segunda-feira, 12 de junho de 2017

São Raimundo não será invadido

Famílias camponesas descascam a mandioca para fazer farinha
Quantos já foram os problemas enfrentados em São Raimundo, um vilarejo no coração do Baixo Parnaíba! Quantos já foram os entraves em que a Associação travara durante tempos, no contratempo! Quanto lhe custaram viagens, formações, participações em encontros e seminários para aprender defender seus direitos garantidos por lei. Esperam que o INCRA compre a terra do Loeff, mas pra isso esse proprietário tem que sentar para negociação com a instituição do Governo Federal. Ele quer vender a terra a preço de mercado, não vale o valor que pede, vale menos que isso – pede milhões numa área que nem ele mesmo a conhece -, se diz proprietário, mas não tem nada por lá, não tem sítio nem fazenda -, não quer abrir mão do imóvel, que apenas o poder. Quem realmente conhece a chapada do São Raimundo são seus moradores que usufruem e tiram dela parte de sua subsistência alimentar.
Em certa reunião do STTR para renovação da delegacia sindical que acontecera no dia 02 de junho deste, na casa da Francisca, o Zé Banga - atual Presidente da Associação contara ainda assustado de um acontecimento estranho; dizia que alguns poucos dias atrás ele terminava os serviços de sua roça à tardinha, mais ou menos umas cinco horas, descia fiscalizando os variantes (picos do terreno) que divide a área da Associação com outros confrontantes – como sempre ele mesmo diz que constantemente faz esse serviço de fiscalização. Percebeu um barulho esquisito nas nuvens: um helicóptero rondava o céu do São Raimundo, fazia um giro nas extremidades do Rio Preguiças e subia até a chapada - para os lados do Bom Princípio e Boa União. Alguém averiguava algo!
Morador da Comunidade São Raimundo
Quem deveria ser? Os moradores acostumados numa vida pacata e ouvir somente o som dos pássaros e grilos se perguntavam: “Quem está nos filmando?” – “De onde veio esse bicho”? Em meio a essa dúvida, quem realmente teria interesse em sondar de cima pra baixa num helicóptero a situação do São Raimundo? Depois da matéria da TV Mirante sobre a safra do fruto do bacuri no São Raimundo e a resistência da comunidade na luta pela terra e pela preservação ambiental muitas coisas entraram em jogo: um povoado isolado, há mais de cinquenta quilômetros da cidade, que se transformara em exemplo de consciência e forma do trabalho coletivo para outras comunidades do Território do Baixo Parnaíba, essa comunidade a cada momento cresce seu valor existencial. A terra serve como alicerce da vontade de transformação social – os moradores que aguardam melhorias se mantém na área e usam como resistência as práticas agrícolas e extrativistas. A lei de proibição da “não derrubada do bacuri verde” – reforma o sentimento de liberdade e comunhão que eles oferecem a natureza. Precisam conquistar a posse da terra, pois o projeto continua tramitando no INCRA, as 1.136 hectares de terra deve ser desapropriada para as famílias que lá moram e trabalham. São Raimundo está sendo vistoriado não apenas pelos camponeses, mas pela ganancia do capital no campo representado por personagens que não tem o mínimo de respeito pelos movimentos sociais, pela Associação de Moradores... Por nenhum lavrador. “A terra bacurizada das chapadas do São Raimundo vale ouro”.
O Zé Banga, convicto e zangado afirmava no final de sua denuncia que a Comunidade São Raimundo é livre e não será invadida jamais enquanto os caboclos valentes estiverem vivos, a terra é de todos, será defendida com unhas e dentes e não será invadido nem por grileiros, nem por empresas... Nem por latifundiários. A terra será livre.


José Antonio Basto

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