segunda-feira, 20 de julho de 2015

O poder discriminatório do agronegócio nas terras rurais do Baixo Parnaíba Maranhense


lavradores torrando farinha - comunidade Baixa Grande  = Urbano Santos /
imagem: J. A. Basto
A região de 21 municípios do Baixo Parnaíba – na mesorregião leste do nosso estado, grande parte das áreas em sua maioria chapadas é um espaço de disputas fundiárias no que se diz respeito à questão “terra”. O território de descendência cultural das comunidades tradicionais: quilombolas, ribeirinhos, brejeiros e chapadeiros... vem sofrendo um impacto ecológico e social causado diretamente pelo agronegócio do eucalipto e soja. O capitalismo selvagem e devastador puxado e financiado pelo setor agroexportador e apoio dos latifundiários é na verdade o grande responsável e vilão por essas mudanças socioculturais e a “discriminação” das comunidades rurais.
Intolerante além da conta, o agronegócio avança sobre as chapadas do Baixo Parnaíba, muitos assentamentos e áreas que estão em processo de titulações e regularizações para fins de Reforma Agrária são vítimas do veneno diabólico das imensas plantações de eucalipto e soja.
plantio de eucalipto - comunidade Santana = Urbano Santos /
imagem: Fórum Carajás 
Viajando para o município de Santa Quitéria saindo de Urbano Santos passa-se por alguns povoados como Mangabeirinha, Lagoa dos Costa e Bom Fim; naqueles caminhos o calafrio bate n`alma atravessando léguas e léguas de eucalipais. É triste ver as lamentações dos pouquíssimos pés de bacuris e pequis dentro dos campos dos monstros verdes e os disfarces enganosos das miúdas reservas deixadas pelo “EIA RIMA” que nunca funcionou.
plantio de soja no Baixo Parnaíba /
imagem: Fórum Carajás
No fio de comparação é simples entender a realidade, basta respostas para as seguintes perguntas como: Qual é a diferença entre uma comunidade tradicional e a ganancia extrapolada das empresas plantadoras de eucaliptos que usam do poder e da violência para a expropriação das terras?  Entre um bacurizal e um campo de eucalipto ou soja quem tem mais utilidade para o equilíbrio da vida e da biodiversidade? As populações se alimentam de produtos vindos da agricultura familiar ou dos sistemas monocultivistas destruidores dos ecossistemas? Fica mais que óbvio as respostas para tais perguntas. Os muitos problemas agrários e conflitos ainda não foram resolvidos, eles se arrastam e são frutos dos desacatos aos direitos humanos e da vida. Cemitérios são cercados por arames, os camponeses tem que pedir licença para enterrar seus mortos dentro de suas áreas sagradas é constante os casos de 
família camponesa vítima de despejo - Pov. Prata = Urbano Santos /
imagem: J. A. Basto
despejos e ameaças de trabalhadores: a justiça está de qual lado? Os tratores e correntões operam todos os dias cortando árvores do baixo ao auto, assustando e botando pânico nos animais silvestres e nos homens e mulheres defensores e defensoras das chapadas como é o caso do recém-assentamento Bracinho que infelizmente apesar de já ser reconhecido pelo ITERMA, enfrenta pelejas acirradas com a empresa nos arredores dos seus picos e fronteiras demarcadas. Os trabalhadores rurais herdaram dos seus avós e bisavós as áreas de chapadas, matas e brejais, pois desde tempos bem remotos que estas populações tradicionais conseguiram dominar as práticas no extrativismo, pesca e agricultura, conhecem os capões de mato, os buritizeiros, as mangabeiras, puçazeiras e terrenos bons para a casa de subsistência, que não é predatória. Pode-se imaginar que essas terras não tinham fronteiras geográficas como as modernas de hoje em dia, mas possivelmente já existia naquele tempo o chamado respeito. Esses respeito que não se ver mais nesses nossos dias; enxerga-se apenas a ganancia, a globalização e desacatos a cada momento.
roça de arroz - Pov. Prata = Urbano Santos /
imagem: J. A. Basto
As técnicas e saberes culturais das comunidades tradicionais devem ser mais valorizadas, a palavra é essa “valorização”, os produtos da roça são os que sustentam as mesas dos brasileiros, mas infelizmente os recursos destinados aos homens e mulheres do campo são resumidíssimos e quando chegam a valer. Já os grandes planos para a monocultura, estes tem um olhar especial dos governos.
Dona Madalena pelando peixe - Urbano Santos /
imagem: J. A. Basto
A realidade hedionda de maltrato em relação aos camponeses e camponesas só pode ser combatido com um grito alarmante dos movimentos sociais do campo, em Brasília com a Marcha das Margaridas, Grito da Terra Brasil, Grito da Terra Maranhão, espaços e seminários, congressos de trabalhadores e encontros de comunidades rurais, lutas das dioceses e paróquias, centros de defesa da vida, CPT, STTRs e acima de tudo a militância por concretizações de direitos sociais vinte e quatro horas lideradas pelos próprios membros das comunidades junto aos órgãos competentes. O Território Livre do Baixo Parnaíba foi criado e desenvolvido há milhares de anos atrás. Quem dele vive, viveu e sobreviveu com certeza sonhou e sonha que seus filhos e filhas viveriam e sobreviveriam como pessoas dignas de respeito e direitos.

José Antonio Basto
Urbano Santos-MA, 20 de Julho de 2015
Militante em Defesa dos Direitos Humanos e da Vida
(98) 98890-4162

Um comentário:

  1. No Baixo Parnaíba, essas questões socioculturais estão conectadas em torno de narrativas, fios condutores de memórias e lutas do passado em que gerações e gerações de homens e mulheres do campo estiveram e continuam em permanente reconstrução de sua própria história e busca por políticas públicas de acesso a terra, saúde, cidadania e educação. Este blog tem assumido papel relevante ao enfatizar tais questões. Muitas informações precisas José Antonio Bastos.

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