segunda-feira, 3 de agosto de 2015

A saga do Bracinho entre a chapada e o brejal


Foi naquela data de 2011, onde os homens, mulheres, crianças e idosos juntos enfrentaram os tratores da Suzano em defesa do território que há muito tempo já vinham lutando para conseguir aquela área.  A reforma agrária tão sonhada em nosso país em seus pontos determinados, muitos daqueles que gritam vendo a passagem do tempo às vezes deixa até de acreditar em meio a tantas injustiças e desacato aos direitos humanos no campo. Falta de coragem não foi o caso do Irmão Francisco com seu grupo de guerreiros destemidos que estavam dispostos a brigar com a empresa que no inicio da questão até tentou enganar a associação com 400 hectares de terra. Mas algo de errado existia ali, a chapada era e continua sendo muito visada para as plantações de eucalipto e o brejo para a famosa captação de água ilegal nos caminhões-pipa. O pensamento coletivo da associação de requerer todas aquelas áreas não apenas as 400 hectares, mas muito mais para que assim as famílias pudessem trabalhar em paz num espaço suficiente produzindo seus sistemas agrícolas e coletando os frutos que a chapada oferece. Tanto tempo esperando desde os primeiros sentimentos do líder e patriarca da família o saudoso Gabriel Alves de Araújo que deixara seu legado de respeito e dedicação para seus filhos e netos. Não foi por acaso que a associação recebeu seu nome, diga-se de passagem, mas com certeza foi a homenagem mais merecida para tão importante pessoa. Naquele tempo o movimento social ainda estava com forças, as formações de trabalhadores rurais na diocese e nas próprias comunidades... seminários por todo Baixo Parnaíba abriram os olhos das lideranças em não desistir de lutar pelos seus sonhos. O Bracinho, assim como o São Raimundo, Lagoa das Caraíbas e Baixão da Coceira - estes povoados são exemplos na região de resistência contra o sistema agroexportador que sempre destruiu as chapadas, olhos d`água, nascentes lagoas, capões sagrados, bacurizais e florestas em geral. O modelo capitalista de expropriação das terras no Baixo Parnaíba nunca fez nada por estas comunidades tradicionais, além do legado de desrespeito ecológico e social. Em meio a tudo isso ainda há quem diga que o agronegócio assegura mais de 40% da economia no país, ele pode ter mesmo sua parcela de contribuição econômica, mas infelizmente não chega a suprir as necessidades dos homens e mulheres do campo, onde estes camponeses e camponesas das águas e das florestas conseguem através da agricultura familiar sustentar os mais de 65% do alimento que vai para nossas mesas. O povo do Bracinho vem fazendo parte dessa história de lutas: primeiro declararam guerra contra quem queria tomar suas terras, depois conseguiram o título de mais de três mil hectares, um assentamento que assim como tantos outros enfrentam agora outras batalhas burocráticas como é o caso do pagamento do título ao estado no valor de R$ 80.000 mil reais. A concretização da reforma agrária talvez seja a peleja mais árdua que os trabalhadores enfrentam, pelo fato do processo burocrático de atualização de dados nos órgãos competentes, uma vez que o estado nunca perde na jogada, pois já não basta os enfrentamentos, o tempo e derramamentos de sangue pela posse da terra - é neste caso que afirma-se em críticas que no Brasil ainda não foi feito uma reforma agrária massiva como rege o PADRSS – Projeto Alternativo de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário, existe apenas uma rudimentar política de assentamentos fundiários que não consegue atender as demandas – principalmente aqui no Maranhão, sendo o nosso estado um dos campeões em conflitos agrários e socioambientais. Se ver alegria na face da gente moradora do Bracinho que tanto se orgulha de terem lutado lado a lado e concretizado parte de sua vitória: o título (documento) que garante o direito de propriedade coletiva e social para o bem comum de todos e todas. Viva a luta da comunidade Bracinho no território livre do Baixo Parnaíba Maranhense!

José Antonio Basto
Militante dos Direitos Humanos

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