segunda-feira, 21 de outubro de 2019

A viagem com os amigos pelas terras do leste

Vendo o mapa de Bacabal

Eles vinham de Buriti de Inácia Vaz: a psicóloga Drª Sussane da Noruega e David engenheiro florestal da Alemanha.  Estavam acompanhados dos velhos amigos do Fórum Carajás Mayron Regis e Edmilson Pinheiro. Partiam da província do líder camponês Vicente de Paula que trava uma luta com os Introvine em defesa de sua terra. Eu, particularmente só conhecia o Vicente através da literatura do Mayron. Até que um dia em uma dessas atividades na Diocese de Brejo o conheci pessoalmente e conversamos sobre essas questões relacionadas aos conflitos fundiários na Região do Baixo Parnaíba. ´Mayron um dia antes 17/10, entrara em contato comigo que chegaria na manhã do dia 18/10, sexta-feira, mas imprevistos acontecem, chegaram por volta de quase 13:00h. O destino era entregar um projeto de galinha caipira para uma família camponesa do Povoado Laranjeiras, através da indicação do Raimundo de Juçaral – presidente da Associação e José Antonio Basto – escritor  e assessor sindical -, (parceiros do Fórum Carajás). Ultimamente não foi possível falar com o Raimundo, por isso decidimos praticar a estrada para a Laranjeiras via Chapada do Meio e Bacabal.
Amigos: David, Edmilson, Mayron e Sussane
Bacabal que não nos cansamos de visitá-lo, temos agido com frequência  e adotamos esta luta em defesa daquelas famílias que estão ameaçadas por um dito proprietário, o qual caiu de paraquedas dizendo ser dono de mais de 600 hectares de terra, assim querendo forçar os moradores a aceitarem um acordo de doação de 300 hectares apenas. Sendo que essas famílias camponesas lá moram e trabalham de roça há séculos. O carro atravessava as chapadas cheias de bacurizeiros floridos, as ervas quase que desconhecidas enfeitavam o chão seco do sertão, entre os territórios de Riacho Seco, Prata e Surrão. Sussane e David se impressionavam com tão bela natureza, talvez em seus países na Europa, jamais viram algo igual, ou parecido. Os caminhos aplainados
Drª Sussane  e o Rio dos Pretos
pela Empresa Suzano Papel e Celulose ganharam destaque porque também a Empresa teve o apoio do Gaúcho local que já desmatou boa parte da chapada; pois o território do Bacabal limita com sua cerca. A terra de Bacabal divide o mesmo pico (variante), não é por acaso que o dito proprietário paulista quer um pedaço do rio. Entende-se que uma terra com acesso fácil ao rio (água) é uma terra mais cara do que as de áreas secas. Ganha-se dinheiro; terra é sinônimo de capital e poder. Por isso tanta insistência para que os moradores membros da “Associação dos Pequenos Trabalhadores Rurais do Projeto de Assentamento Santa Rosa e Bacabal” aceitem tal acordo, onde isso poderá comprometer eles na atualidade, quanto mais seus filhos e netos no futuro. Onde vão trabalhar? Tirar palha, madeira para a construção de suas casas? Colher os frutos que a chapada oferece? Um ponto para refletir. As entidades parceiras da Associação orientam para que eles não façam nenhum acordo e se mantenham na terra como maior forma de resistência social e cultural. Em fim, depois de um longo trajeto chegamos em Bacabal, de longe se avistava o vale do Rio Preto e ou / ‘Rio dos Pretos”, esta última nomenclatura conta a história dos inúmeros quilombos
Casa de taipa em Bacabal
localizados sobre suas margens, especialmente em sua cabeceira; um prosa histórica sobre o “Rio dos Pretos” será mais detalhada adiante. Descíamos a ladeira no inicio do vilarejo, as casas de taipa lembram as aldeias indígenas desta região, herdaram isso dos “Teremebés” / ou Tremembés: nativos que habitam esse pedaço de chão há alguns séculos atrás. Os moradores de Bacabal e Santa Rosa não sabem desses pontos, seus ancestrais migraram de estados vizinhos como Piauí e Ceará.
O presidente da Associação, Sr. Leonilson (Leo), nos recebeu com tamanha cortesia e respeito; largara o trabalho que estava a realizar de triturar casca de mandioca fazendo ração para suas cabras e veio pegar em nossas mãos. Logo a conversa se direcionou exatamente para a questão da terra, não tinha como fugir deste assunto. O mapa do “Geo”,
José Antonio Basto e o Rio dos Pretos - Bacabal
fora exposto no terreiro da casa para melhores explicações e entendimento dos que presenciavam. O acordo ainda não foi fechado, quem estava a ver o documento procurava entender geograficamente aquela área de terra disputada. Sussane e David queriam conhecer o “Rio dos Pretos” – e banharam sobre suas águas barrentas de longe, mas limpas de perto. A água fresca matara o calor. Para nós que somos acostumados a banhar e pescar nesse rio é normal, mas a experiência deles não, algo que ficara de lembranças para o resto de suas vidas. Depois voltamos pelo mesmo caminho. Pedimos para que o Leo avisasse o Raimundo do projeto. “A viagem com os amigos pelas terras do leste” maranhense ficara gravada na história e nos pormenores deste modesto ensaio literário.   
    
José Antonio Basto
Outubro – 2019.
Celular - “WhatsApp” (98) 9 8517- 0214
  

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