sábado, 22 de junho de 2024

O caso do conflito que se arrasta na Comunidade Jussaral -, município de Urbano Santos-MA

 

Comunidade Jussaral e membros do STTR - UBS

O caso do conflito agrário na comunidade Jussaral – município de Urbano Santos não é novidade, nem coisas dos dias de hoje. Essa problemática já vem se arrastando desde os anos noventa, quando de início a empresa Florestal LTDA – que se transformara em Suzano Papel e Celulose se instalou no lugar, primeiramente no vizinho Povoado Todos os Santos e adjacências. Com o intuito de se apossar de grandes áreas de terras para o plantio de eucalipto. Empresas terceirizadas como a Marflora e Margusa, tiveram o ofício de desmatar a chapada e queimar suas árvores para a fabricação de carvão vegetal, depois o eucalipto. Eram chapadas, carrascos e matas, onde os camponeses faziam suas roças, caçavam e tiravam madeira e palhas da palmeira do babaçú para cobrirem suas casas. Viviam e vivem há décadas dessa cultura passada de geração em geração.

Com o aparecimento das empresas que prometiam desenvolvimento e ajuda financeira e de empregos para os moradores, gerou-se então os primeiros conflitos, não era de se acreditar! Dizimando a chapada não haveria de ter melhorias de vida, não caíram na conversa. Os lavradores, com o apoio do movimento social e da Igreja Católica, conseguiram então constituir a “Associação União dos Moradores do Povoado Jussaral”. Pois com o aparecimento da Associação as empresas instaladas se incomodaram. Pois constantemente os trabalhadores rurais estavam em reuniões e formações de base, sendo cada vez mais orientados da problemática. Tiveram a consciência de que aqueles grandes fornos de carvão construídos na chapada eram com certeza muito prejudiciais para eles e para toda biodiversidade do lugar: pois além da fumaça sufocar a população, também expulsava os animais silvestres e os riachos estavam secando – dali crescia cada vez mais a devastação da chapada pelos correntões, derrubando tudo pela frente: bacurizeiros, pequizeiros, candeias, murici, araçá... tudo que compõe a fauna e a flora estava cada vez mais desaparecendo.

Com as orientações sistemáticas do movimento social, os atores daquela luta na época montaram uma estratégia radical. “Sabendo que aquelas terras eram suas e foram tomadas e griladas” - se organizaram com outros companheiros de batalhas e marcharam rumo ao lugar onde estavam fincados os fornos de carvão. E com machados, foices e outros instrumentos de trabalho começaram a importante ação que ficara na história da luta agrária em Urbano Santos: DERRUBARAM, DESTRUIRAM TODOS OS FORNOS E BATERIAS DE CARVÃO. E mantiveram a resistência por muito tempo. Essa atividade teve papel importante, animando a ideologia de defesa da terra contra o programa do agronegócio na região. Há menos de dez anos atrás a comunidade Jussaral retornou a luta contra a Empresa Suzano Papel e Celulose que adentrou na área pertencente à Associação com seus plantios de eucalipto. A comunidade organizada e com o apoio de setores do movimento social conseguiu afastar a empresa e readquirir suas terras de volta. Com a apresentação de documentos científicos de estudos e pesquisas da Academia, reportagens, ações do movimento sindical e decisões do Ministério Público que mostrara com clareza e veracidade de que os problemas causados no meio ambiente e na economia da agricultura familiar eram culpas da Suzano no Baixo Parnaíba, esta decaiu no município de Urbano Santos e região. Vendendo ou arrendando as terras que antes eram campos de eucaliptos da Suzano, agora foram passadas para os chamados “Gaúchos da Soja”. Hoje em dia, a comunidade Jussaral tem enfrentado um de seus maiores desafios. Preocupados com os Gaúchos em tomar as terras por meio de falcatruas e documentos cartoriais, fizeram o CAR – Cadastro Ambiental Rural e o Georeferenciamento de suas terras: mais de 2.000 hectares, a maioria chapadas. Uma área de chapada de 800 hectares dentro dessas mais de duas mil, foram cercadas de arame doado pelo Fórum Carajás, afim de protegê-la de futuras invasões, foi o que aconteceu, inevitavelmente. Território esse onde os moradores praticam o extrativismo vegetal, principalmente do bacuri e pequi e outros frutos do cerrado, sendo rica em capim natural... também criavam animais na área cercada. Uma chapada abundante em tudo.

Deixa que ao lado dessa área é um grande campo devastado do Gaúcho, sendo, portanto, visada por ele para o desmatamento e plantio de soja. A Associação manteve a luta, recebendo dois importantes seminários agrários com participação do STTR de Urbano Santos, várias outras entidades e do Ministério Público, onde tratou especificamente desse assunto, na elaboração de uma lei de proteção ambiental com o aval final do Ministério Público. O caso entre a Associação e o Gaúcho foi para justiça. Associação ganhara prestígio e demandas na justiça agrária que de alguma forma barrara a entrada de soja em seu terreno.

 Terça-feira a tarde, 18/06/2024, a comunidade foi surpreendida por policiais que diziam fazer a segurança no momento; Gaúchos e seus jagunços chegaram mostrando uma certa decisão judicial, segundo eles, os favorecendo, dizendo que a terra era deles, segundo o documento não dava-se o direito de cortar arame e derrubar as cercas. Assim como em outros lugares a presença oficial nessas ações são frequentes para assim mostrar o poderio militar e de intimidações psicológicas aos posseiros. As estacas foram derrubadas de tratores e todo arame que cercava a área cortado em pedaços como mostram registros de vídeos e fotos feitos por celulares dos moradores na hora. Houve embate quase direto e por pouco não veio o pior, a situação ficou dramática, os moradores foram todos para o local onde estava acontecendo o problema. Logo em seguida a “Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Urbano Santos” esteve no local também para orientação pacífica no que diz respeito ao processo judicial, assim evitando danos maiores e violência, ajudando na proteção dos agricultores, que quase desesperados, lamentavam-se, não era pra menos. Os jagunços ameaçaram os camponeses que estavam na retaguarda de defesa do seu território tradicional, dados esses que foram catalogados por agentes da SEDIHPOP - Secretaria de Estado dos Direitos Humanos e COECV - Comissão Estadual de Prevenção à Violência no Campo e na Cidade, onde depois esteve naquele lugarejo conversando com seus moradores sobre a questão, com o intuito de formular essas denúncias na tomada de medidas emergenciais como também solicitar a abertura  de processos de investigação para averiguar as violações relatadas de ameaças e desmatamento ilegal. O CASO DO CONFLITO QUE SE ARRASTA NA COMUNIDADE JUÇARAL, ainda estar na justiça. Os advogados da “Associação União dos Moradores do Povoado Jussaral”, estão tentando reverter a situação que ainda se encontra cada vez mais tensa. Os tratores do Gaúcho continuam desmatando a chapada dia e noite. Pede-se justiça e toda solidariedade aquela gente humilde e trabalhadora.

 

J. Antonio Basto

* Movimento Social  

        

 

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