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Vendo o mapa de Bacabal |
Eles vinham de Buriti
de Inácia Vaz: a psicóloga Drª Sussane
da Noruega e David engenheiro florestal da Alemanha. Estavam acompanhados dos velhos amigos do Fórum
Carajás Mayron Regis e Edmilson Pinheiro. Partiam da província do líder
camponês Vicente de Paula que trava uma luta com os Introvine em defesa de sua
terra. Eu, particularmente só conhecia o Vicente através da literatura do
Mayron. Até que um dia em uma dessas atividades na Diocese de Brejo o conheci
pessoalmente e conversamos sobre essas questões relacionadas aos conflitos
fundiários na Região do Baixo Parnaíba. ´Mayron um dia antes 17/10, entrara em
contato comigo que chegaria na manhã do dia 18/10, sexta-feira, mas imprevistos
acontecem, chegaram por volta de quase 13:00h. O destino era entregar um
projeto de galinha caipira para uma família camponesa do Povoado Laranjeiras,
através da indicação do Raimundo de Juçaral – presidente da Associação e José
Antonio Basto – escritor e assessor
sindical -, (parceiros do Fórum Carajás). Ultimamente não foi possível falar
com o Raimundo, por isso decidimos praticar a estrada para a Laranjeiras via Chapada
do Meio e Bacabal.
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Amigos: David, Edmilson, Mayron e Sussane |
Bacabal que não nos cansamos de visitá-lo, temos agido com
frequência e adotamos esta luta em
defesa daquelas famílias que estão ameaçadas por um dito proprietário, o qual
caiu de paraquedas dizendo ser dono de mais de 600 hectares de terra, assim
querendo forçar os moradores a aceitarem um acordo de doação de 300 hectares
apenas. Sendo que essas famílias camponesas lá moram e trabalham de roça há
séculos. O carro atravessava as chapadas cheias de bacurizeiros floridos, as
ervas quase que desconhecidas enfeitavam o chão seco do sertão, entre os
territórios de Riacho Seco, Prata e Surrão. Sussane e David se impressionavam
com tão bela natureza, talvez em seus países na Europa, jamais viram algo
igual, ou parecido. Os caminhos aplainados
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Drª Sussane e o Rio dos Pretos |
pela Empresa Suzano Papel e Celulose
ganharam destaque porque também a Empresa teve o apoio do Gaúcho local que já
desmatou boa parte da chapada; pois o território do Bacabal limita com sua cerca.
A terra de Bacabal divide o mesmo pico (variante), não é por acaso que o dito
proprietário paulista quer um pedaço do rio. Entende-se que uma terra com
acesso fácil ao rio (água) é uma terra mais cara do que as de áreas secas. Ganha-se
dinheiro; terra é sinônimo de capital e poder. Por isso tanta insistência para
que os moradores membros da “Associação dos Pequenos Trabalhadores Rurais do
Projeto de Assentamento Santa Rosa e Bacabal” aceitem tal acordo, onde
isso poderá comprometer eles na atualidade, quanto mais seus filhos e netos no
futuro. Onde vão trabalhar? Tirar palha, madeira para a construção de suas
casas? Colher os frutos que a chapada oferece? Um ponto para refletir. As
entidades parceiras da Associação orientam para que eles não façam nenhum
acordo e se mantenham na terra como maior forma de resistência social e
cultural. Em fim, depois de um longo trajeto chegamos em Bacabal, de longe se
avistava o vale do Rio Preto e ou / ‘Rio dos Pretos”, esta última nomenclatura
conta a história dos inúmeros quilombos
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Casa de taipa em Bacabal |
localizados sobre suas margens,
especialmente em sua cabeceira; um prosa histórica sobre o “Rio dos Pretos”
será mais detalhada adiante. Descíamos a ladeira no inicio do vilarejo, as
casas de taipa lembram as aldeias indígenas desta região, herdaram isso dos “Teremebés”
/ ou Tremembés: nativos que habitam esse pedaço de chão há alguns séculos atrás.
Os moradores de Bacabal e Santa Rosa não sabem desses pontos, seus ancestrais
migraram de estados vizinhos como Piauí e Ceará.
O presidente da
Associação, Sr. Leonilson (Leo), nos recebeu com tamanha cortesia e respeito;
largara o trabalho que estava a realizar de triturar casca de mandioca fazendo
ração para suas cabras e veio pegar em nossas mãos. Logo a conversa se
direcionou exatamente para a questão da terra, não tinha como fugir deste assunto.
O mapa do “Geo”,
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José Antonio Basto e o Rio dos Pretos - Bacabal |
fora exposto no terreiro da casa para melhores explicações e
entendimento dos que presenciavam. O acordo ainda não foi fechado, quem estava
a ver o documento procurava entender geograficamente aquela área de terra
disputada. Sussane e David queriam conhecer o “Rio dos Pretos” – e banharam
sobre suas águas barrentas de longe, mas limpas de perto. A água fresca matara
o calor. Para nós que somos acostumados a banhar e pescar nesse rio é normal, mas
a experiência deles não, algo que ficara de lembranças para o resto de suas
vidas. Depois voltamos pelo mesmo caminho. Pedimos para que o Leo avisasse o
Raimundo do projeto. “A viagem com os
amigos pelas terras do leste” maranhense ficara gravada na história e nos
pormenores deste modesto ensaio literário.
José Antonio Basto
Outubro – 2019.
Celular - “WhatsApp” (98) 9 8517- 0214
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