segunda-feira, 13 de maio de 2019

A abolição inacabada


Será que a abolição da escravatura de 13 de maio de 1888, resolveu os problemas de milhares de escravos no Brasil? Os movimentos abolicionistas pregavam a liberdade por completa e não apenas pela metade como aconteceu. Nomes como os de Joaquim Nabuco, José de Patrocínio e o poeta Castro Alves foram vultos da história que merecem ser lembrados pela grande contribuição a respeito da liberdade dos negros e negras deste país, além de muitos outros líderes que se doaram à causa da luta contra o mais horrível e hediondo dos sistemas que perseguiu a humanidade, principalmente o povo negro africano.
          Os problemas sociais no Brasil, em especial o da escravidão negra, foram mazelas e feridas que ainda hoje não cicatrizaram e continuam na alma e na lembrança dos afro-brasileiros. Os mais de trezentos anos de cativeiro negro e indígena que perdurou em nosso país – dizimando o continente africano, foi sem dúvida uma das maiores vergonhas machas desta pátria. Uma coisa não é lembrada: os escravos nunca aceitaram a escravidão, fugiam e formavam quilombos, resistiam aos ofícios não fazendo os trabalhos ordenados pelo patrão, quebravam instrumentos de trabalho, as mães num momento desesperador até abordavam seus filhos para não vê-los futuros servos dos senhores brancos, em fim... A luta dos negros foi acirrada: Zumbi foi assassinado, Negro Cosme enforcado em praça pública para assim mostrar o poderio do estado repressor. Mais de 18 milhões de africanos foram deportados da África para o Brasil, a Lei Eusébio de Queirós proibira o tráfico de escravos da África para o Brasil, mas isso também não valeu a pena, porque o tráfico de negros continuou na clandestinidade por um bom tempo.
            O período literário do “Romântico” no Brasil principalmente a terceira fase, (condoreira), foi um dos alicerces para que grupos de intelectuais influenciados principalmente na Revolução Francesa formassem grêmios com o intuito de discutir uma política de apoio aos escravos. Esses grupos deram origem às chamadas “Sociedades Abolicionistas” – essas organizações tinham o objetivo de alforriar escravos, esconder negros fujões das fazendas até que conseguissem achar um quilombo. Uma campanha foi idealizada, mas quando deu certo não foi cumprida porque muitos negros após o 13 de maio de 1888, continuaram sendo escravos do preconceito e da discriminação racial até os dias de hoje. A abolição de 13 de Maio foi inacabada porque a D. Isabel apenas assinara com um traço de pena a Lei Áurea, uma vez que ela nunca realmente lutou por uma bandeira abolicionista. Assinara por pura pressão social. A abolição foi inacabada porque os afro-brasileiros ainda apresentam os maiores índices de analfabetismo, as favelas, guetos e cortiços em suas grandes maiorias são habitados (as) por negros; morre mais jovens negros no Brasil do que jovens brancos; há quem diga é porque são pobres, sim a escravidão negra sempre mostrou essa face criminosa do desamparo, da angústia, desrespeito e pobreza, são pobres e são negros. Uma sociedade com problemas de escravidão não tem como avançar no que diz respeito à economia e o progresso. A História do Brasil é uma história feia, são páginas de opressão e sofrimentos, um sujeito só faz um serviço com gosto se realmente for remunerado, claro que o progresso se estende através do trabalho assalariado. A escravidão negra ainda nos reflete um quadro obscuro e sem escrúpulos, as lutas sociais, a rebeldia dos jovens e os sonhos de um dia ter uma vida melhor, foram as bandeiras que hasteadas para o sol nascente alcançaram a vitória de uma luta que durou mais de três séculos. Essa luta que esteve na imprensa e nas linhas dos poemas calorosos de Castro Alves, anuncia agora com muito otimismo a “A abolição Social” dos negros e negras dos nossos dias atuais. Queremos ouvir o som do berimbau, do atabaque e do agogô... Queremos cantar e brincar em homenagem às flâmulas que conseguiram a abolição mesmo pendente. Abaixo os 131 anos da falsa abolição nesse 13 de maio de 2019, essa luta é de todos nós, o Brasil precisa erradicar urgentemente a escravidão social das páginas de nossa história.  

“Minha alma ainda treme de frio e indignação quando se lembra da chibata que assolou o couro dos meus irmãos cativos.”
(anônimo)
José Antonio Basto
Urbano Santos/MA – 13/05/2019.


Nenhum comentário:

Postar um comentário