quinta-feira, 31 de julho de 2014

A vereda, o medo... e a coragem!


muralhas antigas do pov. Santa Maria
Certo dia bateu uma velha saudade de visitar a comunidade tradicional de Santa Maria, terra de histórias e lendas que atravessam gerações. Então fui até a casa do Sr. Nonato Crispim velho corajoso que ainda prefere se vestir e calçar a moda antiga. Perguntei ao Crispim como estava a área onde era localizada a antiga fazenda de cana de açúcar do fazendeiro João Paulo de Miranda, Crispim não escutou direito, fui obrigado então a repetir novamente, ele me respondeu dizendo que a área do engenho está sendo ameaçada, pois agora pertence a um gaúcho que não entende nada de Reforma Agrária e muito menos do valor de nossa  identidade cultural. Fazia uma boa temporada que não visitava aquela área, atravessamos o Rio Boa Hora por cima de um buritizeiro e chegamos do outro lado com muita dificuldade, Crispim que quase não se cala contou a famosa história de quando o antigo fazendeiro se apropriou da área, isso ainda no século XIX, pois agora ela está sob processo tramitando no INCRA para desapropriação fundiária em beneficio da comunidade. Trilhamos as veredas fechadas repletas de espinho de tucum e coroatás, fomos primeiramente até um famoso pé de pequi que tem mais ou menos 150 anos de existência... é um pequi-açú, árvore frondosa e admirável. O velho Crispim que já se encontra na casa dos 90 anos de idade disse que quando era criança o pequizeiro já era daquele jeito, refletindo que a existência da fazenda tem um tempinho. Segundo informações dos antigos moradores, a história de Santa Maria remonta o período oitocentista e o inicio dos ciclos das fazendas no baixo paraíba maranhense, Antonio Paulo de Miranda veio do Piauí para montar seu engenho de açúcar e criar gado nas proximidades do rio Boa Hora, para que ele desenvolvesse os trabalhos de produção de açúcar teve portanto que modificar a geografia do rio. Foi construído uma parede de pedra para mudar o nível e assim facilitar a moenda da roda no córrego. Até hoje existe os vestígios das muralhas e pedras polidas que cercavam a área dos fornos e um calabouço que acredita-se ter sido construído para castigar negros fujões. Visitamos um por um de cada resto que sobrou das paredes da antiga casa grande do fazendeiro e as casas de fornos. Tudo dentro do matagal, aquela área deveria ser preservada e protegida por algum órgão do patrimônio histórico, já que está em processo. Muitos alunos com o auxilio de professores já visitaram aquele lugar, além de outros pesquisadores profissionais de universidades. Cansativos, concluímos a visita e as fotos e por volta de meio dia retornamos para as moradias. Crispim já bastante cansado pela idade descansou um pouco debaixo das mangueiras para acrescentar suas histórias. Disse que seu avô lhe contava sobre as brincadeiras dos escravos de João Paulo de Miranda, que após os trabalhos iam tocar tambor e berimbau para o lado da “chapada do meio”, um lugar bem distante das casas, hoje coberta de eucalipto e pertencente à Suzano. Ainda relembrou sobre as passagens das negras que pegavam água em cabaças e as rezas de dor de dente que as benzedeiras praticavam no povoado.
buritizeiro da fonte, próximo à construção das muralhas no rio
O tempo foi passando e as histórias quase não tinham fim, foi daí então que o ancião Crispim começou a destrinchar as passagens macabras da comunidade desde os tempos dos escravos e as atrocidades praticadas pelos feitores de João Paulo de Miranda. Disse que o fazendeiro quando foi embora, pegou toda sua riqueza e depositou dentro de um forno de cobre e colocou outro por cima e atirou tudo junto a um poço no rio, conhecido como “poço da obra” -, acredita-se de uma grande riqueza em ouro e prata que até hoje está lá no fundo d`água, o poço é vigiado por um peixe surubim pintado que assusta os moradores quando aparecem no lugar. Em fim... teve muitas outras  versões dos contos orais do Sr. Crispim, onde imagina-se a potencia de informações de uma memória rica daquele senhor de idade. Foi um grande aprendizado, além do medo nas veredas fechadas e a coragem de voltar pra casa.

José Antonio Basto
 *Poeta e pesquisador
Urbano Santos-MA, 30/07/2014

terça-feira, 29 de julho de 2014

Um mundo somente pra nós dois


Criei um mundo somente pra nós dois,
Onde a felicidade pairava no horizonte
Um canto de alegria juntou-se tão depois
Quando a lira do tempo enfrentou-me confiante!

Os campos da arcádia era nosso eterno lar
Foste a única em minha vida... a mais bela flor!
Estes versos sãos teus, venha logo... venha me amar!
E viver para sempre junto desse teu amor!

                                                           (José Antonio Basto)

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Finda-se a existência de um vate, exceto sua obra... seu imortal legado


Ariano acadêmico da ABL
Ontem, 23 de Julho de 2014, a morte levou mais um dos grandes nomes de nossa literatura, dessa vez ficou gravado o nome no panteon da história a figura emblemática de Ariano Suassuna: poeta, dramaturgo, romancista e membro da Academia Brasileira de Letras. O sopro servil chegou ao leito do grande vate de nossa cultura popular nordestina, idealizador do Movimento Armorial e autor de obras como Auto da Compadecida e O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, foi um preeminente defensor da cultura nordestina. Muito culto, preferiu em sua extensa obra falar das coisas simples do chão onde nasceu, das terras nordestinas paraibanas e brejeiras que nos deu tantos nomes imortais assim como os também escritores Augustos dos Anjos, José Américo de Almeida e José Lins do Rego; cantores como Chico Cesar e Zé Ramalho. Foi lá em meio às criações de cabras, o sol ardente da caatinga  e o som de violas no repente que nasceu sua magia literária. Nascido no lugarejo Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), no dia 16 de junho de 1927, filho de Cássia Vilar e João Suassuna. No ano seguinte, seu pai deixa o governo da Paraíba e a família e passa a morar no Sertão, na Fazenda Acauã, em Aparecida (PB). Com a Revolução de 1930, seu pai foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro e a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral.  A partir de 1942 passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambucano, no Colégio Americano Batista e no Colégio Osvaldo Cruz. No ano seguinte iniciou a Faculdade de Direito, onde conheceu Hermilo Borba Filho. E, junto com ele, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, “Uma Mulher Vestida de Sol”. Em 1948, sua peça Cantam as Harpas de Sião (ou O Desertor de Princesa) foi montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Os Homens de Barro foi montada no ano seguinte.
Em 1950, formou-se na Faculdade de Direito e recebeu o Prêmio Martins Pena pelo Auto de João da Cruz. Para curar-se de doença pulmonar, viu-se obrigado a mudar-se de novo para Taperoá. Lá escreveu e montou a peça Torturas de um Coração em 1951. Em 1952, volta a residir em Recife. Deste ano a 1956, dedicou-se à advocacia, sem abandonar, porém, a atividade teatral. São desta época O Castigo da Soberba (1953), O Rico Avarento (1954) e o Auto da Compadecida (1955), peça que o projetou em todo o país e que seria considerada, em 1962, por Sábato Magaldi “o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”.
Em 1956, abandonou a advocacia para tornar-se professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco. No ano seguinte foi encenada a sua peça O Casamento Suspeitoso, em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso, e O Santo e a Porca; em 1958, foi encenada a sua peça O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna; em 1959, A Pena e a Lei, premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro.
João e Chicó - Auto da Compadecida
Ariano tirando um cochilo no aeroporto de Brasília
Em 1959, em companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste, que montou em seguida a Farsa da Boa Preguiça (1960) e A Caseira e a Catarina (1962). No início dos anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para dedicar-se às aulas de Estética na UFPE. Ali, em 1976, defende a tese de livre-docência A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira. Aposenta-se como professor em 1994.
Membro fundador do Conselho Federal de Cultura (1967); nomeado, pelo Reitor Murilo Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE (1969). Convocou nomes expressivos da música para procurarem uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado em Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto “Três Séculos de Música Nordestina – do Barroco ao Armorial” e com uma exposição de gravura, pintura e escultura.
Entre 1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) e História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificados por ele de “romance armorial-popular brasileiro”.
Ariano Suassuna construiu em São José do Belmonte, onde ocorre a cavalgada inspirada no Romance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre, constituído de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo, representando o sagrado e o profano. As três primeiras são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município.
Em 2004, com o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário intitulado O Sertão: Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas Machado e que foi exibido na Sala José de Alencar.
Em 2002, Ariano Suassuna foi tema de enredo no carnaval carioca na escola de samba Império Serrano; em 2008, foi novamente tema de enredo, desta vez da escola de samba Mancha Verde no carnaval paulista. Em 2013 sua mais famosa obra, o Auto da Compadecida será o tema da escola de samba Pérola Negra em São Paulo.
Em 2006, foi concedido título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Ceará, mas que veio a ser entregue apenas em 10 de junho de 2010, às vésperas de completar 83 anos. "Podia até parecer que não queria receber a honraria, mas era problemas de agenda", afirmou Ariano, referindo-se ao tempo entre a concessão e o recebimento do título.
Durante o mandato de Eduardo Campos, Ariano foi assessor especial do Governo de Pernambuco, até abril de 2014.
Ariano morreu no dia 23 de julho de 2014 no Real Hospital Português, no Recife, onde deu entrada na noite do dia 21, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC), passando por procedimento cirúrgico com colocação de dois drenos para controlar a pressão intracraniana. Ele ficou em coma e respirando por ajuda de aparelhos.

Uma das mais importantes obras de Ariano
A obra artístico-literária de Suassuna nos faz perceber que a vida tem sentido quando fazemos o que gostamos, um grande mestre que o Brasil perdeu neste ano assim também como Rubens Alves e João Ubaldo. O Brasil está perdendo seus grandes vultos contemporâneos, então como ficará nossa língua agora? Suassuna sujeito simples que preferiu ser conservador por toda sua vida... não usando o computador para escrever usando então os rabiscos a punho e a velha maquina de datilografia, foi este homem que acordava ouvindo cantorias de violas em sua fazenda que um dia disse:

"Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza  até a morte:
o riso a cavalo e o galope do sonho
É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver
."

O Brasil inteiro está de luto, a língua portuguesa está de luto, por findar-se a existência de um vate, exceto sua obra... seu legado.

J.A.B


*Em dedicação ao falecimento de Ariano Suassuna: 1927-2014

Fontes de estudo e pesquisas:
·         internet – wikipédia; pensador uol.com; www.iparaiba.com
·         Livro: “A arte da Literatura Brasileira”.

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Entre livros


Foi numa certa manhã junto aos livros da alegria
Você a rainha de Sabá -, eu o louco Salomão...
Lá onde o tempo relembrou os impulsos do coração,
Como o cenário da Biblioteca de Alexandria.

Voltei ao passado... e sabes que meu amor não é fantasia
Traga ó Senhora minha pena em gratidão -
Ciente ficará que és única -, a sombra da paixão!
Dai-me mais um beijo pra matar minha nostalgia.

Fugiremos para um novo mundo que inventei
Longe de tudo, das avalanches e maldades...
Acredite nesse instante que só a ti me dediquei,

Venha nessas páginas do tempo matar esta saudade!
Junto ao infinito das letras, alegre te olhei
Vamos disparar no tempo em busca da felicidade?

 José Antonio Basto
22/07/2014

            “Se acaso você não possa
             Me carregar pela mão,
            Menina branca de neve
           Me leve no coração”.  (F.G)