quinta-feira, 24 de julho de 2014

Finda-se a existência de um vate, exceto sua obra... seu imortal legado


Ariano acadêmico da ABL
Ontem, 23 de Julho de 2014, a morte levou mais um dos grandes nomes de nossa literatura, dessa vez ficou gravado o nome no panteon da história a figura emblemática de Ariano Suassuna: poeta, dramaturgo, romancista e membro da Academia Brasileira de Letras. O sopro servil chegou ao leito do grande vate de nossa cultura popular nordestina, idealizador do Movimento Armorial e autor de obras como Auto da Compadecida e O Romance d'A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, foi um preeminente defensor da cultura nordestina. Muito culto, preferiu em sua extensa obra falar das coisas simples do chão onde nasceu, das terras nordestinas paraibanas e brejeiras que nos deu tantos nomes imortais assim como os também escritores Augustos dos Anjos, José Américo de Almeida e José Lins do Rego; cantores como Chico Cesar e Zé Ramalho. Foi lá em meio às criações de cabras, o sol ardente da caatinga  e o som de violas no repente que nasceu sua magia literária. Nascido no lugarejo Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), no dia 16 de junho de 1927, filho de Cássia Vilar e João Suassuna. No ano seguinte, seu pai deixa o governo da Paraíba e a família e passa a morar no Sertão, na Fazenda Acauã, em Aparecida (PB). Com a Revolução de 1930, seu pai foi assassinado por motivos políticos no Rio de Janeiro e a família mudou-se para Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. Nessa cidade, Ariano fez seus primeiros estudos e assistiu pela primeira vez a uma peça de mamulengos e a um desafio de viola, cujo caráter de “improvisação” seria uma das marcas registradas também da sua produção teatral.  A partir de 1942 passou a viver no Recife, onde terminou, em 1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambucano, no Colégio Americano Batista e no Colégio Osvaldo Cruz. No ano seguinte iniciou a Faculdade de Direito, onde conheceu Hermilo Borba Filho. E, junto com ele, fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em 1947, escreveu sua primeira peça, “Uma Mulher Vestida de Sol”. Em 1948, sua peça Cantam as Harpas de Sião (ou O Desertor de Princesa) foi montada pelo Teatro do Estudante de Pernambuco. Os Homens de Barro foi montada no ano seguinte.
Em 1950, formou-se na Faculdade de Direito e recebeu o Prêmio Martins Pena pelo Auto de João da Cruz. Para curar-se de doença pulmonar, viu-se obrigado a mudar-se de novo para Taperoá. Lá escreveu e montou a peça Torturas de um Coração em 1951. Em 1952, volta a residir em Recife. Deste ano a 1956, dedicou-se à advocacia, sem abandonar, porém, a atividade teatral. São desta época O Castigo da Soberba (1953), O Rico Avarento (1954) e o Auto da Compadecida (1955), peça que o projetou em todo o país e que seria considerada, em 1962, por Sábato Magaldi “o texto mais popular do moderno teatro brasileiro”.
Em 1956, abandonou a advocacia para tornar-se professor de Estética na Universidade Federal de Pernambuco. No ano seguinte foi encenada a sua peça O Casamento Suspeitoso, em São Paulo, pela Cia. Sérgio Cardoso, e O Santo e a Porca; em 1958, foi encenada a sua peça O Homem da Vaca e o Poder da Fortuna; em 1959, A Pena e a Lei, premiada dez anos depois no Festival Latino-Americano de Teatro.
João e Chicó - Auto da Compadecida
Ariano tirando um cochilo no aeroporto de Brasília
Em 1959, em companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste, que montou em seguida a Farsa da Boa Preguiça (1960) e A Caseira e a Catarina (1962). No início dos anos 60, interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para dedicar-se às aulas de Estética na UFPE. Ali, em 1976, defende a tese de livre-docência A Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira. Aposenta-se como professor em 1994.
Membro fundador do Conselho Federal de Cultura (1967); nomeado, pelo Reitor Murilo Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPE (1969). Convocou nomes expressivos da música para procurarem uma música erudita nordestina que viesse juntar-se ao movimento, lançado em Recife, em 18 de outubro de 1970, com o concerto “Três Séculos de Música Nordestina – do Barroco ao Armorial” e com uma exposição de gravura, pintura e escultura.
Entre 1958-79, dedicou-se também à prosa de ficção, publicando o Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta (1971) e História d’O Rei Degolado nas Caatingas do Sertão / Ao Sol da Onça Caetana (1976), classificados por ele de “romance armorial-popular brasileiro”.
Ariano Suassuna construiu em São José do Belmonte, onde ocorre a cavalgada inspirada no Romance d’A Pedra do Reino, um santuário ao ar livre, constituído de 16 esculturas de pedra, com 3,50 m de altura cada, dispostas em círculo, representando o sagrado e o profano. As três primeiras são imagens de Jesus Cristo, Nossa Senhora e São José, o padroeiro do município.
Em 2004, com o apoio da ABL, a Trinca Filmes produziu um documentário intitulado O Sertão: Mundo de Ariano Suassuna, dirigido por Douglas Machado e que foi exibido na Sala José de Alencar.
Em 2002, Ariano Suassuna foi tema de enredo no carnaval carioca na escola de samba Império Serrano; em 2008, foi novamente tema de enredo, desta vez da escola de samba Mancha Verde no carnaval paulista. Em 2013 sua mais famosa obra, o Auto da Compadecida será o tema da escola de samba Pérola Negra em São Paulo.
Em 2006, foi concedido título de doutor honoris causa pela Universidade Federal do Ceará, mas que veio a ser entregue apenas em 10 de junho de 2010, às vésperas de completar 83 anos. "Podia até parecer que não queria receber a honraria, mas era problemas de agenda", afirmou Ariano, referindo-se ao tempo entre a concessão e o recebimento do título.
Durante o mandato de Eduardo Campos, Ariano foi assessor especial do Governo de Pernambuco, até abril de 2014.
Ariano morreu no dia 23 de julho de 2014 no Real Hospital Português, no Recife, onde deu entrada na noite do dia 21, vítima de um acidente vascular cerebral (AVC), passando por procedimento cirúrgico com colocação de dois drenos para controlar a pressão intracraniana. Ele ficou em coma e respirando por ajuda de aparelhos.

Uma das mais importantes obras de Ariano
A obra artístico-literária de Suassuna nos faz perceber que a vida tem sentido quando fazemos o que gostamos, um grande mestre que o Brasil perdeu neste ano assim também como Rubens Alves e João Ubaldo. O Brasil está perdendo seus grandes vultos contemporâneos, então como ficará nossa língua agora? Suassuna sujeito simples que preferiu ser conservador por toda sua vida... não usando o computador para escrever usando então os rabiscos a punho e a velha maquina de datilografia, foi este homem que acordava ouvindo cantorias de violas em sua fazenda que um dia disse:

"Tenho duas armas para lutar contra o desespero, a tristeza  até a morte:
o riso a cavalo e o galope do sonho
É com isso que enfrento essa dura e fascinante tarefa de viver
."

O Brasil inteiro está de luto, a língua portuguesa está de luto, por findar-se a existência de um vate, exceto sua obra... seu legado.

J.A.B


*Em dedicação ao falecimento de Ariano Suassuna: 1927-2014

Fontes de estudo e pesquisas:
·         internet – wikipédia; pensador uol.com; www.iparaiba.com
·         Livro: “A arte da Literatura Brasileira”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário