José Antonio
Basto
# PROSA POÉTICA SOCIOAMBIENTAL, ENSAIOS, QUESTÕES AGRÁRIAS NA REGIÃO DO BAIXO PARNAÍBA MARANHENSE E DIREITOS HUMANOS.
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020
BATUQUE DO PILÃO
Quando se
anda pelas chapadas se ouve muitos sons: pássaros, cigarras, insetos, cantos de
galos, gritos de caçadores, latidos de cães e tiros de espingarda. O Viajante
solitário adentrava as chapadas e cerrados ao nível do Rio dos Pretos, com o
intuito de visitar alguns velhos amigos que por ali deixara. As chuvas densas
tem cartigado os caminhos daqueles vilarejos, esbarrocando e deixando marcas. Sem
muito compromisso, a viagem a cada momento se tornava interessante, primeiro pelo
fato da ideia de ter um dedo de prosa com os amigos camponeses sobre a questão
da terra – polemica terra; depois para matar a saudade de andar por as matas
sentindo o cheiro do chão e da natureza em busca de novas aventuras. A motocicleta
atolava a cada obstáculo de lama, para complicar a situação levantava para o
nascente as nuvens carregadas que prometiam um grande temporal desses de
fevereiro. As chuvas dessa época não respeitam e nem aguardam por ninguém, ela desaba
do céu sem muita piedade e quem estiver debaixo que se cuide. Então a santa
água caiu com gosto e com força. O Viajante se encostara a um pé de bacuri para
se proteger daquele temporal repleto de relâmpagos e trovoadas. Já era
tardinha, por volta das cinco horas ou mais. A chuva foi passando e o tempo
alimpando. Pensava-se de voltar, mas não desistira da viagem, ligou a moto e
acelerou! A nambu de pé vermelho cantava à beira do caminho; os gritos de
camponeses chamando uns aos outros ecoavam, desciam de suas roças e seguiam
para suas casas. As estradas dos vilarejos do Baixo Parnaíba se modificam pela
ação do agronegócio. Por isso para quem as não conhecem a fundo, fica muito fácil
se perder pelos caminhos aplainados da Suzano. Uma ladeira de pedra dava acesso
ao riacho Santa Rosa que mais em seguida descia no pequeno povoado. O Viajante
se aproximava devagar, pois em áreas de conflitos se deve ter cuidado quando
chega. O pilão roncava com suas batidas fortes tirando a palha do arroz, batida
de pilão é coisa antiga – e bota antiga nisso. Dona Maria e Zé Souza os donos
da casa davam as boas vindas ao amigo de lutas e convidava-o para jantar um
capote ao leite de coco, que coisa boa e, ainda mais com o arroz natural da
roça sucado no momento. Como recusar um convite desses. O Viajante ficava por
ali mesmo, antes de seguir para as outras bandas da Comunidade Porção subindo
as cabeceiras do Rio dos Pretos rumo ao Quilombo de Lagoa Amarela, Quartel
General do Negro Cosme do tempo da Balaiada.
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