segunda-feira, 4 de outubro de 2021

As Santas Rosas


Mística com a comunidade Santa Rosa

As Santas Rosas! Santa Rosa dos Garretos e Santa Rosa do Moisés. Algo em comum com as duas comunidades tradicionais que estão localizadas na região central do Baixo Parnaíba maranhense / são dois vilarejos com situações de conflitos parecidos, estão numa área de transição entre municípios do Baixo Parnaíba maranhense. Porque muitos povoados ainda carregam consigo o nome do proprietário, da pessoa que se dizia o antigo dono? Os Garretos remonta uma família de proprietários de muitas faixas de terras de Mata Roma, Anapurus e Urbano Santos, herdaram terras além da conta – terras soltas, terras – chapadas sem fim que até então não tinha dono... terras devolutas do estado que abarcaram e registraram como suas. Essas terras foram sendo ocupadas ao longo do tempo e ao mesmo tempo sendo palco de conflitos agrários, como o de Santa Rosa dos Garretos que se iniciou em 2012 e continua até hoje. O velho Zé Souza que já foi vítima de despejo é um dos moradores que ainda resiste essa situação de conflito. Santa Rosa do Moisés – fica mais um pouquinho adiante da dos Garretos. A mesma região cortada pelo riacho e pelo Brejo, apenas com cognomes / sobrenomes diferentes. Santa Rosa do Moisés, um conflito novo. Dona Maria José – que foi nascida e criada lá, hoje com 78 anos, contara
  sua história, que o nome do aldeamento remonta o de um dos primeiros proprietários – “o velho Moisés” – que depois de sua morte a terra tradicionalmente na linha hereditária ficou para seu filho Dé Amorim e que este deixara para Neifran - filho mais velho que pretende vender para os chamados gaúchos que também já compraram parte de Bacabal. São 551 hectares de terra, no vilarejo moram e trabalham de roça 12 famílias camponesas, vivem há muito tempo, os mais velhos nasceram e criaram seus filhos e netos naquela área, continuam lá trabalhando de roça, caçando e pescando numa vida pacata. Certo dia, há não muito tempo atrás, chegou uma pessoa estranha no povoado dizendo que aquela terra já estava vendida e que os moradores tivessem a compreensão de que nada tinham mais ali, apenas receberiam 1 hectare de terra para não ficarem desobrigados. Naquela manhã, os homens estavam pra roça... as mulheres foi quem recebeu a indelicada visita e mensagem por parte do homem que anotava seus nomes num computador notbook. Era mais pra um grileiro do que um comprador de terra. Ficaram apavoradas, inquietas e sem ação naquele momento. O forasteiro ainda disse que se não aceitassem, perderiam tudo. Quando seus maridos chegaram das roças receberam a noticia; preocupados, fizeram uma pequena reunião e decidiram recorrer ao órgão responsável por essas questões agrárias: o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Urbano Santos. Precisariam saber de quanta hectares um trabalhador tem direito numa terra onde nasceu e foi criado há mais de 50 anos -, esta negociada em acordo extra-judicial. E se o Sindicato estava sabendo dessas pessoas que foram comprar a terra de Santa Rosa do Moisés. Era um dia de reunião do Conselho Deliberativo, mas achou-se um tempo curto para ouvi-los. Após as falas, foi-se marcado uma reunião urgente na segunda-feira, 30/08/2021 – o que aconteceu. Para melhores esclarecimentos a respeito da terra e do conflito futuro ou já bem presente. No inicio da tarde a diretoria do Sindicato se dirigiu àquela comunidade, que até então era um lugar novo onde o Sindicato ainda não tinha ido. A toyota cortava as chapadas da conhecida estrada de Bacabal e Santa Rosa... descia uma íngreme ladeira, adrenalina certa... chegava-se no riacho que divide as “Santas Rosas”. O Carro balanceava, vídeos e fotos foram gravadas. As primeiras casas foram avistadas: uma coisa chamava toda atenção em relação aos outros povoados por onde se anda constantemente: “a limpeza!” Todos os quintais muito bem limpos, nada de sacolas no chão, não se viu nenhum saco de suquinho, a terra limpa dos quintais e as cercas de camas que refletiam um ar de pureza. A reunião fora marcada para 3 horas da tarde, chegamos com alguns minutos atrasados, mas por causa da estrada. Enquanto o povo chegava pra reunião, os companheiros e companheiras foram treinar quebrando coco babaçu para distrair. Todos chegaram e a reunião começou com a fala da presidente do Sindicato, Francisca Maria que apresentou sua comitiva da direção sindical: Maria Noemia, Desanilde, Francisco, Seu Jorge, Ronaldo, José Antonio e Izaias. E prosseguiu com uma breve apresentação dos nomes dos trabalhadores presentes. Uma breve fala e depoimentos foram frisados com o intuito de dá uma injeção de ânimo nos moradores, explanações sobre problemas fundiários e socioambientais. Orientados para não fazer acordos sozinhos, para não aceitarem apenas 1 hectare para cada morador, que se associassem no Sindicato para ter mas forças e sobretudo para se manterem sempre unidos nas decisões. Procuraram o Sindicato porque tendem um acordo justo com terras suficiente para trabalhar e sustentar suas famílias. A região central em que as “Santas Rosas” estão localizadas é a região central do Matopiba. Região essa, sendo a última fronteira agrícola do cerrado do Baixo Parnaíba e um das poucas do Maranhão, invejada e desejada pelo agronegócio de chineses, japoneses, americanos e outros estrangeiros que com seus modos de produção avançadas tendem agredir com veneno e agrotóxico o meio ambiente e as famílias vulneráveis da região. Os moradores talvez não sabiam disso, mas após a importante reunião com as explicações, ficaram curiosos e sabendo mais sobre sua terra, seus direitos e sobre também quem deseja suas áreas de matas, águas, chapadas e todos os recursos naturais. A terra para os ricos é sinônimo de capital e poder. Para os pobres é mãe. Eles devem resistir até o fim, primeiramente eles, as entidades de defesa estão para as orientações. Depois da troca de experiências e informações, foi feito uma linda mística no pátio debaixo do pé de manga. E Após cantar a música de comunidade “Irá chegar” – todos se despediram. A reunião acabava ali e ficava como encaminhamento o acordo justo de mais de 200 hectares para os trabalhadores rurais e quando fosse feito que seria naquele lugar na presença dos moradores, do Sindicato e dos nossos advogados. Voltamos para casa com a sensação de dever cumprido.

 

José Antonio Basto

30/08/2021.

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