segunda-feira, 26 de junho de 2017

Pequenos pescadores

Pequenos pescadores de São Raimundo
Eles aprenderam a pescar com seus pais ou com seus irmãos. Pescam no Rio Preguiças para se alimentar porque lá ainda tem água e muita água este ano que muito choveu. Esses meninos talvez nem saibam que existe um projeto para criação da Bacia Hidrográfica do Rio Preguiças, mas tem a consciência ecológica de que o rio lhe fornece alimentos e fartura de água para banhar, lavar e pescar. Na Comunidade São Raimundo todos pesca do grande ao pequeno, seja de dia ou de noite, eles também praticam agricultura e extrativismo, por isso protegem a chapada de onde nasce o rio. A Francisca me contara sobre suas pescarias com o bando de mulheres do São Raimundo adentrando os brejais do Preguiças, os peixes naturais do lugar acham garranchos e juncos para se esconder. Os garotos descem para o rio rumo aos pesqueiros com seus anzóis em busca das piabas, carás, jacundás e outras espécies. Nesse tempo se pesca bastante porque também é tempo de arroz novo.
Moradora de São Raimundo
A pesca artesanal nas comunidades tradicionais não é predatória, serve como segurança alimentar dos ribeirinhos, eles vivem em estreita relação com a natureza e o ambiente do território, eles tem um profundo conhecimento tradicional sobre a reprodução dos seus ciclos. Os moradores de São Raimundo trabalham a terra e protegem o rio que depende do cerrado, a nascente do Preguiças está cercada de eucalipto.
Ação ecológica da escola e comunidade - Campineira
Em 2015 a Associação de moradores em parceria com a escola local desenvolveram um projeto intitulado “Água, seu futuro em nossas mãos” que visava a apresentação de um trabalho com os alunos e toda comunidade no que diz respeito a conscientização ecológica e sobretudo entender sobre a grande importância das águas da região para a sobrevivência das pessoas e de toda biodiversidade. O Professor Domingos e a Francisca – lideranças de São Raimundo e outros companheiros percorreram uma distancia longa até uma das nascentes do Preguiças, local conhecido como “Barra da Campineira – município de Anapurus”. O sol escaldante sobre o couro dos pesquisadores populares deixava claro sobre as dificuldades enfrentadas na luta pela preservação e também o entendimento de que o agronegócio nada tem haver com os modos de vida das comunidades defensoras das florestas, ou seja a “silvicultura” nada representa para essas comunidades. A Suzano teria desmatado uma área próxima a nascente na Barra da Campineira, a água dali desapareceria e a população sofria com os impactos socioambientais.

Rio Preguiças 
Como pescar sem água? Como banhar e cozinhar sem água? Como fazer agricultura sem água? Ironicamente perguntaríamos a nós mesmos! Como já dizia um amigo jornalista em um dos seus artigos: “O José Antonio almoçaria uma galinha caipira daquele jeito que só a Francisca sabe fazer”. Muitos eventos já aconteceram em São Raimundo, desde encontros, seminários e reuniões de entidades do Brasil e do exterior. O Fórum Carajás instituição apoiadora dos projetos de frango caipira e manejos sustentáveis do bacuri sempre foi lembrada em nossas reuniões, eles não se cansam, visitam todo Baixo Parnaíba maranhense. Os Pequenos pescadores voltaram do rio com seus anzóis e uma “enfieira” de peixes que servia para o almoço e jantar.

José Antonio Basto                                                                                                              
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segunda-feira, 19 de junho de 2017

A vendedora de capote

Ela sempre vende merenda pelas ruas da cidade de Urbano Santos, mulher mãe de família muito trabalhadora, passa de casa em casa com sua bacia na cabeça. É de praxe vir na sede do nosso Sindicato (STTR) na sala onde trabalho e oferecer suas vendas, vende de tudo: bolos, canjica, beiju de tapioca, suco natural e outras iguarias provindas da agricultura familiar; a gente sempre lhe ajuda comprando seus produtos naturais -, ela mora na comunidade Baixa D`Água há poucos quilômetros da sede. Sua casa fica próximo ao riacho que lhe fornece água para beber, lavar e irrigar sua pequena horta no quintal.
A Irmão Maria utiliza de outras rendas para sustentar sua família, cria animais de pequeno porte -, eu só não sabia da grande criação de capotes que tinha. Os animais vivem soltos numa área de chapada e brejal, disse que às vezes os capotes embrabecem e não voltam mais... Adentram para as chapadas afora. Certo dia ela passava no Sindicato para vender seus capotes; oferecera dois para a diretoria do Sindicato, R$ 30,00 reais cada ave. A Francisca do São Raimundo que hoje ocupa a Secretaria de Finanças do Sindicato os comprou para um almoço parecido com aqueles das reuniões em São Raimundo que o pessoal do Fórum Carajás bem conhece. Irmã Maria faturou R$ 60,00 reais que ajudará na renda de sua família. Os capotes foram preparados para o almoço com leite de coco babaçú – lembrando muito bem os almoços do São Raimundo, Bracinho e outras comunidades da Região do Baixo Parnaíba maranhense. A Francisca não perde seu talento de fazer um bom almoço, ultimamente ela tem se dedicado aos trabalhos burocráticos do Sindicato, mas os capotes só podiam ser preparados por ela.
Irmão Maria, agora quase não mais vende lanches, prefere se dedicar a criação de seus capotes para vender na feira e pra quem interessar compra-los, seus clientes, assim como o Sindicato, já lhe procura quando sente falta. Os manejos de criações de galinha caipira, capotes e cabras tem sido um negócio sustentável muito bom para as comunidades tradicionais no Baixo Parnaíba. Esse sistema muito tem ajudado as comunidades se manter em seus territórios, valendo acentuar os projetos agroextrativistas do Fórum Carajás em várias comunidades de diversos municípios do Baixo Parnaíba. Maria é parte desse trabalho e dessa consciência ecológica-social com suas aves debaixo do braço já é bastante conhecida pelos consumidores.
A vendedora de capote da Baixa D`Água gosta do ofício que faz, sua posse de terra precisa ser regularizada pelo estado. Ela é mais uma das posseiras que aguarda a vinda do ITERMA. Urbano Santos e Beláguas tem muitas áreas de terras devolutas do estado, terrenos ainda não mapeados, terras de associações que precisam ser arrecadadas para fins de Reforma Agrária. Os capotes para se reproduzir e por ser um animal arisco,  precisam de uma grande área. Ela também vende porções de “cozinhado de capote” já preparado, diga-se de passagem, uma iguaria sem igual dos vários e diversificados pratos regionais.

José Antonio Basto                                                                                                              
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segunda-feira, 12 de junho de 2017

São Raimundo não será invadido

Famílias camponesas descascam a mandioca para fazer farinha
Quantos já foram os problemas enfrentados em São Raimundo, um vilarejo no coração do Baixo Parnaíba! Quantos já foram os entraves em que a Associação travara durante tempos, no contratempo! Quanto lhe custaram viagens, formações, participações em encontros e seminários para aprender defender seus direitos garantidos por lei. Esperam que o INCRA compre a terra do Loeff, mas pra isso esse proprietário tem que sentar para negociação com a instituição do Governo Federal. Ele quer vender a terra a preço de mercado, não vale o valor que pede, vale menos que isso – pede milhões numa área que nem ele mesmo a conhece -, se diz proprietário, mas não tem nada por lá, não tem sítio nem fazenda -, não quer abrir mão do imóvel, que apenas o poder. Quem realmente conhece a chapada do São Raimundo são seus moradores que usufruem e tiram dela parte de sua subsistência alimentar.
Em certa reunião do STTR para renovação da delegacia sindical que acontecera no dia 02 de junho deste, na casa da Francisca, o Zé Banga - atual Presidente da Associação contara ainda assustado de um acontecimento estranho; dizia que alguns poucos dias atrás ele terminava os serviços de sua roça à tardinha, mais ou menos umas cinco horas, descia fiscalizando os variantes (picos do terreno) que divide a área da Associação com outros confrontantes – como sempre ele mesmo diz que constantemente faz esse serviço de fiscalização. Percebeu um barulho esquisito nas nuvens: um helicóptero rondava o céu do São Raimundo, fazia um giro nas extremidades do Rio Preguiças e subia até a chapada - para os lados do Bom Princípio e Boa União. Alguém averiguava algo!
Morador da Comunidade São Raimundo
Quem deveria ser? Os moradores acostumados numa vida pacata e ouvir somente o som dos pássaros e grilos se perguntavam: “Quem está nos filmando?” – “De onde veio esse bicho”? Em meio a essa dúvida, quem realmente teria interesse em sondar de cima pra baixa num helicóptero a situação do São Raimundo? Depois da matéria da TV Mirante sobre a safra do fruto do bacuri no São Raimundo e a resistência da comunidade na luta pela terra e pela preservação ambiental muitas coisas entraram em jogo: um povoado isolado, há mais de cinquenta quilômetros da cidade, que se transformara em exemplo de consciência e forma do trabalho coletivo para outras comunidades do Território do Baixo Parnaíba, essa comunidade a cada momento cresce seu valor existencial. A terra serve como alicerce da vontade de transformação social – os moradores que aguardam melhorias se mantém na área e usam como resistência as práticas agrícolas e extrativistas. A lei de proibição da “não derrubada do bacuri verde” – reforma o sentimento de liberdade e comunhão que eles oferecem a natureza. Precisam conquistar a posse da terra, pois o projeto continua tramitando no INCRA, as 1.136 hectares de terra deve ser desapropriada para as famílias que lá moram e trabalham. São Raimundo está sendo vistoriado não apenas pelos camponeses, mas pela ganancia do capital no campo representado por personagens que não tem o mínimo de respeito pelos movimentos sociais, pela Associação de Moradores... Por nenhum lavrador. “A terra bacurizada das chapadas do São Raimundo vale ouro”.
O Zé Banga, convicto e zangado afirmava no final de sua denuncia que a Comunidade São Raimundo é livre e não será invadida jamais enquanto os caboclos valentes estiverem vivos, a terra é de todos, será defendida com unhas e dentes e não será invadido nem por grileiros, nem por empresas... Nem por latifundiários. A terra será livre.


José Antonio Basto

segunda-feira, 5 de junho de 2017

AS CONTRADIÇÕES DA BELO MONTE: PROBLEMAS E IMPACTOS SOCIO-AMBIENTAIS NO DIA-A-DIA DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS

Cena história da índia Tuíra - 1989
Os problemas de impactos ambientais puxado principalmente pelo capitalismo de ponta atingindo povos e comunidades tradicionais no Brasil, sobretudo na Amazônia e no cerrado são questões preocupantes deste tempos bem remotos. Os investimentos do grande capital no campo só visa o lucro particular das grandes empresas e latifundiários, nem que pra isso tenham que passar por cima dos direitos dos verdadeiros donos dos terriorios, as comunidades tradicionais: índigenas, ribeirinhos, posseiros, camponeses assentados e outros grupos. Um caso a parte foi à construção da Belo Monte que já vinha sido visada pelos grandes empreendimentos desde a década de 70, quando naquela época já vinha sendo feito estudos na Bacia do Rio Xingu.

“1989 Durante o 1º Encontro dos Povos Indígenas do Xingu, realizado em fevereiro em Altamira (PA), a índia Tuíra, em sinal de protesto, levanta-se da plateia e encosta a lâmina de seu facão no rosto do presidente da Eletronorte, José Antônio Muniz, que fala sobre a construção da usina Kararaô (atual Belo Monte). A cena é reproduzida em jornais e torna-se histórica. O encontro teve a presença do cantor Sting. O nome Kararaô foi alterado para Belo Monte em sinal de respeito aos índios.”

A Usina Hidreletrica de Belo Monte foi construída na bacia do Rio Xingu, próximo ao município de Altamira, no sudoeste do estado Pará. O lago da usina terá uma área de 516 km (1/10 000 da área da Amazônia Legal), ou seja 0,115 km por MW efetivo. Seu custo foi estimado pela concessionária em R$ 26 bilhões de reais ou seja R$ 5,7 milhões por MW efetivo. O leilão para construção e operação da usina foi realizado em abril de 2010 e vencido pelo Consórcio Norte Energia com lance de R$ 77,00 milhões por MWh.

“Cacique Raoni chora ao saber que o Governo Federal liberou o inicio das construções de Belo Monte. Belo Monte seria maior que o Canal do Panamá, inundando pelo menos 400.000 hectares de floresta, expulsando 40.000 indígenas e populações locais e destruindo o habitat precioso de inúmeras espécies”.

Em maio de 2010, foi lançado, em Paris, o livro “Memórias de Um Chefe Indígena, de autoria do cacique Raoni – lidernça exemplrar de defesa da Terra Indígena, com prefácio de Jacques Chirac. Na ocasião, o cacique Raoni foi recebido pelo presidente Nicolas Sarkozy e em entrevista à RFI, ameaçou “matar todos os brancos que construíssem as barragens”. A ocasião também mostrou como autoridades francesas são contrárias à construção da barragem.

Desde o início, o projeto de Belo Monte encontrou forte oposição de ambientalistas brasileiros e internacionais, de comunidades indígenas locais e de membros da Igreja Católica. Com a construção da hidrelétrica muitas áreas indigenas foram inundadas, expulsado os nativos de seus territorios para outras regiões distantes. Os movimentos sociais em defesa da floresta e dos direitos humanos como o Greenpeace protestam para que o Governo Federal repense o caso da Belo Monte.


José Antonio Basto