segunda-feira, 2 de setembro de 2019

BACABAL: encontros e desencontros, uma prosa histórica do sertão...

Casa de farinha - Santa Rosa / Bacabal  - Urbano Santos-MA.

Chegaríamos em Bacabal no meio do Baixo Parnaíba, – naquela manhã chuvosa! Como se interessar por uma pequena comunidade do sertão baixoparnaibense, localizada entre os atuais municípios de Urbano Santos e São Benedito do Rio Preto? Guimarães se interessara pelo sertão do “Norte de Minas”-, tema de “GRANDES SERTÕES: VEREDAS”. Ele escrevera os primeiros registros sobre o cerrado de Minas e Goiás. Este, que dera espaço ao gado e a soja dos dias atuais. Mas Guimarães Rosa não se importara com alguns problemas, seu objetivo principal era tratar de um romance que dera tanta polêmica na literatura brasileira.
O Povoado Bacabal fica bem longe do “Norte de Minas”- bota longe nisso. Mas não tão longe assim. Seu povo – humilde e hospitaleiro fora formado por retirantes vindos de Pernambuco, Ceará e Piauí. Os índios “Tremembés” habitavam essas terras há séculos, viviam mudando de lugar em lugar. Poucos sabiam de sua verdadeira história e tronco linguístico. Eles rondavam de Tutóia a Urbano Santos, de Barreirinhas à Miritiba. Conheciam essas chapadas como ninguém. Caçavam, pescavam e praticavam o extrativismo. Nunca pensavam que suas terras fossem invadidas por grileiros, os primeiros a mando de “Reis”. As chapadas do Baixo Parnaíba foram colonizadas, num pequeno espaço de tempo. Sentiria a necessidade de uma colonização? Não.
Crianças de Bacabal / Santa Rosa - Urbano Santos-MA.
O capitalismo exigira isso. As terras da última fronteira agrícola do país foram mapeadas e colonizadas por programas que não favoreciam, ou que não favorecem as comunidades tradicionais – (MATOPIBA). A agricultura por aqui praticada já demorava um bom tempo. Os “Anapurus” – conheciam essas terras e “Brejos” – como ninguém. O território era demarcado pelas trilhas de caça; as fronteiras se limitavam pelos rios, caatinga e o litoral. O Bacabal de hoje ficava no meio desta área geográfica. Seus moradores não sabem disso; são analfabetos, não sabem ler nem escrever. Sabem de incríveis histórias. Conhecem a história pelo que ouviram contar. Sabem de tudo ou de nada. Os colonizadores conquistaram a “Ribeira do Parnaíba” vindos de Pernambuco. Domingos Jorge Velho – massacrador do Quilombo dos Palmares – por ser bandeirante de fama, chegara até as margens deste rio que batizaria de Parnaíba. Em homenagem à sua  vila de nascimento por nome Parnaíba, em São Paulo. Domingos fora um desbravador, nascido no vilarejo de Parnaíba - na época, Capitania de São Paulo - comandante da expedição que destruiu o grande Quilombo dos Palmares e também foi considerado o bandeirante mais ativo do período de perseguição dos índios brasileiros -, especialmente na região nordeste do país.
Os Teremembés, assim também chamados - que habitavam as margens do Rio Preto – mais tarde, “Rio dos Pretos”, não se incomodaram com a chegada de brancos vindos do Ceará. Achavam que se tornariam amigos. O Rio Preto lhes dariam tudo: “água, peixe e fé pelas suas almas”. Acreditavam que as águas barrentas levariam para a glória as almas e espíritos daqueles que acreditavam numa fé sem limites. Mas esta fé não os livrou depois de muitos anos. A fé se resumira numa luta incessante em busca de outros territórios. Dispersaram-se. Foram-se embora. Atravessaram rios e ladeiras, matas e cocais, mudaram-se para outras bandas bem distante de tudo.
Associação de Moradores e Trabalhadores Rurais - Bacabal
O Bacabal ficara só. O tempo se passou, dias, décadas, séculos... A terra fora habitada e ninguém sabia dessa história. Agarraram as chapadas; elas não eram de ninguém. As “Sesmarias” – lhe davam direito por serem famílias influentes. As reformas viriam depois. Direitos não se falavam nesse tempo. Os colonos renasciam de uma terra de ninguém, para ninguém... De todos que ali moram e trabalham de roça. Assim acreditando na procriação de seus filhos e netos. Eles se encontrariam nas páginas da história, tão perto... Tão longe daquilo que se diz: IMAGINAÇÃO.

José Antonio Basto

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