segunda-feira, 30 de novembro de 2015

SÃO RAIMUNDO: a nascente verde do Baixo Parnaíba


É só trilhar pelas veredas da Comunidade São Raimundo, Município de Urbano Santo -, Baixo Parnaíba, no leste do nosso estado. Povoado simples entre a encosta da chapada e o Rio Preguiças, onde residem pessoas honestas e trabalhadoras. Suas chapadas e brejos reflorescem o sentido da vida de que um outro mundo ainda é possível. A consciência ecológica de seu povo faz com que esta comunidade seja especial no que se diz respeito a preservação do meio ambiente e da biodiversidade. Um lugar no meio do Território Livre do Baixo Parnaíba que até a algum tempo atrás era difícil se chegar por lá. Aquele lugar está crescendo conforme os progressos que chegam para atender a população. Os estudantes ganharam uma escola nova que até então não tinham; a associação além da batalha fundiária pela terra, também desenvolve projetos de manejos do bacuri e outros frutos do cerrado, criam animais pequenos e aves. Os trabalhadores e trabalhadoras rurais do São Raimundo pregam em seus ofícios do dia-a-dia a grande importância de se preservar o pouco que ainda resta na natureza como os braços do Rio Preguiças que abastece com água, peixes e frutos como o buriti e juçara, os moradores protegem as chapadas que lhes dão bacuris, pequis, mangabas e madeira, rondam os variantes nas matas onde fazem suas roças de subsistência. A comunidade São Raimundo merece destaque pela sua luta em defesa dos direitos humanos e da vida. Esse pedaço verde que renasce em suas nascentes e afluentes no seio de nossa querida Região do Baixo Parnaíba Maranhense.
 
José Antônio Basto

 


 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

COMUNIDADE SÃO RAIMUNDO: O VERDE NA MENSAGEM DA VIDA!


O mundo tem vários pedaços e vários cantos e recantos, pertos e longínquos... um desses pedaços de encantos está localizado nos plenos confins do leste maranhense, na Região do Baixo Parnaíba –, território antigo e tradicional há séculos que foi habitado por quilombolas, vaqueiros, índios e caboclos valentes na composição dos exércitos dos balaios; lá está a comunidade tradicional de São Raimundo, um cartão verde na mensagem da vida, humilde, mas hospitaleiro e acolhedor. Suas chapadas, lagoas e brejais são verdadeiras fontes de vida, nas chapadas concentra-se os bacurizais e pequizeiros que neste período seus botões e flores enfeitam e escorregam sobre o vento cheiroso do perfume que anuncia a fartura do próximo ano. De janeiro a março é o período da safra do bacuri onde as mulheres, homens e meninos cai o corpo no cerrado com cofos e jacás para a festa da colheita. Sua gente se dedica a preocupar-se com a natureza, com a educação popular, preservando as nascentes e brejos para que seus filhos alcance a beleza do lugar. Infelizmente o fogo ainda destrói as raízes das árvores e o agronegócio devasta e avança devagar nos arredores com a poluição de agrotóxico que brota dos campos de eucalipto e soja. Mas mesmo assim o sentimento de liberdade de seu povo, a força pujante na luta pela terra e por direitos humanos acelera o motor da liberdade em frente. São Raimundo prega com otimismo as mensagens e capítulos num momento de alerta, de secas, de problemas fundiários e ambientais, capítulos que ajudam a construir uma história bonita de ouvir, de se ler e, sobretudo viver.

José Antonio Basto                                                                     
23/11/2015

quarta-feira, 11 de novembro de 2015

São Raimundo: um pedaço verde do mundo


A reunião da SMDH – Sociedade Maranhense de Direitos Humanos com a Associação Comunitária da Comunidade no dia 09/11/2015, que tinha o objetivo de falar sobre o Projeto de Rebrotamento de bacurizeiros nativos, estava preste acontecer.  Como não bastasse o deslocamento sempre complicado, pois a Roseane e a Drª Dayana já adivinhara as avalanches que aquelas estradas traziam para quem não sabe destrinchá-las, hoje em dia essas estradas foram modificadas pelos eucaliptos da Suzano, os velhos caminhos não são mais os mesmos. O projeto que está dando certo no Pará com as orientações dos técnicos da EMBRAPA-PA, pertente aplicar essas experiências no Baixo Parnaíba Maranhense. Uma das ideias é desenvolver esse trabalho em uma comunidade da região de chapadas bonitas de se ver, que cobre as comunidades vizinhas: Boa união, Santa Felomena, Bom Princípio e Bracinho. O São Raimundo deve puxar essa carruagem pelo espirito de lutas e conquistas que tem, a exemplo do documento que a associação elaborou há algum tempo atrás de proibição da derrubada do bacuri verde; além dos capítulos de resistência pela posse da terra e proteção das chapadas, entraves que até hoje vem sendo superados pelo desejo da Reforma Agrária. Partindo da consciência ecológica dos trabalhadores rurais do povoado que sustentam suas famílias com suas roças e coletas de frutos -, este fruto precioso e sagrado das comunidades chapadeiras, fonte de renda e de vitaminas. A SMDH pensava logo de primeira nessa possibilidade de implantação do projeto naquele “pedaço verde do mundo”. Pois alguns membros da comunidade já participaram de um projeto parecido “Manejos dos bacuris e reflorestamentos das chapadas com valorização dos frutos do cerrado”- orientado pelo saudoso Fórum Carajás, na pessoa do Mayron Regis, um jornalista que entende de criação de galinhas, segundo Rosy! O projeto da SMDH tende complementar os frutos colhidos dos já iniciados por esses órgãos-, tomando como orientação um artigo que o grande Professor e pesquisador Marcelo Carneiro da UFMA mandara para o e-mail da Roseane. O artigo mostra com clareza que na Região Amazônica do Pará deu certo esse trabalho, uma vez que é raro bacurizeiros... e aqui no Baixo Parnaíba que esses frutos nascem e brotam naturalmente em nossas chapadas? Acha-se que o projeto vai dá certo e vai mesmo. Temos muitas chapadas que precisam serem protegidas por lei, os problemas ambientais avançam a cada dia e o que temos de garantia para barrar tamanho empreendimento capitalista? Surge nesse cenário com os levantamentos dos problemas frisados pela Francisca do São Raimundo, a ideia de um “Encontro sobre o manejo sustentável dos bacuris e alimentação de propostas para uma lei municipal de proibição da derrubada dos bacuris verde” – alargando para outras fronteiras no território municipal e não apenas no São Raimundo, pois eles não precisam da lei, lá existe lei. Ficou marcado este encontro para o dia 02 de dezembro de 2015, com participação de autoridades do poder público municipal, poder legislativo, INCRA, SEMA, SMDH, STTR, associações rurais do município e militantes ativistas pelos direitos humanos. A associação juntamente com os alunos da escola local apresentarão trabalhos voltados para a biodiversidade do cerrado, escassez da água, preservação dos recursos e tratarão também sobre a terra e desmatamento. Voltando ainda a falar do projeto, a SMDH tem como proposta o manejo das técnicas desenvolvidas para o rebrotamento do bacuri e suas caracteristicas ímpares a partir de suas raízes; produção em curto prazo para aumento da renda familiar, além do reflorestamento de áreas desmatadas e aquelas não deveriam ser desmatadas.
Finalizando a reunião a Dª Dayana falou da questão da terra, sobre o demoroso processo de desapropriação do São Raimundo para fins de Reforma Agrária que não se entende entre o INCRA e o Loeff, o INCRA lerdo como é e o Loeff querendo vender a terra para o governo a preço de mercado – sendo que nem lá ele mora, não tem casa, nem sítio... quer pegar quase um milhão na terra! É o besta! Pois bem a reunião terminava com um suco de bacuri ou refrigerante? Preferi suco, antes do almoço de galinha caipira. São Raimundo: um pedaço verde do mundo é a historia viva das lutas fundiárias dos nossos tempos no leste maranhense; terra de gente humilde, hospitaleira... trabalhadores... pedaço do mundo que liga a chapada ao Rio Preguiças.

 José Antonio Basto
Novembro de 2015
Urbano Santos-MA



terça-feira, 3 de novembro de 2015

A CHAPADA E O VENTO LESTE


Ela chorava quando o vento batia em seus bacurizeiros, quando o vento se ia e logo vinha a noite calma e densa; ela chorava quando lembrara da fronteira da soja e do eucalipto selvagem que através do veneno perigoso já secara todas as suas poucas nascentes. Ela chorava quando de repente se lembrava que mora agora dentro do agronegócio. O vento leste cortava o pedaço do mundo em direção aos portais do Parque dos Lençóis, desembocando no horizonte do mar tenebroso. Ela estava ali cansada desde tempos bem remotos – algumas décadas de pura solidão aparavam suas lágrimas; as épocas românticas já não se falam mais; os tempos de fartura, tampouco. Ironia do destino ou ignorância da raça humana? O dinheiro que talvez certos dias comprassem tudo, hoje não compra nada... porque o bem mais precioso das chapadas que são as cabeceiras dos rios e riachos elas desapareceram totalmente vítima do grande impacto ecológico e social. Muitas coisas mudaram de curso, as águas mudaram seu curso, o consumismo atingiu seu apogeu e os viventes pensantes não guardam consigo se quer uma gota de consciência. O vento soprava para o Baixo Parnaíba e anunciava uma era futura de sonhos com o revestimento das espécies vegetais e o reaparecimento dos animais das matas. Aquele vento leste trazia sobre as brumas e as nuvens as canções de comunidades que não se mais ouvia... os batuques, os toques, os tiros no sertão e os tambores num gingado de história e resistência armada. São nas chapadas que estão os restos mortais dos vultos líderes que deram inicio a essa guerra em que todos estão envolvidos na atualidade. Os tiros e morteiros que atravessaram séculos e séculos estão adormecidos no mesmo barro amarelo... na mesma terra regada de sangue dos mártires com sede e esperança de justiça.

José Antonio Basto