segunda-feira, 9 de outubro de 2017

A galinha salgada

Ela prepararia uma galinha caipira com muito gosto para o Viajante almoçar e também para os que participariam da reunião. Almoço de galinha caipira é uma coisa especial das comunidades rurais do Baixo Parnaíba maranhense. O Viajante exercia como sempre o papel de repórter popular, narrando com seu romantismo particular os fatos simples da vida e do dia-a-dia dos povos e comunidades tradicionais de sua região, pois parte dessa literatura e de seus vocábulos deve-se a esse tema. Apesar de poeta,  título esse preferido em seu mundo das letras. A tarefa do dia envolvia uma programação que trataria do problema da terra dos posseiros no do Baixo Parnaíba maranhense. Enquanto acontecia a reunião a panela chiava na cozinha coberta de palha e, o cheiro entrelaçava sobre a abóbada da humilde moradia. Era o começo das atividades daquele dia de trabalho.
Dona Maria além de excelente cozinheira é também uma grande liderança que não perdia tempo para falar em defesa de sua terra, uma área cercada de monocultura do eucalipto – programa esse devastador das chapadas e um dos responsáveis pela violência no campo brasileiro; especialmente falando do cerrado, onde está sendo implantado o macabro plano de desenvolvimento do cerrado – (Matopiba). As comunidades do Baixo Parnaíba estão inclusas dentro desse espaço. Urbano Santos fica dentro do Matopiba -, um dos municípios que apresenta um dos maiores índices de problemas socioambientais, principalmente quando se trata da disputa por terra e por água. Fenômenos como o avanço dos monocultivos que se reaparecem e que vem destruído e transformando os modos de vida nos povoados e vilarejos.
A reunião começava, Dona Maria falava e a galinha cozinhava na panela, no velho fogareiro de carvão. Não deu tempo para a mestra Maria temperar a galinha, alguém fez por ela; pois aquela ocasião não deixara. Dava-se início as falas, eles passaram horas e horas conversando e debatendo sobre as questões de seu território que vem sendo ameaçado a cada momento que passa, a água foi um dos pontos fundamentais das discussões; os rios que estão secando por causa de impactos diretos dos programas capitalistas de expropriação de terras  - (eucalipto). A defesa das áreas de pesca também foi lembrada... Além de muitos outros assuntos que voaram. O Viajante estava ali escutando e anotando em seu caderno. Esperava-se que a reunião pudesse terminar ao meio dia, mas o assunto não deixara... Todos falavam que quase se esqueciam de almoçar. Quando lembraram e a barriga avisava; então depois de quatro horas de reunião de falas e todo serviço burocrático de atas e assinaturas dos presentes, ouvia-se da cozinha o convite para todos seguirem para o almoço.
Um silêncio! Quando Dona Maria – a anfitriã surpreendeu a todos com algo que não queria calar, mas só ela podia dizer: “Minha filha a galinha está salgada de mais”! - A moça olhou ligeiramente para sua mãe, mas não disse nada, talvez ficara envergonhada! De fato ficou mesmo! Mas a fome e o sabor não deixara estragar o momento principal da degustação. Pois Dona Maria não tinha condições de ir para o fogão. Precisava participar da reunião, onde muito contribuiu.

José Antonio Basto
E-mail: bastosandero65@gmail.com                                                                                   





   

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