quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A CHAPADA VIVA DO SÃO RAIMUNDO: TV Mirante filiada à Rede Globo fez uma matéria especial sobre a importância do cerrado para as comunidades tradicionais na Região do Baixo Parnaíba maranhense

CHAPADA DO SÃO RAIMUNDO
O destino seria a Comunidade São Raimundo – município de Urbano Santos, território do Baixo Parnaíba, leste maranhense; eles chegariam de surpresa na sede do STTR, sexta-feira, 13/01/2017. Fariam uma matéria sobre a produção de bacuri em nossa região. O Sidney Pereira, repórter da emissora já era familiar com esse tipo de trabalho desde 2010, quando esteve por aqui falando dos impactos ambientais causados pelos eucaliptos e a produção de carvão vegetal – gravações essas que foram exibidas em rede nacional no Programa Globo Rural da TV Globo. Sete anos depois a equipe voltaria novamente a Urbano Santos para ver o que mudou para melhor ou para pior. Na conversa de informações deixaram claro que gostariam de filmar uma comunidade que desenvolve a cultura do extrativismo do bacuri e resiste conflitos fundiários em defesa da terra. Daí pensamos logo de imediato no Povoado São Raimundo, pela causa defendida há muitos anos e sobretudo ainda agora que se inicia o período da safra do bacuri.
DOMINGOS FALA DOS BACURIS
Saímos da sede da cidade já quase meio dia, praticaríamos a estrada das Comunidades Baixa do Cocal, Ingá, Santana, Mangabeira, Estiva, Boa União até chegar ao São Raimundo pelos envios caminhos à beira do morro que desce até o rio, eles nunca tinham ido ao São Raimundo, mas já tinham ouvido falar... já tinham lido alguma coisa na internet a respeito daquela comunidade. Os plantios de eucaliptos assombravam a todos, mas percebia-se também que a Suzano já não tem tanta força assim em suas áreas de atuação, pois as ações das comunidades tradicionais no Baixo Parnaíba fez com que a Justiça Federal (Ministério Público) através de uma ação proibisse por lei o alargamento do desmatamento do cerrado para novos plantios de eucaliptos. A militância do Movimento Social já vinha se preocupando e agindo desde décadas passadas, daí os frutos colhidos como resultado desta batalha renhida.
FRANCISCA NA COLHEITA DO BACURI
Na década de 80 quando a monocultura do eucalipto chegava em Urbano Santos trazida pela Empresa Florestal LTDA que depois se chamou “Comercial Agrícola Paineiras – hoje, Suzano Papel e Celulose, as comunidade rurais naquela época confrontaram com a empresa, começando no local onde foi implantado seu primeiro viveiro no Povoado Santo Amaro. Orientados pela Igreja Católica, os trabalhadores rurais já profetizavam o que de certo vem acontecendo nos dias de hoje: a destruição incontrolável das nossas chapadas e o uso intensivo de técnicas adequadas e aplicação de agrotóxicos gerou mudanças no clima, no meio ambiente e na saúde das populações tradicionais.
Comunidades que resistiram os conflitos como foi o caso do Bracinho e São Raimundo passaram a ser mal vistas pelos representantes da empresa. A Associação de moradores da comunidade Bracinho enfrentou os tratores da Suzano em 2011, com o fogo da luta e a união dos
FILMAGEM: CAMPOS DE EUCALIPTO - POV. SANTANA
camponeses na guerra pela terra, o empreendimento capitalista ainda tentou enganar os trabalhadores rurais com 400 hectares de terra - não aceitaram e foram pra cima conquistando dias depois o título de 3.390 hectares para menos de 35 famílias camponesas. Se trabalhavam na terra desde os seus avós muito antes da década de oitenta os trabalhadores rurais do Bracinho tinham a certeza dessa vitória, pois o território é de quem mora nele. Esses problemas são comuns no Baixo Parnaíba, as chapadas foram vendidas por antigos políticos onde os camponeses nem sabem de tal procedimento como aconteceu direito. Como todas as partes do Brasil, por aqui sempre teve e sempre terá conflitos no campo. São Raimundo se tornou modelo nessa luta porque seus moradores se uniram em defesa do bem comum: a terra, o espaço onde praticam extrativismo. O
CAMPONÊS CARREGANDO MANIVA - POV. B. UNIÃO
bacuri, fruta especial das comunidades chapadeiras é uma das fontes de renda destas populações, a espécie já sofre com o problema da extinção em muitos povoados, principalmente nas áreas em que a monocultura do eucalipto é presente. Para os lavradores a terra é um espaço sagrado, os bacurizais e pequizeiros transformados em campos limpos para o plantio de eucalipto e soja é o símbolo da intolerância e da ganancia capitalista no campo. A espoliação e expropriação de terras não visam o desenvolvimento das comunidades rurais e desrespeitam social e culturalmente os modos de vida das comunidades. Os agricultores sempre levaram a sério o processo de racionalidades por serem resistentes nos seus modos de reprodução social e cultural, sempre mantiveram uma relação amorosa no que fazem no extrativismo e nas práticas agrícolas. Os bacurizeiros e pequizeiros são espécies mais conhecidas de nossa região e merecem o devido respeito.
RIO PREGUIÇAS - POV. BOA UNIÃO
A importância dessa matéria sobre a colheita do bacuri nas chapadas das Comunidades São Raimundo e Bom Princípio nos fez refletir sobre o Projeto de Iniciativa Popular que travamos em 2016, encabeçando pelo STTR. Uma proposta de se criar uma lei junto ao legislativo para proibição do desmatamento do cerrado para o plantio de monoculturas e uso de transgenia no município de Urbano Santos, tomando como exemplo as leis de municípios vizinhos que não aceitam a entrada do eucalipto e outras monoculturas agressivas. Com a concretização dessa nova lei municipal, os camponeses só tem a ganhar - os espaços de extrativismo, agricultura e cabeceiras de rios serão mais protegidos longe das monoculturas que tanto destruíram e ainda ameaçam a biodiversidade no Baixo Parnaíba. Se voltamos a sete anos atrás, veremos sem tapar o sol com uma peneira e enxergamos que quase nada mudou para melhor em todas as comunidades rurais. Para não ser pessimista, dizemos que talvez avancemos em alguns pontos.

José Antonio Basto
E-mail: bastosandero65@gmail.com

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