terça-feira, 6 de novembro de 2018

O verdadeiro documento da terra em Gonçal dos Mouras




Pov. Gonçal dos Mouras
A Pequena comunidade Gonçal dos Mouras fica entre Urbano Santos e Barreirinhas. Saímos de Urbano Santos para fazer uma reunião com os moradores, reunião essa que alimentaria a ideia de criação da Associação dos moradores. Por que eles se interessariam em criar uma associação, se já moram lá há décadas? Saberiam da história de luta e conflitos em defesa da terra? Entenderiam a própria história – realidade essa de muitas outras comunidades rurais do Baixo Parnaíba que passaram por essa mesma experiência. Gelson Rodrigues da Silva, mais conhecido como Gelson Ferreira – herdara esse sobrenome porque seu pai exercia a profissão de ferreiro, homem de baixa estatura e fala ligeira e de boa memória – contara com detalhes a tradição de sua família desde o seu bisavó que nascera em Gonçal. Gelson tem 77 anos de idade e cresceu ouvindo as historias da questão da terra onde mora.
Gelson Ferreira - Pov. Gonçal dos Mouras
Seu pai já defendia o território, pois sabia que sua família crescia no lugar. Se seu bisavó nascera em Gonçal, os antecedentes de luta e ocupação da área data ainda do século XIX. Gelson cresceu na fartura de tudo, contava emocionadamente que naquele tempo existiam muitas matas para fazer roça, muito bacuri nas chapadas; peixe no rio era com abundancia – quase nada disso existe mais. A terra era pública, de todos, para todos... Ninguém cobrava nada de ninguém. As disputas já vinham desde a primeira geração ainda na época de seu avó. Seu pai cresceu na questão. A terra foi conquistada pelas famílias do pai e da mãe de Gelson Ferreira. Trabalhavam em conjunto para sobrevivência.
Se passou um tempo, nos anos 60 e 70 a fumaça da questão voltou a pegar fogo novamente, um determinado sujeito chegava lá para tomar posse da érea onde as famílias moravam e trabalhavam; a pessoa que dizia ser proprietário tentou utilizar da violência para intimidar os lavradores, resistiram de várias formas e continuaram na área. Casas foram queimadas e reconstruídas, os camponeses foram expulsos e voltaram. Uma guerra foi travada, de um lado o latifundiário, do outro as famílias agricultoras. A comunidade sem saber do que estava acontecendo, se mantinha dentro do território, mas as articulações iam além dos órgãos jurídicos da época. Com isso os camponeses começaram a se organizar na CEB (Comunidade Eclesial de Base), mas próxima, CEB da Tabocas. Entenderam ali que eram cidadãos de direito, pois a terra, seu bem maior precisava ser defendida com unhas e dentes, os coordenadores anunciavam nas leituras um mundo novo. Se mantiveram no lugar por muito tempo, plantando e  colhendo até dos dias de hoje.

José Antonio Basto

Nenhum comentário:

Postar um comentário