um exemplo de que o Movimento dos Trabalhadores do campo tem conseguido avançar, mas ainda não foi o suficiente, pois em nosso país ainda impera no campo o fantasma da pistolagem, desrespeito aos direitos humanos e o grande impacto ambiental. O assentamento Primavera é uma partícula dessas mudanças, dessas lutas que vem apesar de tudo, se concretizando ao longo do tempo. Precisa-se urgentemente fazer REFORMA AGRÁRIA, pois são tantas terras sem atividade de produção e muita gente querendo trabalhar nelas!

José Antonio Basto
Militante dos Direitos Humanos
Email: bastosandero65@gmail.com
(98) 98607-6807

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Cerrado do Tocantins

[Tocantins]
O ônibus passava com rapidez
Da janela avistavam-se as copas
Das matas por cima dos carrascos
Sobre a luz do sol que morria
Numa ultima visão da floresta
Os campos de capim-dourado reluzentes
Eram como esteiras de ouro que clamavam
Por um espaço natural assim como antes...
Os gados pastavam nas fazendas -
Podia se avistar aldeias indígenas
Na beira da estrada...
Povos que antes tiravam do cerrado o
Necessário para suas sobrevivências
A natureza que morrera pela mão do homem
A natureza que chorou e continua chorando
Que implora por dias melhores.
Para ultima lembrança do viajante
Ficara o quadro do Rio Tocantins
Com suas águas azuis correndo rumo a Amazônia
E que também não escapara
Do impacto da barragem.

José Antonio Basto
Tocantins, 13 de agosto de 2015