segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Pelas estradas de Laranjeiras

 


Saíamos da sede de Urbano Santos, exatamente da calçada do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais, a viagem estava marcada para as seis horas da manhã – para sair no máximo sete, mas como de sempre, o carro do Federal atrasou, então só embarcamos às oito e meia.

A tarefa principal era fundar a Associação dos Produtores Bastos do Povoado Laranjeiras, além de visitas em algumas casas. Os membros do STTR, Francisca, Noemia, Paixão e Basto tinha essa tarefa para aquele sábado, 21 de setembro. A caminhonete seguia pela estrada de Cajazeiras: Fortaleza, Santa Maria, Raiz, Surrão, Pedra Grande, Todos os Santos e roncava o motor por aqueles chapadões de meu Deus. Avistava-se mais campos de soja e/ou campos para o preparo da soja do que chapadas vivas, as pouquíssimas chapadas que estão também na mira da gauchada da soja. Campos e mais campos – o cerrado todo desmatado, em algumas áreas só se via céu, terra e poeira, a floresta destruída, bacurizeiros, pequizeiros e outros frutos e árvores das chapadas ateadas no chão. Comentava-se entre os companheiros e corria uma tristeza imensa da situação em que se encontra essa região,


onde há vinte anos atrás ainda era diferente com muita fartura de frutos, pasto para o gado, água e terra para a agricultura. Hoje o agronegócio tomou de conta com grilagem e expropriação dessas terras, onde estão cercando num raio de trezentos e sessenta graus o município de Urbano Santos. Descíamos em Laranjeiras, o “Basto sem (s) nunca tinha ido na terra dos Bastos com (s), parentes – talvez; mas fora convidado para elaborar a ata de fundação e constituição daquela associação rural. Parava-se primeiramente na casa do mais velho dos Bastos – o irmão dos irmãos que muito se parecem, são vários irmãos na redondeza daquele vilarejo, tomávamos um cafezinho para aquecer os ânimos antes de começar os trabalhos. O ensaísta observa vários animais pastando livres no terreiro na casa como porcos, galinhas e bodes, coisa rara que quase não se ver mais hoje em dia. Pois as pessoas dos povoados que criavam os bichos soltos e as roças cercadas naqueles tempos, tem que prender seus animais – e as roças ficam no aberto. Precisa-se de reformas em tais leis. Pois acha-se que naquele tempo o bicho livre e a roça cercada a produção era diferente e como era até a carne dos animais. Mas, uma reflexão: esses bichos que comiam o buriti, tucum, fuçavam nos brejais e lagoas... se alimentavam do que as florestas e chapadas ofereciam, o que vão encontrar hoje? Quase nada! Tudo devastado! De campos e campos, alguns de quilômetros de distância. Quase nada, melhor ficar preso na ração mesmo. Os visitantes chegaram no ponto da reunião, aguardava-se os membros interessados para começar. Foram chegando de um a um – os Bastos. Já era dez horas, começou. A presidente do STTR explicou o teor da Associação, inclusive para adquirir o registro oficial da terra e acesso de outros projetos. Os assuntos foram expostos e a diretoria listada e apresentada, após alguns pronunciamentos, logo então foi aclamada a fundação e constituição da Associação acima citada. A ata foi lavrada, lida e aprovada. Ali nascia a Associação dos Produtores Bastos do Povoado Laranjeiras – (A.P.R.B.P.L).
Membros da Associação

Após outros assuntos particulares, chegava a hora do almoço na casa da Magda. O ensaísta pensava ser uma galinha caipira como tinha sido antes, não foi galinha caipira, mas foi cozidão e bife de fígado de boi caipira. Estava muito bom aquele almoço. Após alguns minutos de descanso e bate papo, tivemos que que dizer tchau e seguir rumo ao Bebedouro dos Calixtos para falar de um projeto para a Associação do P.A Bebedouro dos Calixtos. Ainda pensávamos de passar em Santa Rosa para visitar o velho Zé Sousa, mas não deu tempo, pois estavam em direção oposta. Arrastava-se e a poeira cobria nas chapadas devastadas e caminhos aplainados até chegar ao Bebedouro. Fomos direto para a casa de Dona Raimundinha para, tomamos água e até caldo de cana natural. A parada foi curta para algumas explicações e já contava no relógio três e meia da tarde, fomos também até a casa de outra moradora que fica do outro lado, ainda pensou-se em passar em cajazeiras para um evento, mas não deu certo. Então já bem cansados, voltamos para casa pelas velhas estradas do Povoado Bacabal chegando na cidade pelas vias do Bairro São José.

 

José Antonio Basto

Setembro - 2024       

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